PCP: Os políticos e os partidos não são todos iguais

Comemoramos hoje o aniversário de um Partido com uma história ímpar de luta ao serviço dos trabalhadores, do povo e do país. Um partido com um percurso de coragem e dedicação sem limites à causa emancipadora da classe operária e dos trabalhadores, do nosso povo, à causa do socialismo e do comunismo.

Por Jerônimo de Sousa*

Partido que desde a sua criação foi sempre capaz, com os trabalhadores, com o povo e a sua luta, de ultrapassar os mais sérios obstáculos, as mais perigosas conjunturas, os mais sérios desafios e de colocar todas as suas forças, o saber e a dedicação dos seus militantes na concretização dos objetivos que melhor serviam o nosso povo e o nosso país.

Um Partido que com sua intervenção deu um contributo inestimável, nos quase cem anos da sua existência, para fazer andar a roda da história no sentido do progresso, da liberdade, da democracia, da elevação das condições de vida dos trabalhadores e do povo e do seu direito soberano e inadiável a escolher os caminhos do seu futuro.

Um Partido que se reafirma hoje como uma força viva, atuante, combativa, ligada à vida, capaz de ombrear com as mais exigentes tarefas e desafios, como ficou patente no 19º Congresso que há pouco o PCP realizou.

Um congresso que mostrou que os trabalhadores e os portugueses, podem contar com um Partido que sabe o terreno que pisa, que conhece o país e o ouve e age na rua, nas empresas, nos locais de trabalho, nos campos, nas instituições e sempre e sempre assumindo a defesa dos interesses populares.

Um Partido preparado e capaz de assumir todas as responsabilidades que o nosso povo lhe queira confiar.

Um Congresso que mostrou um Partido unido, coeso à volta das soluções para os graves problemas que o país enfrenta, que revelou ter soluções para o país, e que apontou os caminhos para um Portugal com futuro. Que aprovou um Programa e uma política alternativa à política de direita para enfrentar a crise e libertar o país da submissão ao estrangeiro e ao grande capital monopolista.

Um programa estratégico para a concretização de um verdadeiro programa de desenvolvimento do país e cuja realização é igualmente indissociável da luta que hoje travamos pela concretização da ruptura com a política de direita e da materialização de uma política patriótica e de esquerda.

O Programa de uma Democracia Avançada – os valores de Abril no futuro de Portugal, assim se chama, porque é na afirmação de tais valores que se projeta a sociedade que propomos ao nosso povo construir e no qual se define um regime assente numa democracia simultaneamente política, econômica, social e cultural.

Somos o Partido que somos, porque este Partido nasceu da vontade, da necessidade e decisão da classe operária portuguesa e dos trabalhadores, e para ser parte integrante da sua luta e dos seus objetivos de emancipação, e porque no seu seio pode contar com intrépidos revolucionários, como Álvaro Cunhal, de quem neste ano de 2013, se comemora o centenário do seu nascimento.

Uma justa e incontornável homenagem ao homem, ao comunista, ao intelectual, ao artista, personalidade central da história contemporânea de Portugal e que se afirmou como uma referência na luta pelos valores da emancipação social e humana, no país e no mundo.
Uma homenagem que tem por base a identificação de Álvaro Cunhal com o seu Partido e o seu projeto, em que a força do seu exemplo se combina com a ação e intervenção do nosso Partido.

A força do seu exemplo que se vê na sua história pessoal de combatente pela liberdade, a democracia e o socialismo. Uma história de vida que dá força ao prosseguimento do combate que foi o dele, e é hoje nosso, em demanda da concretização do ideal e projeto comunistas.
Uma história de intervenção e de luta que percorrerá com uma indomável determinação e grande abnegação, resistindo às mais terríveis e duras provas em dezenas de anos de vida clandestina e prisão, com dignidade e grande coragem.

Um percurso de setenta anos, de intervenção nas diversas e exigentes condições, na clandestinidade, no processo revolucionário de Abril, na condução da resistência à contrarrevolução, como dirigente do Partido, como deputado, como ministro.

A força do exemplo que se pode encontrar na inteireza de caráter, na sua vida de coerência, firmes convicções e ação, de dirigente político experimentado, possuidor de uma densa cultura e dimensão humanista.

