Israel sabota processo de paz mantendo políticas de ocupação

A Autoridade Palestina denunciou nesta quinta-feira (9) o anúncio do governo israelense em que aprova o plano de construção de 296 unidades habitacionais para judeus na Cisjordânia, no assentamento de Beit El, perto do centro administrativo palestino, Ramallah. O governo palestino havia demonstrado a sua preocupação pela falta de congelamento da construção ilegal em território palestino, uma das suas condições para a retomada das negociações com Israel.

Colônia judia Beit El - Getty Images / BBC

O anúncio israelense de construção de mais unidades habitacionais em colônias judias ilegais na Cisjordânia, além das denúncias diárias de graves violações de direitos humanos e de ataques militares contra a Faixa de Gaza, das quais a última foi feita nesta quarta-feira (8), deveriam servir aos atores internacionais como demonstração da falta de comprometimento de Israel com o chamado “processo de paz”.

Depois da visita do presidente dos EUA Barack Obama e do seu secretário de Estado John Kerry à região de Israel e Cisjordânia, ambos pediram a retomada das negociações de paz e o comprometimento das partes com o processo, embora não tenham exigido de Israel medidas importantes e fundamentais para o estabelecimento de alguma confiança dos palestinos no comprometimento israelense.

Nesta quarta, fontes oficiais palestinas acusaram as forças militares israelenses de invadirem o território da Faixa de Gaza com veículos militares e escavadeiras protegidas por quatro tanques militares, que arrasaram terras agricultáveis enquanto atiraram em várias direções, forçando os agricultores a fugirem.

Na mesma ocasião, barcos da marinha israelense também dispararam contra pescadores palestinos enquanto pescavam dentro do limite permitido, de três milhas náuticas (acordado em negociações da década de 1990 é de 20 milhas náuticas, ou 37km).

Sabotagem ao processo de paz

Enquanto nesta quarta o Representante Especial da União Europeia para o Processo de Paz no Oriente Médio Andreas Reinicke pedia o apoio das partes à retomada das negociações proposta por Kerry, o porta-voz do governo palestino Nabil Abu Rudeineh considerou o anúncio israelense de mais construções uma tentativa de sabotar o processo de paz e os esforços declarados pela administração estadunidense.

Reinicke havia dito que é preciso “dar a Kerry uma chance, e deveríamos encorajá-lo e apoiá-lo em sua iniciativa de retomar as negociações”, mas fez estas declarações em Ramallah, onde o compromisso com o processo é declarado.

O representante europeu disse serem necessárias “negociações substanciais, que ponham fim às reivindicações e ao conflito”, e que os europeus estão preocupados com o risco posto à solução consensual internacionalmente de dois Estados, o que se traduz essencialmente na ocupação militar israelense e na contínua construção de colônias em terras palestinas.

Abu Rudeineh, neste sentido, considerou o anúncio israelense uma mensagem à administração israelense e uma derrota ao processo de paz, afirmando que “o governo de Israel tem como objetivo conduzir a região à violência, ao invés da paz e da estabilidade”.

Reinicke afirmou que os europeus vêm apoiando a Palestina em muitos sentidos, e que reconhecem a capacidade da Autoridade Palestina institucionalmente para o estabelecimento do Estado, oficialmente. Além disso, lembrou que a comunidade já reconheceu esta situação, em 2012, na Assembleia Geral da ONU, quando reconheceu o “Estado observador não-membro” da Palestina.

O europeu disse que os 27 membros da UE reconhecem o risco posto pela construção de assentamentos ilegais e por outras políticas da ocupação israelense, que prejudicam fundamentalmente a economia palestina.

Além disso, as autoridades palestinas também denunciaram, nesta quinta-feira (9), o anúncio de demolição de nove casas na região de Hebron, Cisjordânia, em que cerca de 60 pessoas residem.

   Palestinian News Network

  Forças israelenses notificam demolição de nove casas na região de Ramallah, Cisjordânia, 
  nesta quinta (9)

Rateb al-Jabour, coordenador do comitê popular local de resistência, disse em entrevista à agência palestina Wafa que uma força militar, com membros da administração civil (gerida pelo governo israelense), invadiram a vila e entregaram a notificação de demolição às famílias. Al-Jabour disse que este é mais um método usado para forçar ativistas locais a deixarem as suas terras.

Com Wafa,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho