Maria Prestes: “Os ideais de Luiz Carlos Prestes continuam vivos”

A Fundação Maurício Grabois, em parceria com a Editora Anita Garibaldi, a Comissão Especial de Anistia Vanda Sidou, a Associação 64/68 Anistia, o Comitê Estadual da Verdade e o grupo Os Aparecidos Políticos, lançou na noite da última quinta-feira (6), em Fortaleza, o livro “Meu Companheiro – 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes”, de Maria Prestes.

O auditório Murilo Aguiar, na Assembleia Legislativa do Ceará, ficou lotada de amigos, militantes e pessoas interessadas em ouvir as histórias de Maria Prestes que, por quatro décadas, conviveu com o “Cavaleiro da Esperança”. Além do viés político, apresentando trechos da jornada ao lado de Prestes, a comunista fez questão de destacar o lado humano do marido.

Luiz Carlos Prestes Filho, que também participou do debate, iniciou o encontro agradecendo a iniciativa do senador Inácio Arruda (PCdoB) que culminou na reparação da anulação do mandato do pai e destacou o novo desafio da família. “Resgatar o mandato de Prestes é um direito do povo brasileiro. Agora nossa luta é conseguir também que o Exército Brasileiro o reintegre a suas fileiras e conceda a patente de General. Após a anulação da cassação do mandato, vivemos este momento de fazer as instituições democráticas reconhecer a grandeza de Luiz Carlos Prestes. Entendemos a importância de colocar dentro das forças armadas um comunista revolucionário”, ressaltou.

Prestes Filho também agradeceu a parceria da direção nacional do PCdoB ao apoiar as bandeiras de luta da família. “Este livro, por exemplo, foi fruto da parceria com a editora Anita Garibaldi. Minha mãe, aos 83 anos de idade, pode viver este momento de reencontro do pai com a história do país e o PCdoB foi de grande generosidade ao abraçar este projeto. Vejo este como um reencontro de João Amazonas e Luiz Carlos Prestes. Amazonas, com sua militância, conseguir reorganizar o Partido e, junto com meu pai, mantiveram acesa a chama do Partido”, enalteceu.

Maria Prestes agradeceu a iniciativa de apresentar o livro que detalha sua vida ao lado do marido revolucionário e relatou a emoção de voltar ao Ceará e encontrar velhos amigos. A comunista destacou o objetivo da autobiografia. “Nossa intenção é apresentar, não só o lado histórico e político de Luiz Carlos Prestes, mas também resgatar sua história e falar de sua vida como cidadão, pai de família, homem de bem”.

Trajetória comunista

Filha de um militante comunista, a menina pernambucana cresceu participando de atividades ao lado do pai. Aos 10 anos, já trabalhava em solidariedade às famílias de presos políticos, distribuía material em porta de fábrica, participava de passeatas e atividades como na luta contra a carestia e na campanha “O Petróleo é nosso”. “Em 1947, com a cassação do registro do Partido Comunista, tivemos que recuar um pouco. Em seguida, fui designada para ir a São Paulo. Meu pai havia sido torturado em Recife e foi transferido para a capital paulista. Foi nesta época que recebi a tarefa de ser segurança de Prestes”.

O encontro entre os dois aconteceu em 1952. “Meu pai falava muito sobre a Coluna Prestes, contava sobre as aventuras e a grandeza política de seu líder. Sempre imaginei que ele seria um homem alto e forte. A surpresa foi ao encontrá-lo: pequeno, magrinho… Fiquei decepcionada”, confidenciou entre risos. “E foi ao lado dele que vivi 40 anos, inicialmente na clandestinidade, em São Paulo, depois em várias cidades do país e até no exterior”.

Maria se sentia responsável caso alguma coisa acontecesse com o companheiro. “Vivemos em várias casas. Se desconfiávamos de algo, saíamos apenas com a roupa do corpo e não voltávamos para pegar nada. Mudei o meu nome e dos filhos para não ser identificada. Depois da Anistia descobrimos que a Polícia nunca teve registros sobre nós. Cumprimos bem nosso papel”, avaliou.