A força do exemplo de quem se afirmou como uma referência na luta pelos valores da emancipação social e humana também no mundo e que se tornou uma referência no movimento comunista internacional que se expressou na sua ampla e diversificada contribuição para o seu fortalecimento, de apoio ao movimento de libertação nacional, à luta pela paz e de estímulo ao processo de emancipação dos trabalhadores e dos povos.
A força do seu exemplo pode mostrar-se e revelar-se no valioso legado da sua multifacetada atividade, na riqueza, diversidade e profundidade do seu trabalho teórico e intervenção política, mas igualmente para a sua laboração criadora cultural e artística.

Uma abundante produção que não é apenas patrimônio do Partido, mas de todos os que aspiram ao conhecimento e à concretização de um mundo melhor e mais justo.

O homem e o revolucionário que dignificou a atividade política, que a confirmou como uma atividade exemplar que é, e que mostra que os políticos e os partidos não são todos iguais. Que há quem sirva o país e o povo, renunciando a privilégios. Que há um Partido que resgata o que de mais nobre tem a política, não para se servir a si próprio, mas para servir os trabalhadores, o povo e o país.

Realizamos o aniversário do PCP num quadro de sistemático declínio do país, de catástrofe social, depressão econômica e agravamento acelerado de todos os problemas nacionais.
Uma situação que confirma todas as nossas opiniões e previsões acerca da evolução do país em consequência da errada, evitável e ilegítima decisão de acorrentar o país a uma intervenção estrangeira e à sua dependência.

Nós dissemos ao PS e ao seu governo, em 5 Abril de 2011, antes da assinatura do Pacto de Agressão que firmaram com o FMI, a UE e o BCE: Não façam isso! Não vão por aí, essa não é a solução e muito menos a solução inevitável. A solução é propor renegociar a dívida e mudar de política, pondo Portugal a produzir, a crescer e a distribuir melhor a riqueza e com mais justiça!
Nós dissemos que era preciso resistir às pressões dos falcões da política de austeridade e à gula dos especuladores, dos banqueiros que haviam ganho e distribuído fortunas colossais com os seus negócios de agiotagem e especulação.

Que a força não estava, nem está apenas no lado dos credores, está também do lado dos devedores!

Que o povo não tinha que pagar os prejuízos de uma banca, cujos banqueiros e acionistas tinham posto a salvo os seus milhões e exigiam agora dinheiros públicos para cobrir os seus desmandos.

Nós dissemos que este era o caminho do desastre, do aprofundamento da recessão, do desemprego, da degradação social e da destruição do país, como o indiciavam já os PEC das medidas de austeridade.

Não nos quiseram ouvir! O PS e o seu governo preferiram chamar PSD e CDS, os seus companheiros de caminho e de alternância de 36 anos de política de direita e da crise e, concertados, impor ao país com eleições à vista, um inaceitável Pacto com a troika estrangeira contra o povo e o país. O PS acusa-nos de ter votado contra o PEC IV, nunca dizendo qual o seu verdadeiro conteúdo e objetivos.

Concertou-se com esses mesmos partidos que ávidos de desforra contra Abril, viam aqui a oportunidade de levar longe o seu velho projeto de subversão do regime democrático e anulação de todas as conquistas populares.

O conteúdo do Pacto de Agressão que assinaram não deixava dúvida: liquidação de direitos laborais; ataque aos salários e rendimentos do trabalho, às prestações sociais e às reformas; destruição de serviços públicos de saúde, educação, segurança social; ataque ao poder local; venda indiscriminada do país. Era isto que era também o PEC IV do PS!
Dois anos praticamente passados e os resultados desse espúrio Pacto são visíveis na situação do país e na vida dos portugueses.

Recessão económica profunda, com uma destruição brutal da capacidade produtiva do país. O valor acumulado e em quebra do PIB, desde 2011, estará no final deste ano próximo dos 8%. Desemprego como nunca tivemos e a crescer a um ritmo avassalador. O ritmo é tal que, entre o final do ano e o fim do mês de Janeiro, o país toma conhecimento de que a taxa de desemprego saltou de 16,9% para 17,6%, segundo o Eurostat. É uma tragédia para milhares de portugueses e para o país. Mais de metade não recebe subsídio de desemprego. Desde que este governo do PSD/CDS tomou posse foram destruídos mais de 400 mil postos de trabalho. Avoluma-se a precariedade, a emigração cresce como há muito também não se via e o país fica sem os seus jovens, cujo desemprego atinge os 40%. Nos últimos três anos o investimento público caiu cerca de 50% com um impacto muito negativo na atividade de milhares de pequenas e médias empresas dos mais variados setores que se veem confrontadas com dois problemas: sem clientes e sem crédito.

