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Renato Gomes: a produção de mais-valia e a valorização do capital

Um dos fatores que causam uma sobreacumulação de capital sem precedentes é um ponto em que o capitalismo no período hodierno apega-se, é em investimento maciço em produção tecnológica e desenvolvimento científico, o que tem entre tantos subprodutos um aumento da extração da mais-valia relativa, o que em última instância propiciou mudanças no processo produtivo, tendo efeitos sem precedentes sobre a lucratividade de grandes corporações antes da crise.

Por Renato Gomes dos Reis*

O que os operários parcelares perdem concentra-se, face a eles, no capital. É um produto da divisão manufactureira do trabalho colocar face a eles as potências espirituais do processo material de produção como propriedade estranha e poder que os domina. […] Este processo de cisão começa na cooperação simples onde o capitalista, perante os operários singulares, representa a unidade e a vontade do corpo de trabalho social. Desenvolve-se na manufactura, que mutila o operário em operário parcelar. Completa-se na grande indústria, que separa a ciência — enquanto potência autónoma de produção — do trabalho e a espreme ao serviço do capital.

O Capital – Karl Marx

Podemos conjecturar que o processo de aumento da exploração da mais-valia relativa gerou o fulcro da crise uma vez que propiciou um aumento do fluxo de capital fictício, sendo um efeito do desenvolvimento da tecnologia. Temos que a produção como a formação do operário, digamos em princípio de uma forma acadêmica, isso em nada altera a relação, despende força de trabalho (MARX, 1983, pp. 105-106), que está inclusa de forma implícita no processo, destarte, a força de trabalho é, concomitantemente, agente e suporte de mais-valia (SANTOS, 1992).

A lógica do capitalismo impele-o a promover a integração econômica e tecnológica entre as empresas, objetivando cada vez mais reduzir o tempo de trabalho incorporado ao produto que fabrica. O caso particular que estamos aqui discorrendo é uma situação de alta produtividade, prevalecendo nesta a mais-valia relativa, sendo requisito e condição sine qua non ocorrer em países com alto desenvolvimento econômico, em que o crescimento demográfico é baixo ou estagnante. Temos então que o tempo de trabalho incorporado nas novas gerações supera a precedente, reduz-se também o tempo de trabalho doméstico. Na razão inversa, promove-se um acréscimo do tempo de trabalho escolar, em países periféricos do ponto de vista do desenvolvimento econômico dá-se o inverso.

No caso em que consideramos a mais valia relativa, temos um aprofundamento da divisão social do trabalho, os conhecimentos científicos e tecnológicos advindos dos primeiros e as novas especialidades reforçam a relevância das instituições de ensino, impelindo o proletariado em uma luta visando o aumento do tempo de trabalho incorporado à sua força de trabalho. A burguesia mobiliza-se objetivando que seja mais qualificada a força de trabalho, ocultando o caráter vil da subtração da mais valia, aumentando-a exponencialmente, promovendo uma conciliação de interesses em que apenas são levados em conta os seus próprios como classe, isso resultando em um aumento da instrução, por um lado e passa a ser uma das condições gerais da produção e da reprodução da força de trabalho. Por outro, o proletariado por sua vez é expropriado de forma espúria dos saberes adquiridos tendo-os que verter no final de um complexo processo em mercadorias.

Neste momento da evolução do capitalismo podem os capitalistas não só explorar o trabalho físico, mas também o intelectual, uma vez que primordialmente o capitalismo via das duas componentes a possibilidade de exploração de apenas a física, atualmente, relativiza o valor da primeira, assumindo assim uma forma nova de exploração.

Consoante a teoria marxiana (MARX, 2003): “O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral”.

Naturalmente isso permeia o sistema escolar, cuja forma organizacional é moldada à imagem e semelhança do capitalismo, nos aspectos de divisão de atribuições, hierarquia do poder, na abolição da liberdade de cátedra. Também observamos isso na determinação dos horários escolares, dos processos de avaliação.

Destarte, recruta a escola operários objetivando formar os educandos operários, caracteriza-se aqui notoriamente a força de trabalho sendo usada na produção de outra. Dá-se o mesmo no processo de trabalho pedagógico, ocorre um cisma entre o trabalho docente e os gestores, decorre daí também que a avaliação da docência dá-se pela observação da execução integral do programa ou pela falta deste resultado. Assim, dentro de um processo em que desconsideram-se várias variáveis, o trabalho do docente será considerado eficiente se no final do ano letivo conseguiu cumprir todo o programa, como por exemplo, a defasagem entre as potencialidades dos estudantes e o programa. Submetidos ao jugo do capital que se faz presente a uma perversa lógica no antro escolar ocorre ou impõe-se uma submissão hierárquica na distribuição de afazeres, ao corpo docente não se permite a participação no processo de produção do saber, está sob o jugo de seus superiores quebrantando a liberdade de cátedra.

O desenvolvimento tecnológico inerente ao capitalismo causa um cisma e causa uma oposição entre os trabalhos de execução e os de concepção, aprofundando esta separação e oposição, afastando, cada vez mais, os trabalhadores do conhecimento científico, assim como ocorre como o campo e a cidade, em um antagonismo sistêmico (SANTOS, 1992), (MARX, 1983).

Com o desenvolvimento da lógica capitalista, ocorreu também institucionalizado na sociedade capitalista, isso é descrito na obra marxiana, isso reproduz-se em profusão e de forma contínua. A lógica do capital acaba por legitimar a dominação burocrática, como instrumento de poder. Dessa forma a racionalidade instrumental associada à acumulação capitalista. Figura como um mecanismo reprodutor de mais-valia.

*Renato Gomes dos Reis é militante do Comitê Municipal do PCdoB Birigui
**Título original: O conhecimento-mercadoria na produção de mais-valia relativa e a valorização do capital – Parte 1