Nágyla Drumond: O feminismo emancipacionista persiste!

Por Nágyla Drumond

Dia agitado: muitas manifestações, entrevistas, caminhadas, atos públicos, enfim… O 8 de março de luta resiste (e questiona) a conotação do mercado com todas as suas flores, perfumes, lembrancinhas e tudo mais. O dia é de marcar conquistas, questionar as dívidas históricas que a Sociedade e o Estado têm para com as mulheres, no mundo inteiro e apresentar, quantas vezes for preciso, que a pauta de lutas das mulheres se entrelaça à luta do povo e o que nós queremos é invadir a esfera pública, para protagonizar transformações que o mundo e as mulheres necessitam, urgentemente.

Do alto dos meus 36 anos, metade deles dedicados ao movimento feminista, digo que o que queremos é revolucionar, gritar, bradar, sorrir e cantar, mesmo que nossas vozes agudas, muitas vezes não sejam sequer ouvidas ou levadas em consideração. Hoje, o movimento feminista tem como, talvez, maior desafio, sair da solidão política da qual, muitas vezes, padece. O estabelecimento de diálogo e ação políticas mais unitárias, inclusive com os demais setores do movimento social é de central importância para fortalecimento de nossa luta.

No entanto, é necessário deixar claro que unidade e luta se fazem dentro do campo de diferentes, de adversários políticos, até; mas, nunca junto a reacionários (as) ou a pseudo-revolucionários (as), que se encontram com muita facilidade em discursos e práticas demagógicas, narcisistas e sectárias. Estes não conseguem (ou não querem) entender o conceito de unidade, em sua essência plural e democrática, com objetivo claro de fazer alianças, não-automáticas; pontuais ou permanentes, a fim de pressionar para que se avance nas conquistas de curto, médio e longo prazos. A realidade concreta é nosso leito de análise e é nosso campo de batalha. Não há outra forma de transformar a realidade senão por dentro dela. Ninguém faz revolução, nem da lua; nem das alcovas mais escondidas, nem se negando a debater ou querendo que todo mundo se cale mediante sua vontade, quase que de realeza.

Outro grande desafio é o de fazer da trincheira institucional governamental uma via de luta para implantar as tão necessárias e urgentes políticas públicas que nos atendam em nossas especificidades, mas que também contribuam para as reais mudanças estruturais, necessárias ao nosso país. No entanto, não nos acomodemos nas casas legislativas, não nos apeguemos às gestões públicas como se fossem a única e exclusiva forma de transformar a vida das pessoas, embora joguem um papel tão importante, principalmente depois de 10 anos de governos mais populares e democráticos. Negar os avanços que o Brasil vem tendo em muitos campos de batalha é tão débil quanto não enxergar que ainda há muito, mas, muito mais a ser feito, conquistado e assegurado.

Neste 8 de março, reafirmemos a atualidade do feminismo emancipacionista! Reafirmemos que em nosso horizonte estratégico está a superação do capitalismo como modo de produção da vida. Defendemos a vida plena de mulheres e homens, acreditamos num outro mundo, onde as relações sociais não sejam pautadas pelo consumo, o mercado e o narcisismo político. Aprendemos a chamar este mundo de Socialismo. Continuamos em luta, sempre, mesmo sabendo que não seremos testemunhas da aurora do novo dia. Nosso papel mais imediato é o de não perder o rumo (nem o prumo) e o de garantir que as gerações de mulheres, inclusive a geração das nossas filhas, já possam usufruir de conquistas que ainda não asseguramos: a igualdade entre homens e mulheres no mundo do trabalho; a liberdade religiosa; a liberdade sexual; a valorização étnica-racial; a não intervenção estatal, medicinal, religiosas e midiáticas conservadoras sobre nossos corpos tão apelidados, bestilizados e traficados.

Lutemos por nós, por elas e por cada uma de nós!

*Dedico este breve texto às mulheres latino-americanas, em especial às mulheres venezuelanas que serão fundamentais na continuidade e aprofundamento da Revolução Bolivariana e no papel que o Presidente Comandante Hugo Chávez jogou na integração da América Latina.

*Nágyla Drumond é socióloga, professora universitária, Secretária Estadual de Movimentos Sociais do PCdoB/CE, membro da Coordenação Estadual da UBM/CE e preside o Centro Socorro Abreu.

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