Amorim: Política externa altiva e ativa contra visão domesticada

Em artigo, o jornalista Leonardo Severo, da equipe ComunicaSul, escreve sobre a fala do minisitro da Defesa e ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, na noite desta terça-feira (16), na Conferência Nacional "2003-2013: Uma Nova Política Externa", realizada pelo Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GRRI) e pela Universidade Federal do ABC. Leia a seguir o artigo do jornalista.

Celso Amorim - Leonardo Severo
Celso Amorim: “Afirmamos uma política externa altiva e ativa contra a visão domesticada”

Para o ministro da Defesa e ex-ministro das Relações Exteriores, o Brasil começou a exercer protagonismo na construção de uma nova ordem mundial.

“Uma política externa altiva e ativa. Foram essas palavras que me ocorreram depois de ter a confirmação do presidente Lula da minha indicação como ministro das Relações Exteriores. Foram palavras para definir uma diferença de atitude, da consciência do povo brasileiro de mudar o seu destino”.

Com esta avaliação o atual ministro da Defesa, Celso Amorim, abriu sua conferência “Início de uma Política Externa Altiva e Ativa”, terça-feira à noite, na Universidade Federal do ABC. Diante das centenas de participantes que tomaram o recém-inaugurado auditório San Tiago Dantas, o ministro pontuou o significado da política externa que começava a ser descortinada em 2003: “Altiva porque não deveríamos nos submeter aos ditames de outras potências, ainda que mais poderosas, pois tínhamos condições de defender os nossos pontos de vista.

Ativa como refutação de uma concepção anterior que costumava dizer que o Brasil não podia ter papel protagônico para não desencadear algum tipo de retaliação”. Foi em contraposição a essa “visão domesticada da política externa”, frisou, que o governo Lula começou a “reagir e influenciar a agenda internacional”. Acima de tudo, “o Brasil queria contribuir – como contribuiu – para uma nova ordem mundial”.

Entre as inúmeras atuações certeiras do período, Amorim recordou a luta contra o locaute petroleiro na Venezuela – com o qual a oposição de direita queria depor o presidente Hugo Chávez e retroceder os avanços econômicos e sociais do país bolivariano – e o projeto imperialista da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), com o qual os Estados Unidos planejava impor sua hegemonia em inúmeros setores, “como o de serviços, investimentos e propriedade intelectual”. “Com diplomacia, conseguimos impedir o retrocesso”, declarou.

Amorim lembrou da “imensa pressão da mídia” contra os interesses nacionais e seu alinhamento à pauta neoliberal, bastante vinculada às pretensões hegemônicas dos EUA. Além disso, recordou da firme oposição brasileira à guerra do Iraque, da solidariedade à Palestina, e de como o governo Lula bloqueou o acordo na Organização Mundial do Comércio, “que seria extremamente prejudicial aos nossos interesses”. “Na OMC, colocamos o pé na porta e ela não pôde ser fechada na nossa cara”, contou orgulhoso.

Defesa da Nação

“Nós vivemos num mundo de Estados-nação e ataques, dos mais variados, continuarão a ocorrer”, alertou, frisando que a melhor maneira do país garantir a sua independência e manter a paz é estar preparado para a guerra. “E estar capacitados a defender nossas estruturas críticas significa fazer pesados investimentos em ciência e tecnologia nacional”, acrescentou o ministro, citando a recente espionagem cibernética feita pelo governo dos Estados Unidos e denunciada pelo ex-agente da CIA, Edward Snowden.

Amorim destacou também o papel das parcerias regionais com a Argentina – no caso do projeto do novo avião cargueiro, que substituirá o Hércules -, e do navio patrulha, com a Colômbia e o Peru.

“Em nosso país temos recursos altamente cobiçados e cada vez mais escassos como alimentos, energia e água. Precisamos estar preparados para nos defender. Não com as armas dos séculos 19 e 20, mas com as armas e escudos do século 21. Este é um longo caminho que precisará ser percorrido”, concluiu Amorim, sob extensos aplausos.