Altamiro Borges: Merval e a falta de pudor dos juízes

Para quem duvida do pacto firmado entre os barões da mídia, a oposição tucana e setores do Judiciário, a foto do lançamento do livro “Mensalão”, do jornalista Merval Pereira, nesta semana em Brasília, é bem emblemática.

Por Altamiro Borges, em seu blog

 O “imortal” da Academia Brasileira de Letras e fiel escudeiro da famiglia Marinho aparece ladeado pelo senador mineiro Aécio Neves, o cambaleante presidencial do PSDB, pelo ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres de Britto, e pelo sinistro Gilmar Mendes.

Os dois juízes foram vedetes no julgamento do chamado “mensalão do PT”, rigorosamente cronometrado para interferir nas eleições municipais de outubro passado. Já o grão-tucano, apesar do seu envolvimento no “mensalão mineiro”, explora ao máximo o resultado do julgamento midiático como trunfo para a campanha de 2014. Na amarração da tudo, a Rede Globo de Merval Pereira deu a munição para o STF, julgando e fuzilando previamente os réus da ação penal 470, e continua alimentando a oposição demotucana.

O livro de Merval Pereira, uma coletânea de artigos publicados no jornal O Globo, é mais uma peça desta ação orquestrada. A presença das três figurinhas no seu lançamento é prova disto. Vale lembrar que a obra inclusive é prefaciada pelo ex-presidente do STF, Ayres de Britto. Apesar do poderoso pacto, o “calunista” da Rede Globo lamenta que esta ação não tenha surtido os efeitos desejados. Em recente entrevista ao “GloboNews Literatura”, ele expressou sua frustração com a derrota de José Serra nas eleições paulistanas.

Mesmo assim, chama a atenção a presença de Ayres de Britto e Gilmar Mendes no lançamento em Brasília. Como apontou o jornalista Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo, a participação de ambos fere a ética jornalística e coloca em dúvida a isenção do Judiciário. “O pudor, se não a lei, deveria impedir este tipo de cena… Que isenção se pode esperar da Justiça brasileira em casos relevantes que porventura envolvam Merval e, mais ainda, a Globo? Mas o pudor se perdeu há muito tempo”.