Prestes revolucionário

A comunista comentou trechos da jornada do companheiro durante a Coluna Prestes. “Os ideais dele continuam vivos e atuais. Ainda hoje as ideias de Lênin e Marx continuam, como a exploração do homem pelo homem, os baixos salários, os trabalhadores que vivem sem dignidade, pais de família que lutam para sobreviver. No Brasil, as coisas ainda andam devagar. Basta citar a reforma agrária, problema sério que, desde a Marcha dos 1500 homens pelo interior do Brasil, era defendida por Prestes. Ele dizia com grande entusiasmo que o povo não morreria de fome, mas tinha que ter seu cantinho para viver. E ainda hoje as terras continuam concentradas nas mãos dos grandes fazendeiros e empresários”, citou.

Prestes família

Maria ratifica que o ideal de Prestes era lutar pelo social, com dignidade e energia. “Ele foi um bom pai de família, gostava de cozinhar, sempre ajudava nos afazeres domésticos. Gostava de jardinagem e sempre tínhamos roseiras e hortas em casa. Prestes também adorava ler clássicos da literatura”, confidenciou.

O papel da mulher

A comunista ressalta a atuação das mulheres para a consolidação da democracia no Brasil. “São inúmeras, desde o movimento estudantil chegando até a eleição de Dilma Rousseff, mulher, guerrilheira, torturada. Tivemos que enfrentar muitas barreiras para conseguir alcançar este momento no país. É importante que todos tenham consciência de que precisamos e devemos resgatar também a história dessas mulheres que tiveram participação na vida política do país”.

Memória

Maria Prestes ressaltou o trabalho da Comissão da Verdade que, segundo a comunista, tem ajudado muito no esclarecimento dos casos e mortes ocorridos durante a ditadura militar no Brasil. “Nossa bandeira é resgatar e preservar a memória dos que deram a vida na luta por um país mais justo. Não só Luiz Carlos Prestes, mas muitos companheiros foram vítima deste período negro da nossa história. Este homem, como tantos outros, não pode ficar esquecido da história do Brasil. Nosso povo deve se orgulhar de seus heróis que deram sua vida para que hoje estivéssemos aqui”.

Participações

Benedito Bizerril, membro da Fundação Maurício Grabois no Ceará, destacou a importância de se resgatar a memória de grandes lideranças comunistas que fizeram parte da história recente do Brasil e ajudaram na consolidação da democracia. “Nesta noite, Maria Prestes nos apresenta uma parcela importante de sua convivência com o grande líder comunista”.

Tarcísio Leitão, histórico militante comunista, também saudou a presença de Maria no Ceará. “Queria que Luiz Carlos Prestes estivesse aqui conosco pra ver como esta próxima a construção de uma sociedade diferente. Estamos marchando pra isso com a ruína do Capitalismo. Vivenciamos um momento histórico da humanidade e a luta de Prestes continua viva. A luta por uma sociedade mais justa é agora a luta do povo brasileiro”.

O vereador Evaldo Lima enalteceu a luta de Maria Prestes de manter viva a memória do seu companheiro e informou que já tramita na Câmara dos Vereadores a criação da Comissão Municipal da Verdade, de sua autoria. O objetivo da comissão é resgatar e preservar a memória dos que, como Prestes, lutaram por um país melhor.

O professor Leite Júnior também rendeu homenagens a Maria Prestes e apresentou uma poesia à companheira do “Cavaleiro da Esperança”. A estudante Virna Sena, de onze anos, também enalteceu as histórias apresentadas por Maria Prestes. “Desejo parabenizar Maria Ribeiro Prestes por ser essa mulher tão guerreira que percebi. Gostei de saber que ela se parece muito comigo por ser influenciada pelo pai e começar a trabalhar solidariamente para o PCdoB com dez anos, um ano antes de mim”.

Programação

Neste sábado (08), Maria Prestes estará em Crateús, onde também lançará seu livro no município. O evento acontecerá no Teatro Rosa Moraes a partir das 19h. A cidade recebeu a visita do “Cavaleiro da Esperança” e é a única cidade do interior do Nordeste a ter uma obra arquiteto Oscar Niemeyer. O monumento é uma homenagem à Coluna Prestes e foi inaugurado em 2005.

De Fortaleza,
Carolina Campos

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