Os problemas sociais assumem uma dimensão cada vez mais dramática, não apenas em resultado do elevadíssimo desemprego, mas também em resultado da acelerada degradação dos rendimentos das classes e camadas populares, pela via do ataque aos salários, às reformas, às prestações sociais, aos direitos sociais e laborais, agravando as desigualdades e fazendo crescer as situações de pobreza extrema, puxando para baixo camadas intermédias da população.

Desde o início deste governo os cortes nos apoios sociais, atingem 3,7 bilhões de euros. A sistemática redução dos rendimentos, o aumento dos impostos e dos preços dos bens e serviços essenciais estão a conduzir ao empobrecimento generalizado dos portugueses. A dívida pública, por sua vez continua a crescer, atingindo já 122% do PIB e a fatura dos juros agiotas tem um peso crescente no valor do défice. O país fica exaurido, sem meios para promover o seu desenvolvimento e ao mesmo tempo sem património com a sua venda ao desbarato.

Uma realidade brutal que não pode ser iludida por mais inventados sucessos que o governo anuncie. De um governo que tem ainda a ousadia de afirmar que o país segue na direção certa!
O país não aguenta mais!

O governo está a levar o país para o naufrágio. Tudo assume uma dimensão cada vez mais assustadora a exigir um urgente ponto final neste governo e nesta política.

Diziam que era o único caminho e enganaram os portugueses. Nenhum problema foi resolvido, tudo se agravou e ainda mais se agravará à medida que o Orçamento de Estado do presente ano de medidas de confisco se for concretizando. Dois meses de execução orçamental e confirmou-se o fiasco de todas as previsões. Ainda o ano começou e já se estão a preparar para acionar um Plano B de cortes sociais de 800 milhões de euros, numa espiral de austeridade e de medidas de concentração de riqueza.

É preciso travar este rumo para o abismo. Isso exige a rejeição do Pacto de Agressão e não medidas de cosmética desse Pacto, continuando o afundamento do país.

Perante o fiasco desta política, todos os subscritores do Pacto de Agressão, os da troika estrangeira e os da troika nacional, sem exceção, manobram, pondo em prática a velha solução “é preciso que algo mude para que tudo fique na mesma”.

É nesse exercício que andam todos empenhados. O exercício da mistificação que quer dar a ilusão de que é possível resolver os problemas mantendo o Pacto e seguindo a mesma política de sempre.

Aproveitam a 7ª avaliação do Pacto e a presença da troika estrangeira para ensaiarem e darem público relevo às suas falsas soluções de combate à crise.

O governo do PSD/CDS vem agora, depois de o ter negado, pedir mais algum tempo, nomeadamente para o pagamento da dívida – um pedido de uma mini renegociação envergonhada de uma pequena parte da dívida europeia –, num esforço de sobrevivência para garantir as condições para levar até ao fim o seu programa de desmantelamento e destruição.
Medidas de adiamento de pagamento não se traduzem em qualquer alívio significativo.
Não são os problemas do país que os leva a fazer tais propostas, nem tão pouco o propósito de aliviar o peso das medidas de penalização do povo, essas continuam, com a consideração de um programa brutal de cortes de 4 bilhões de euros nas funções sociais do Estado.
Um programa que, na mesma lógica de sobrevivência, querem agora aplicar diluindo-o no tempo.

Não é o corte de 4 bilhões do dito programa de refundação do Estado já de uma vez, é por duas ou três. Não é a morte abrupta e violenta que agora preconizam, é a liquidação por fases.
Um programa de extorsão dos trabalhadores e do povo que, a concretizar-se como foi anunciado no relatório do FMI, encomendado pelo governo, seja em um, dois ou três anos se traduzirá sempre num brutal ataque aos rendimentos dos trabalhadores, na destruição de direitos sociais essenciais à vida do povo, num colossal saque aos recursos e riqueza nacional.

Um programa que significará um novo e mais brutal ataque aos trabalhadores da Administração Pública com novos cortes de salários e despedimentos. Num novo ataque à educação, aos seus profissionais e aos alunos, com novos aumentos de propinas. Ataque ao SNS e ao direito à saúde com novos aumentos de taxas moderadoras, redução do leque de cuidados de saúde, cortes nos medicamentos. Novas reduções no valor das pensões, no subsídio de desemprego, nas prestações sociais. Um autêntico programa de terrorismo social!
O que preparam no quadro da 7ª avaliação é a continuação do caminho do desastre.

