Gritos de independência: o 2 de Julho na Bahia

Jovens de Salvador fazem releitura da festa do Dois de Julho, data em que se comemora a expulsão dos portugueses da Bahia

Por Aline Salgado

Independência na Bahia

Diferentemente da ideia passada pelo senso comum, a Independência do Brasil foi um movimento repleto de resistência e participação popular e que envolveu conflito armado por anos. Foi assim em São Paulo, Rio, Minas, nos estados do sul do país, no Maranhão, no Pará, em Pernambuco e na Bahia, que todo o ano comemora a retirada dos portugueses de Salvador em 1823 no famoso Cortejo de Dois de Julho. Para mostrar aos baianos o que há por trás da festa popular que toma as ruas da capital e das cidades do Recôncavo Baiano, um grupo de 25 jovens da periferia de Salvador, orientados por dez profissionais, montou uma exposição volante multimídia.

Com textos, fotografias, vídeos e até animação, a equipe do Núcleo de Produção da Oi Kabum! visita cidades do Recôncavo que tiveram participação direta na Guerra de Independência. De escola em escola, eles ajudam os professores a fazerem uma releitura do movimento, destacando personagens das guerras, como Maria Quitéria, que se vestiu de homem e se alistou em um batalhão pela luta de independência. Ou Maria Filipa, que liderou combatentes em Itaparica e deu uma surra de cansanção (planta que causa queimaduras na pele) em portugueses.

“Apesar de a festa ser muito popular, em que as pessoas não só assistem como participam fantasiadas, percebemos que faltava a informação sair da elite intelectual e chegar à população. E o melhor meio de atingi-la é através das escolas”, defende Isabel Gouvêa, coordenadora do projeto.

Ao final das visitas, cada educador é incentivado a preparar um plano de aulas com base nas oficinas de capacitação. No próximo dia 2 de julho, a exposição multimídia se junta ao cortejo pela independência e será apresentada ao público na Galeria Oi Kabum!, permanecendo até o fim do mês.

Doutora em História Social pela USP, Cecília Salles explica que as lutas pela independência do Brasil guardam em si incoerências no processo de resistência. “A maioria não era contrária à superação colonial e às práticas do Antigo Regime, que implicavam monopólios e restrições à participação da maior parte da população de homens livres. Mas a questão se centrava na separação com Portugal. Pois, ao mesmo tempo, significava a quebra de vínculos familiares, políticos e de negócios”, explica a professora.

Para a especialista em Independência, o projeto do Dois de Julho toca numa questão sensível: a construção do sentimento de nação. “É sempre importante quando se busca recuperar o ensino da história de uma forma nacional, mostrando que o Brasil tem uma história complexa, com divergências regionais, lutas sociais e vínculos nacionais. E mais, que o processo de construção dessa nação não foi pacífico. Por isso, todos nós participamos de uma mesma herança política, que deve servir para que lutemos por um futuro melhor para o nosso país”, completa Cecília.

Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional