Agência dos EUA admite espionagem cibernética de civis

De acordo com uma matéria do jornal britânico The Guardian desta sexta-feira (7), os Estados Unidos admitiram usar um programa secreto para extrair informações de sistemas das maiores companhias de tecnologia para espionar a atividade virtual de milhões de pessoas, colocando uma sombra sobre a defesa da privacidade e da liberdade civil e, ainda, as tentativas do presidente Barack Obama de confrontar a China de forma dissuasora sobre um suposto programa de ciber-espionagem.

Programa de espionagem dos EUA - The Guardian

Enquanto a preocupação expandiu-se sobre a natureza abrangente da vigilância dos EUA, o diretor da inteligência nacional James Clapper confirmou revelações do jornal britânico The Guardian sobre a prática da Agência de Segurança Nacional (ASN) com o uso de companhias como o Google, o Facebook e a Apple para obter informações que incluem o conteúdo de contas de e-mail e arquivos online.

Além disso, a tomada de conhecimento de que as autoridades desenvolveram um programa por sete anos para o monitoramento de chamadas telefônicas de potencialmente milhões de pessoas nos EUA tornou claro que a administração de Obama acolheu e expandiu o regime de vigilância iniciado pelo presidente George W. Bush.

Clapper insistiu em que o programa de vigilância da internet, também conhecido como Prism, cobriam apenas as comunicações com estrangeiros e não envolvia os cidadãos do país. “A informação coletada por este programa está entre as informações mais importantes e valiosas que coletamos, e é usada para proteger a nossa nação de uma grande variedade de ameaças”, disse.

Ele reconheceu que a Seção 702 do Ato sobre a Vigilância da Inteligência Estrangeira estava sendo usada para “facilitar a aquisição de informação estrangeira de inteligência”. Segundo The Guardian, a informação pode ser coletada “diretamente dos servidores” através do sistema Prism.

As companhias de tecnologia negaram haver a possibilidade de acesso direto aos servidores desta forma, mas admitiram que cumprem ordens legais para repassar informações. Clapper chamou a declaração de “repreensível” por arriscar “proteções importantes para a segurança dos [estadunidenses]”.

A admissão coloca os EUA em uma posição vergonhosa, já que confronta a China por um suposto uso de espionagem virtual, durante uma cimeira há muito esperada na Califórnia, nesta sexta-feira (7).

Clapper, para tentar amenizar o escândalo, disse nesta quinta (6) que o programa opera “dentro dos limites da lei” e “protege apropriadamente a privacidade e as liberdades civis”. Entretanto, defendeu a coleta continua e ampla de “inteligência”, de acordo com The Guardian, sempre com o escrutínio “estrito” do Departamento de Justiça e a “corte especial e secreta de vigilância dos EUA”.

Profundidade da vigilância

Um document secreto obtido pelo The Guardian revela, entretanto, que o sistema Prism facilita uma vigilância profunda e extensiva de comunicações instantâneas e informações arquivadas. O acesso da ASN foi possibilitado pelas mudanças na lei de vigilância dos EUA introduzidas durante a administração de Bush e renovadas por Obama em dezembro de 2012.

A lei permite tornar alvos de investigação qualquer cliente que participe em firmas fora dos EUA, ou estadunidenses com comunicações com pessoas fora do país.

As companhias de tecnologia pareciam não estar cientes de como a ASN caracteriza o sistema, de acordo com The Guardian. A Apple disse que “nunca ouviu falar” do Prism, por exemplo, e um porta-voz afirmou que “não damos acesso direto aos nossos servidores a nenhuma agência do governo, e qualquer agência que peça dados de clientes precisa conseguir uma ordem judicial”.

O mesmo foi dito por um porta-voz do Google. Legisladores, particularmente os que servem em comitês que monitoram a inteligência estadunidense, também confirmaram a existência de “esforços de espionagem”, dizendo que estão em efeito há ao menos seis anos, defendendo-os.

Entretanto, o senador Ron Wyden, membro democrata do Comitê de Inteligência do Senado que pelos últimos dois anos tem avisado sobre as interpretações secretas do governo sobre o Ato Patriota (Patriot Act, em inglês, um ato de 2001 que foi transformado em lei em 2006, por Bush, e que prevê uma série de medidas de controle e vigilância das atividades de civis), sugeriu que a espionagem não foi esclarecida. “Baseado em vários anos de acompanhamento, eu acredito que o seu valor e efetividade ainda é duvidosa”, disse.

Com informações do jornal britânico The Guardian