É a continuação para lá de 2014 do Pacto de Agressão das troikas, sem a presença da troika estrangeira ,e que se transformará em mais recessão, mais desemprego e em mais uma nova e brutal machadada na vida dos portugueses.

É a política de direita de desvalorização do trabalho, de ataque aos direitos sociais, de destruição dos setores produtivos, de concentração de riqueza, de venda do país, agora dos CTT, da Água, entre outros, que continua no pós-troika.

O país não vai a lado nenhum com esta política de eternização do Pacto de Agressão e da sua política.

O PS, por sua vez, manobra para dar ares de oposição, faz propostas e escreve cartas, sem pôr em causa o que é essencial – o pacto e as políticas que o suportam.

Querem resolver a quadratura do círculo. Manter a política de austeridade, da ditadura do défice e ao mesmo tempo realizar a impossível tarefa de promover o crescimento e emprego – a chamada fórmula da “austeridade inteligente”.

O “Documento de Coimbra” de conciliação entre Costa e Seguro e que define a orientação do PS para o futuro não deixa dúvidas acerca da verdadeira natureza das suas propostas de alternância e não de alternativa ao atual governo. Desde logo, pela recuperação da “herança de Sócrates”, assumida como positiva, nomeadamente o seu dito movimento de reformas e modernização do país. Isto é, do movimento de contrarreformas que abriram as portas e deram um novo impulso no ataque ao direito à saúde e à educação (encerramentos, cortes, concentração de serviços), à segurança social (com o ataque que iniciou às reformas através da introdução do factor de sustentabilidade e do condicionamento da sua actualização ao crescimento económico e às prestações sociais, com a chamada lei da condição de recursos).
Uma “herança” de privatizações por atacado, de ataque ao subsídio de desemprego, de alteração para pior do Código de Trabalho e o que mais se foi embrulhando nos sucessivos PEC da austeridade para o povo que continuariam hoje se Sócrates não se tivesse demitido.
Um documento com “muita parra de alternância e pouca uva alternativa”, onde tudo se poderá resumir a duas ideias: – à reestruturação do Pacto de Agressão, entendida apenas como renegociação de uma parte do empréstimo da troika, na esteira do que pretende hoje o governo e numa hipotética salvação vinda da União Europeia, com mais federalismo e um Orçamento Comunitário reforçado. Esse mesmo Orçamento que desde 2006 vem diminuindo e que o consenso dos governos das duas famílias políticas europeias – a do PS e a do PSD/CDS -, acabam de propor continuar a diminuir para os próximos sete anos – confirmando e consolidando o triunfo das políticas de austeridade.

É desta União Europeia que pensam pode vir a solução – da União Europeia das imposições supranacionais e das políticas neoliberais do Tratado de Lisboa, da governação econômica e do Tratado Orçamental da dita “regra de ouro” que melhor seria chamar-se “regra de chumbo” com a imposição de um défice estrutural de 0,5%, condicionando e impedindo países, como Portugal, de decidir das políticas que melhor servem para o desenvolvimento do país.

O voto favorável do PS a esta regra na Assembleia da República, juntamente com o PSD e CDS revela um compromisso de fundo com o modelo neoliberal de eternização das políticas antissociais e de austeridade, ou seja, o prosseguimento da agressão de que hoje o país e os portugueses são alvo, através de outros instrumentos. Um compromisso que se traduz no prolongamento do atual Pacto de Agressão, com a substituição da troika, pelo Diretório das grandes potências.

Não é por acaso que, em tal documento de orientação do PS, não se assume a devolução dos direitos retirados por este governo, nem se enuncia de forma clara a intenção de corrigir as malfeitorias deste governo do PSD/CDS, dando como adquirido para todo o sempre o que foi extorquido aos trabalhadores e ao povo.

Para o PS não é a política que conta, é o puro taticismo eleitoralista a pensar no poder a todo custo!

É bom que se diga, desde já, que um governo com uma verdadeira política alternativa e não de mera alternância não poderá deixar de restituir ao povo o que é do povo.

Um governo patriótico e de esquerda não poderá de deixar de assumir esse compromisso. Nós não desistiremos da reposição dos direitos sociais e laborais usurpados, repondo o direito ao trabalho com direitos! Nós não desistiremos da exigência da reposição dos salários, das reformas, dos subsídios de desemprego, de Natal e de férias. Não desistiremos da anulação das medidas de confisco dos rendimentos de trabalho!

