Putin rechaça política de ingerência dos EUA e da Europa na Síria
Na reunião entre o presidente da Rússia, Vladmir Putin, e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na noite desta segunda-feira (17) na Irlanda do Norte, no primeiro dia da cimeira do Grupo dos Oito (G8), Putin reafirmou o bloqueio a um plano para a prestação de maior apoio militar aos grupos armados que atuam na Síria, defendido pelos EUA e por países europeus no auge da ingerência imperialista.
Publicado 18/06/2013 09:34
O único acordo a que chegaram Obama e Putin, segundo o diário espanhol El País, foi sobre a necessidade de conter a violência na Síria e buscar uma solução política, afirmações já feitas pelos chanceleres de ambos os países, quando concordaram com a realização de uma conferência internacional para debater a situação, com o envolvimento de todas as partes envolvidas.
“Estamos de acordo em empurrar as partes à mesa de negociações”, disse Putin, ao que Obama adicionou: “queremos tentar resolver o assunto por meios políticos, se possível, e demos instruções às nossas equipes para uma potencial reunião em Genebra”, em referência à conferência internacional, com a qual a Rússia tem maior compromisso.
Putin deixou claro desde o início que condena taxativamente a decisão dos Estados Unidos anunciada recentemente de armar os rebeldes, e que se nega a autorizar a ONU, no âmbito do Conselho de Segurança (no qual tem poder de veto), a impor uma zona de exclusão aérea à Síria, como foi feito com a Líbia.
Alguns analistas insistem em ressaltar o fato de que a Rússia arma o governo do presidente sírio Bashar Al-Assad, ao que diplomatas russos já responderam tratar-se do cumprimento de acordos comerciais e militares já antigos. Além disso, o governo de Assad é um governo legítimo, com amplo apoio popular (segundo pesquisa da própria Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, intervencionista por excelência) e que cumpre suas funções de lutar pela retomada do controle do território nacional.
O primeiro-ministro David Cameron, anfitrião da cimeira (já que a Irlanda do Norte é parte do Reino Unido) reconhecia que “existe claramente uma grande diferença entre a posição da Rússia, a do Reino Unido, da França, dos Estados Unidos e de outros”, referindo-se ao fato de que apenas Putin tem enfatizado a necessidade de respeitar-se a soberania da Síria e os esforços já empenhados por Assad para um diálogo político nacional.
Ainda mais pessimista, o primeiro-ministro do Canadá Stephen Harper advertiu que “a menos que se produza uma grande mudança de posição [da Rússia], não será possível conseguirmos um acordo”. E expressando abertamente a sua frustração, o presidente François Hollande, da França, perguntou: “Como podemos dizer que existem provas sobre o uso de armas químicas sem conseguir uma condenação unânime por parte da comunidade internacional e do G8?”
Os líderes parecem esquecer-se que o governo sírio já pediu à ONU que investigasse sobre as alegações infundadas feitas principalmente pelos EUA sobre o uso de armas químicas por parte das forças oficias de Assad, enquanto o presidente sírio relata haver evidências sobre esse uso do outro lado, através dos rebeldes, armados e financiados desde o exterior. Entretanto, a ONU ainda não respondeu eficazmente.
Na semana passada, os Estados Unidos anunciaram unilateralmente o envio de mais armas à aos grupos rebeldes na Síria. O Reino Unido fez o mesmo (apesar de não haver previsão para quando isso será feito), e a União Europeia também já havia anunciado a suspensão do embargo de armas à chamada “oposição” no país, em que se incluem grupos formados por incontáveis mercenários estrangeiros.
Nesta segunda, Obama teve várias reuniões bilaterais, inclusive com Putin, sem poder responder de maneira positiva à pergunta retórica de Hollande. Os líderes dos EUA, da Alemanha, do Japão, da França, da Itália, da Rússia, do Canadá e do Reino Unido tinham previsto continuar as conversações, à noite, durante um jantar, mas as perspectivas eram funestas.
Apoio da Rússia à soberania da Síria
Putin chegou à cimeira com uma posição de total rechaço à intenção do Ocidente de envolver-se ainda mais diretamente no conflito sírio, em apoio aos grupos armados. Em declarações feitas depois de um encontro com Cameron, no domingo (16), o presidente russo acusou aos que entregarem armas à chamada “oposição” de “manchar as mãos de sangue”. Revoltado, perguntou ainda: “A quem vocês vão ajudar? A esses que abrem os cadáveres das suas vítimas e comem as suas entranhas? São a esses que vocês querem ajudar?”
O presidente russo assegurou que o único representante legítimo da Síria é o governo de Bashar Al-Assad, e adicionou que, enquanto segue sendo assim, a Rússia continuará prestando apoio.
Em maio, os EUA e a Rússia concordaram com a necessidade de realizar a conferência internacional Genebra 2, em que deverão participar as partes envolvidas, ou seja, o governo e a oposição, que a Coalizão Nacional das Forças da Revolução e da Oposição Síria (CNFROS) diz representar, desde fora do país. O governo de Assad já demonstrou aceitação pela iniciativa, enquanto a CNFROS havia dito, ainda no mesmo mês, que só participaria caso Assad anunciasse a sua demissão.
Entretanto, o bloqueio da situação é evidente, diz o espanhol El País. A administração Obama acredita que o regime sírio chegaria atualmente a uma reunião deste tipo em uma posição muito forte, já que tem logrado avanços importantes no terreno, recuperando cidades estratégicas do controle dos rebeldes, com amplo apoio popular.
Por isso, afirma o artigo espanhol, a intenção estadunidense é postergar a realização da conferência internacional, até que se "equilibre" a situação militar. Ao mesmo tempo, a ingerência de Obama estabeleceu como condição que Assad não pode desempenhar nenhum papel no futuro do seu país e tem que abandonar a presidência, algo a que a Rússia se opõe energicamente.
A cimeira do G8 tenta compensar o mais que provável fracasso sobre a intervenção internacional na Síria com outras iniciativas econômicas, que devem ficar ressaltadas na declaração final a ser emitida nesta terça (18). Além do acordo para dar início, no próximo mês, às conversações para um tratado de livre-comércio entre a UE e os EUA, os líderes das maiores economias do mundo tentam um compromisso para dar maior transparência ao sistema financeiro, mediante a regulação dos atuais paraísos fiscais.
Com informações do El País,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho