José Reinaldo: Traços da situação internacional – Parte 4

A ofensiva das potências imperialistas se volta para todas as regiões do planeta e ameaça indiscriminadamente os povos e nações, mas na atualidade concentra-se na região do Oriente Médio. 

Por José Reinaldo*

O sentido principal dessa ofensiva é executar, dar concretude e continuidade ao plano de reestruturação do Oriente Médio, para viabilizar o aumento da presença do imperialismo na região, visando a dominar as riquezas estratégicas ali existentes e a obter posições vantajosas na luta pela hegemonia no mundo.

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A agressão à Líbia, o prosseguimento da ocupação do Afeganistão, os bombardeios sistemáticos com aviões não tripulados “Drones” na fronteira deste país com o Paquistão, a intervenção na Síria, com a alimentação em dinheiro, propaganda, armas e mercenários, assim como a campanha midiática, as pressões diplomáticas e políticas pela derrubada do presidente Assad; o prosseguimento da política de ocupação, colonização, limpeza étnica e terrorismo de Estado de Israel contra o povo palestino, com o apoio explícito do imperialismo estadunidense; as provocações sistemáticas contra o Irã – tudo isto são expressões das políticas intervencionistas do imperialismo, que afetam a soberania nacional, a segurança internacional e a paz. Os comunistas são solidários com a luta heroica do povo palestino contra a política genocida e opressora do Estado de Israel, que usurpa suas terras e o submete a uma cruel forma de neocolonialismo. Defendemos o sagrado direito deste povo à constituição do seu Estado independente e soberano, nas fronteiras anteriores à guerra de 1967, com capital em Jerusalém Leste e o retorno dos refugiados, conforme decisão da Organização das Nações Unidas.

Igualmente, os comunistas nos manifestamos solidários com o povo sírio, hoje sob ameaça de intervenção militar pelas potências imperialistas que hipocritamente levantam a bandeira dos “direitos humanos” e da democracia, mas acalentam o objetivo de derrocar o governo constitucional do país, a fim de ocupar mais uma posição estratégica na região do Oriente Médio. Os comunistas brasileiros são solidários com o povo da Síria, vítima de um movimento orientado, instigado, financiado, instrumentalizado e armado do exterior, a partir das potências imperialistas e forças regionais, para derrubar o governo do presidente Assad como etapa de execução de um plano imperialista de recolonização de todo o Oriente Médio.

Não são forças democráticas e sociais internas lutando para “melhorar” o país. São mercenários, que recorrem mesmo ao terrorismo em nome de objetivos que nada têm a ver com direitos humanos, democracia ou conquistas sociais. Está patente a agressividade imperialista na região do Oriente Médio, com o recurso a métodos brutais, a mobilização de mercenários que não hesitam em praticar atos terroristas contra a população civil, criar o caos e destruir a infraestrutura do país.

Os Estados Unidos, a União Europeia, e seus aliados na região estabeleceram uma estratégia cujo fim é a intervenção militar, a ocupação e a desagregação da Síria. Taticamente, lutam no terreno diplomático para obter um mandato nessa direção por parte do Conselho de Segurança das Nações Unidas, ao mesmo tempo em que sabotam toda iniciativa de diálogo e paz feita sob a cobertura desse organismo.

O que está por trás da intervenção imperialista na Síria – hoje através de mercenários financiados e armados pelos Estados Unidos, a União Europeia, a Otan e potências regionais – é o plano imperialista para o "Grande Oriente Médio", que visa ao controle dos recursos energéticos, a obtenção de esferas de influência e a ocupação de espaços geoestratégicos na luta pelo domínio do mundo.

A própria evolução dos acontecimentos revela que as potências imperialistas não querem nem o diálogo, nem a democratização da Síria, nem os direitos humanos, pois sistematicamente rejeitaram todas as iniciativas tomadas nesse sentido, inclusive reformas políticas pela via de emenda constitucional, a adoção do pluripartidarismo, a convocação de eleições, as mudanças ministeriais e as gestões visando ao diálogo e à reconciliação nacional.

Até mesmo as limitadas propostas de diálogo visando à pacificação apresentadas pelas Nações Unidas em conjunto com a Liga Árabe foram rejeitadas pelos grupos oposicionistas a soldo do imperialismo, ao passo que esta última renunciou ao seu papel de organismo de unificação dos países árabes e adotou uma posição hostil à Síria. Para as potências imperialistas, o único foro diplomático qualificado seria o chamado Grupo de Países Amigos da Síria.

O povo sírio repudia a guerra e quer a paz. Ao mesmo tempo, quer fazer valer sua vontade de viver soberanamente em um país democrático, com plenos direitos sociais, no qual o seu destino esteja em suas próprias mãos, sem a interferência ou a intervenção estrangeira.

Somos solidários com o povo sírio e nos opomos frontalmente a qualquer tipo de intervenção militar estrangeira. Os exemplos recentes ocorridos nesta e em outras regiões do mundo demonstram que os resultados dessas intervenções são sempre traumáticos, com perdas humanas, prejuízos materiais e o sacrifício da soberania nacional.

Para as potências imperialistas a instituição da democracia, as liberdades individuais, os direitos humanos não passam de pretextos para derrubar governos que não se submetem às suas vontades e seus planos imperialistas.

Para haver uma solução verdadeira para a crise na Síria e pôr fim ao confronto militar, é indispensável que os países estrangeiros que financiam os bandos armados e mercenários parem imediatamente com essa prática.

O destino do povo sírio deve ser definido unicamente por ele próprio, por suas instituições soberanas, e nunca por interesses externos.

Igualmente, é indispensável que cessem as ameaças de intervenção externa e que as grandes potências, nomeadamente os Estados Unidos e a União Europeia, retirem sua exigência de derrocar o governo vigente na Síria.

Confiamos inteiramente na capacidade de discernimento do povo sírio, na boa vontade das suas forças políticas, inclusive nas que fazem oposição legítima, democrática e baseada em sinceros propósitos, na capacidade dos seus movimentos sociais e na decisão do seu governo de empreender as medidas políticas, econômicas, sociais, jurídicas, e administrativas que correspondam aos anseios patrióticos da população. Auguramos que os entendimentos entre estas forças ilumine o caminho das reformas e da paz.

A solução para a crise nesse país faz parte dos esforços pela paz na região e em todo o mundo, em contraste com a política intervencionista e de guerra das potências imperialistas.

*José Reinaldo é jornalista, especialista em Política Internacional, editor do Portal Vermelho.