São as soluções de mera alternância e as suas políticas do “vira o disco e toca o mesmo”, são estas as falsas alternativas que alimentam o populismo antipartidos à “tiririca” ou à italiana de Grillo e que abrem campo à perigosa tese de que os partidos são todos iguais e estão a mais, metendo todos os partidos e todos os políticos no mesmo saco.

São estas soluções de falsa alternativa que promovem as perigosas campanhas, visando a própria democracia e que se escondem atrás de uma fraseologia radical antissistema político, da ideia de que o problema está nos deputados a mais ou na sua ligação aos eleitores, escamoteando o conteúdo das políticas e a quem servem, com o objetivo de impedir que a verdadeira alternativa surja.

Nós sabemos! Só a luta dos trabalhadores e do povo podem salvar o país, derrotar esta política, este governo do PSD/CDS e o Pacto de Agressão, e assegurar as condições para o surgimento de uma verdadeira alternativa de ruptura com a política de direita – uma alternativa alicerçada nos valores de Abril.

Pôr fim ao rumo de afundamento nacional é hoje inseparável da demissão de um governo sem credibilidade, da devolução da palavra ao povo através de eleições antecipadas e da concretização de uma política patriótica e de esquerda que rompa com o ciclo da política de direita.

Esta é a primeira e mais urgente medida para assegurar o futuro do país e dos portugueses.
Este é um governo que há muito perdeu a legitimidade para governar. É um governo sem legitimidade porque enganou o povo, fazendo o contrário do que prometeu. É um governo sem legitimidade porque não resolve os problemas do país. Sem legitimidade porque a sua política segue ao arrepio da lei fundamental. Sem legitimidade, porque tem contra ele e contra a sua política a larguíssima maioria do povo, incluindo muitos dos que nele votaram, como bem se expressa nas grandes lutas que têm sido travadas.

Um governo que o país não quer!

E o país tem-no dito de forma muito expressiva nestes últimos meses com as suas ações de protesto e luta. Disse-o a 16 de Fevereiro na Ação Geral de protesto e luta da CGTP, realizada por todo o país, disse-o no passado dia 2 de Março, novamente, em 40 localidades do país com centenas de milhares de participantes, e está a dizê-lo todos os dias e vai continuar a dizê-lo nas lutas que estão em curso nos mais variados setores, nos transportes, na Administração Pública que no próximo dia 15 sairá à rua numa grande manifestação nacional, na juventude que no próximo dia 27 realizará uma manifestação nacional de protesto.

A luta cresce, alarga-se e não vai parar até à derrota deste governo. Os trabalhadores e o povo não vão descansar. É intensificando a luta que vamos lá! Todas as lutas contam, as pequenas e grandes lutas, que hoje se travam nas ruas, nas empresas, nos campos. Todas são importantes para reforçar a torrente de protesto e exigência de demissão do governo e de uma nova política – patriótica e de esquerda!

Uma política que é não só necessária, como possível se cada um tomar em suas mãos a vontade de a concretizar e de lhe dar sentido.

Uma política patriótica e de esquerda que coloca como tarefa prioritária o combate à profunda crise econômica e social que atravessa o País e que pressupõe dar uma resposta imediata em seis direções essenciais:

Rejeição do Pacto de Agressão, contrapondo a renegociação da dívida pública de acordo com os interesses nacionais, desamarrando o país da submissão e colonização a que está sujeito.
Recentrar todo o esforço da política econômica e financeira e do investimento do país na promoção e desenvolvimento da produção e riqueza nacionais com criação de emprego, a valorização do trabalho e dos trabalhadores e dos seus direitos, e a garantia de uma justa distribuição da riqueza criada.

Alteração radical da política fiscal, rompendo com o escandaloso favorecimento do grande capital econômico e financeiro.

Administração e serviços públicos ao serviço do país capazes de garantir o direito à saúde, à educação, à proteção social dos portugueses.

A recuperação pelo Estado do comando democrático da economia, pondo fim às privatizações e garantindo a efetiva subordinação do poder econômico ao poder político.

Assegurar a libertação do país das imposições supranacionais de política econômica, social e financeira, contrárias ao interesse do desenvolvimento do país, nomeadamente rompendo com os estrangulamentos da União Econômica e Monetária e do Euro.

Uma política patriótica e de esquerda que precisa de um governo patriótico e de esquerda para a concretizar.

O País não está condenado ao ciclo vicioso do rotativismo da alternância sem alternativa dos partidos da troika, subscritores do Pacto de Agressão. O país não está condenado a ter que escolher entre permanecer na frigideira ou saltar para o lume. Há outras soluções e outras saídas possíveis.

