“Política é a via para conseguir as políticas para as mulheres”

O 8 de março desse ano é especial para Iracema Costa, 24, psicóloga, vice-prefeita do município de Boninal, na região da Chapada Diamantina, pelo PCdoB. É que esse é o primeiro Dia Internacional da Mulher que ela passa no Poder, tendo a possibilidade de executar planos de igualdade de gênero e emancipação das mulheres do município, uma bandeira sempre defendida por ela.

Filha de sindicalista e criada em meio a movimentos rurais e de luta pela terra, Iracema já encontra vários desafios pela frente. A começar pelo fato de ser uma mulher, em um espaço majoritariamente masculino, por ter de enfrentar uma estrutura patriarcalista consolidada e também por ser jovem. Mas ela acredita no poder transformador da política e do exemplo e tem consigo duas palavras mágicas: esperança e luta.


– Esse é o seu primeiro cargo no Executivo de Boninal?

Estou ocupando o primeiro cargo do Executivo e o meu primeiro cargo dentro da política. O município não tem tradição de eleger mulheres e, inclusive, se a gente for olhar na Câmara de Vereadores, sempre as vereadoras foram poucas. Atualmente, só tem uma mulher lá.


– A que atribui a essa mudança que te levou à vice-prefeitura?

Acredito que a movimentação atual, em nível nacional e estadual, de emancipação da mulher e a conquista de espaço no Poder, que vem gradativamente crescendo. Isso vem influenciando as mulheres, principalmente em cidades pequenas do interior, como é Boninal, a buscar seus direitos, a conquistar mais espaço, se colocar à frente e mostrar que é capaz, que pode fazer. Essa onda, que começou com a presidenta Dilma, primeira mulher a presidir o Brasil, e com outras mulheres de destaque na política, vem modificando também nos municípios pequenos.

– Apesar das mudanças, as forças conservadoras ainda existem e estão presentes, principalmente, em cidades pequenas. Qual o desafio de ser vice-prefeita, sendo mulher e jovem, no interior?

A primeira palavra é ousadia porque, de fato, em cidades pequenas a questão do patriarcalismo ainda é muito forte. Tem a ousadia, de querer e correr atrás, e também um grande desafio porque não deixa de ter uma grande desconfiança quando você se apresenta como mulher e jovem. São muitas as interrogações em cima de você e do seu trabalho, mas desde a campanha até esse primeiro momento do mandato, as expectativas têm sido positivas e a abertura das pessoas tem sido maior. Eu tenho um grande desafio. Preciso fazer e fazer bem até para estar influenciando e mudando esse paradigma de que a mulher não pode liderar. Eu me vejo, aqui dentro do município, claro que ainda há muito por fazer, mas me vejo como uma pessoa que pode repercutir muito nesse sentido.

– Em que a sua condição de mulher te diferencia e facilita?

Pode parecer clichê, mas o meu perfil é mais pela busca do social, de questões que dependam de uma certa sensibilidade maior, e não que isso seja algo exclusivo da mulher. É do ser humano, mas, talvez pela forma pela qual fomos criadas, a sensibilidade é mais associada à mulher. Sensibilidade para olhar não só para o social, mas também para a igualdade de gênero. A gente não pode pensar em democracia sem igualdade. É preciso buscar a equiparação entre mulheres e homens para que isso caminhe junto.

– O que você, junto ao prefeito, pretende realizar nesse mandato? Há algo para as mulheres?

A proposta, minha proposta, particularmente, é estar atenta a essa questão de gênero. A gente já começou um trabalho, embora não esteja estruturado ainda. Estou montando uma equipe de pessoas interessadas na questão da mulher, o que envolve, principalmente, a questão da autonomia. O que vejo é a dificuldade que as mulheres do município de Boninal têm em relação à autonomia, a poder entrar, de fato, no mercado de trabalho. A gente está pensando na geração de renda. Muitas dessas mulheres são as provedoras de suas casas, são trabalhadoras do campo, porque o município é rural. Vamos tentar organizar essas mulheres para construir um espaço de igualdade, em relação aos homens e sendo valorizadas, na política, na família, na agricultura, como trabalhadoras. Tenho essa preocupação e, principalmente, com relação às jovens, que não têm muitas possibilidades. Como criar essas possibilidades? A gente sabe que a política é a via para conseguir as políticas para as mulheres dentro dos municípios. É uma preocupação e um grande desafio, meu e de Vitor [Paiva, o prefeito].

– Esse é o primeiro Dia da Mulher que você passa no Poder. Qual a sensação?

Além de estar agradecida pela confiança que as pessoas depositaram em mim, é uma sensação do desafio, mesmo, de poder. Tenho a obrigação de estar voltada para as várias questões que a gente tem aqui no município. Estou motivada pelo grande desafio que tenho, nesse momento. A expectativa, além de ser geral, é também muito pessoal. A palavra é esperança, de estar fazendo e luta, de estar construindo, de estar fazendo os primeiros alicerces de uma construção que espero que seja imensa. Sei que não posso fazer sozinha, mas posso dar os primeiros passos para isso.

De Salvador,
Erikson Walla