Comunidade do Caribe avança apesar da crise econômica

A quatro décadas da sua criação, a Comunidade do Caribe (Caricom) mantém vigente o sonho de seus fundadores: a integração regional, em meio a desafios internos e problemas econômicos.

Por Roberto Castellanos*, na agência Prensa Latina

A 34ª Cúpula da organização, celebrada em Porto Espanha, capital de Trinidade e Tobago, evidenciou as diferenças mas também a vontade de cooperação entre seus membros.

O transporte e a economia foram os pontos mais discutidos da reunião, na qual foi acertada a adoção de um programa de estabilização e crescimento, que insistirá na eliminação das limitações à produção competitiva.

Embora nesta cúpula haja muito a celebrar, também há motivos para se lamentar, estima o portal digital Caribbean 360.

Segundo a página, várias instituições comuns ficaram enfraquecidas com o passar dos anos, como a Universidade das Índias Ocidentais (UWI, em sua sigla em inglês).

O site destaca que o Tribunal de Justiça do Caribe, uma das mais recentes criações da comunidade, não foi aceito por vários de seus Estados membros.

Apesar dos êxitos, depois de quatro décadas, "o processo de integração já deveria, nesta altura, estar muito mais avançado", considerou.

Dentro desse contexto, o diário Trinidad Express revelou um relatório secreto, segundo "a crise (interna) é suficientemente grave para por em questão a própria existência do Caricom".

Muitos países caribenhos estão fortemente endividados e isso compromete qualquer financiamento e reforma do organismo, ressaltou o texto entregue aos chefes de governo, assegura o periódico.

O evento, realizado de 3 a 6 de julho, coincidiu com o 40º aniversário da assinatura do Tratado de Chaguaramas, que deu origem à Comunidade.

Esse acordo foi assinado pelos, à época, primeiros-ministros de Barbados, Errol Barrow; de Guiana, Forbes Burnham; da Jamaica, Michael Manley, e de Trinidade e Tobago, Eric Williams.

Precisamos recuperar os princípios que inspiraram os fundadores da organização para lutar por uma região segura, viável e próspera, sublinhou o secretário-geral da entidade, Irwin LaRocque.

Ele afirmou que a organização permitiu aos países caribenhos uma maior integração econômica e social, além de coordenar a política externa e cooperar em matéria de segurança.

Por sua vez, a primeira-ministra de Trinidade e Tobago, Kamla Persad-Bissessar, assinalou que embora existam avanões substanciais, ainda há muito o que fazer.

No mesmo sentido se pronunciou seu colega de Barbados, Freundel Stuart, que considerou a necessidade de "olhar para nosso interior e estudar nossas forças e recursos".

Qualquer avaliação objetiva da Caricom nos últimos 40 anos tem de admitir que a população caribenha, independente de ser anglófona ou francófona, ou hispânica ou holandesa, está agora mais unida do que nunca, assegurou.

Apesar dos pedidos de unidade, ficaram em evidência alguns pontos de atrito na agenda, em especial no que tange ao transporte aéreo.

Vários dirigentes da área defendem a ideia de investir na empresa de aviação regional LIAT, que tem sede em Antigua e Barbuda, e que apresenta problemas econômicos, voando com aviões antigos. Outros defendem a criação de uma nova empresa aérea.

Também há críticas aos subsídios dados pelas autoridades de Trinidade e Tobago à Caribbean Airlines.

Esse tema é um problema que deve ser resolvido sem demora, por causa de sua repercussão no desenvolvimento do Caribe, afirmou o premiê de São Cristóvão e Neves, Denzil Douglas.

Nesse sentido, seu colega de Granada, Keith Mitchell, defendeu a ideia de que se crie um amplo grupo de trabalho para enfrentar a situação do transporte.

Ele disse que o grupo deve estar integrado pelos setores empresariais, os sindicatos do ramo, assim como especialistas e líderes políticos.

"Debates anteriores sorbe o tema degeneraram em algumas ocasiões, mas aqui, sentados, vemos que essa situação não obteve nenhum progresso", comentou.

Sintomas desses desencontros foram as declarações do chefe de governo de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, que qualificou as conversações a portas fechadas de "francas e abertas".

Ele afirmou que entre os temas abordados estavam os impostos, as relações entre as empresas aéreas nacionais e os subsídios.

Outros temas analisados foram as múltiplas ameaças à segurança que o Caribe enfrenta.

É preciso atacar pela raiz o mal da delinquência, o que significa que temos de desenvolver métodos para combater a pobreza, o desemprego, o analfabetismo e o aumento do custo de vida, estimou Persad-Bissessar.

Ao intervir como convidado de honra no foro, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, pediu que os líderes fortaleçam a unidade caribenha por meio da criação de mecanismos de aliança, que estimulem o desenvolvimento socio-econômico das nações da região.

Também fez referência à criação de uma "área de segurança caribenha global, que facilite a supervisão na luta contra a criminalidade".

O premiê das Ilhas Bahamas, Perry Christie, aproveitou a ocasião para criticar novamente a política de deportação do governo estadunidense, um dos principais pontos de atrito da região com o regime de Washington.

Christie demandou aos países ricos que se comprometam com o desenvolvimento do Caribe devido ao que chamou de "obrigação moral" deles para com a região.

Durante o encontro, o presidente da República Dominicana, Danilo Medina, solicitou oficialmente a admissão de seu país como membro da comunidade.

*Jornalista para América Central e Caribe da Agência Cubana de Notícias Prensa Latina.