Como o PCP, há centenas de milhares de patriotas e democratas, centenas de milhares de trabalhadores e de outros portugueses, centenas de organizações sociais e de massas que sabem que é tempo de pôr termo a esta política, que é possível um outro caminho, que olham com esperança essa profunda aspiração de ver no país uma política patriótica e de esquerda.
É a todos esses portugueses, a todas essas organizações de classe e de massas; aos setores e forças progressistas e de esquerda sincera e genuinamente interessados em romper com a política de direita, que o PCP continua a dirigir-se e a disponibilizar-se para debater e aprofundar os caminhos da concretização da alternativa, em torno de uma política patriótica e de esquerda.

Está nas mãos do povo português, da sua vontade democrática, na sua determinação em construir uma outra política identificada com os valores de Abril no que eles significam de transformação, conquista, participação e uma vida melhor.

A todos dizemos – podem contar com o PCP, com a sua dedicação e entrega na defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores e do nosso povo.

São grandes e exigentes as tarefas que a atual situação coloca ao PCP. A este Partido necessário e indispensável para mudar o rumo do país. Partido necessário e indispensável que se impõe reforçar, porque do seu reforço não só dependerá a garantia da defesa dos interesses dos trabalhadores e dos interesses populares, mas o êxito da tarefa da construção em Portugal de uma alternativa política e de uma política ao serviço dos trabalhadores, do povo e do país.

Num momento tão difícil na vida do nosso povo, esse reforço, a todos os níveis, é vital para conduzir a luta que se impõe em todas as frentes. Na frente do trabalho unitário e no desenvolvimento da luta e das organizações e movimentos de massas. Na intensificação da intervenção política do Partido visando a urgente derrota do governo e da política de direita. Na preparação e realização das eleições para as autarquias locais, afirmando a CDU, o seu projecto e o seu património de obra realizada. Mas igualmente na impreterível ação de reforço da organização do Partido concretizando as conclusões do 19º Congresso.

Desde logo visando o reforço das suas fileiras. A luta precisa de mais militantes dedicados à causa dos trabalhadores e do povo. Muitos têm sido aqueles que têm vindo, tomando partido neste combate sem tréguas que travamos contra a exploração, as injustiças e pela construção de uma sociedade nova. Muitos mais são precisos e por isso nós dizemos, neste momento em que o nosso povo é flagelado por uma ofensiva brutal, juntem-se ao PCP, o futuro de que precisamos depende da vossa intervenção organizada e confiante neste Partido necessário, indispensável e insubstituível.

Juntem-se e liguem-se aos muitos milhares de comunistas que estão neste combate que travamos para fazer o país retomar, com a luta do nosso povo, a direção do progresso e do caminho de Abril.

Juntem-se e venham tornar mais forte o PCP. Mais forte na organização e intervenção nas empresas e locais de trabalho e na estruturação das organizações de base local.
Mais forte para intervir lá onde se trava e se desenvolve a luta dos trabalhadores, da juventude, dos intelectuais e das massas populares, lá onde residem as causas e os destinatários principais da razão de ser deste Partido Comunista.

Mais forte no plano político e ideológico, na ligação às massas, na dinamização da propaganda, da imprensa e dos meios de comunicação.

Mais forte na recolha de fundos para o partido, alargando as receitas próprias, elemento indispensável para a sua intervenção e independência.

Neste momento de comemoração, mais uma vez afirmamos a natureza do partido comunista que somos e queremos ser. Um Partido que afirma e reafirma a sua natureza e identidade comunista na concretização de uma política patriótica e de esquerda, em ruptura com a política de direita e o Pacto de Agressão, por uma democracia avançada, por uma sociedade nova, liberta da exploração e da opressão – o socialismo e o comunismo.

Sabemos que o percurso é muito difícil. Mas unidos e determinados e com a luta do nosso povo seremos capazes de abrir os caminhos da esperança para um Portugal com futuro!

Eles que decretaram a nossa morte, o nosso declínio, esqueceram-se que uma causa, um ideal nunca morre enquanto existirem homens, mulheres, jovens que por eles lutam. Sempre e sempre!

Viva a solidariedade internacionalista!
Viva a luta dos trabalhadores e dos povos!
Viva a juventude e a JCP!
Viva o PCP!

*Secretário-geral do Partido Comunista Português; discurso pronunciado neste sábado (9) no ato de comemoração do 92º aniversário da fundação do Partido, transcorrido no dia 6 de março.