Realidades compartilhadas: juventude presente no Foro de S. Paulo

Com depoimentos vibrantes, grande parte em castelhano, representantes de organizações de juventude de todo o mundo se encontram para compartilhar experiências e traçar novos objetivos para o avanço de políticas progressistas em seus respectivos países, na manhã desta quarta-feira (31), segundo e último dia do 5º Encontro de Juventudes do Foro de São Paulo.

Por Deborah Moreira, Portal Vermelho


Da esquerda para a direita: Hanói Sanchez, da Federação Mundial Juventudes Democráticas; Lucila de Ponti, Movimento Evita – da Argentina; Yuriri Ayala Zúñiga, do PRD; Ismael Cardoso, da UJS; Alba Santana, Juventude do Partido FMLN, da Nicarágua. Com exceção de Lucila, todos fizeram parte da mediação/ fotos: Deborah Moreira    

As atividades do evento, que começou na terça-feira (30), se concentram no Novotel Jaraguá, centro de São Paulo (SP), promovem a troca de ideias e fomenta a integração entre os militantes. Como mediadores foram convidados jovens de quatro organizações: Hanói Sanchez, da Federação Mundial Juventudes Democráticas; Ismael Cardoso, da UJS; Alba Santana, Juventude do Partido FMLN, da Nicarágua e a deputada local Yuriri Ayala Zúñiga, do Partido da Revolução Democrática (PRD), que atua na Assembleia Legislativa do Distrito Federal, Cidade do México, México, e abriu a atividade fazendo um relato sobre as políticas públicas implementadas por governos de esquerda em seu país, mais especificamente em sua região.

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Ela lembrou que a América Latina que vive uma espécie de normalização da implementação de políticas representativa e plural, com direitos sociais e humanos e solidariedade, bem como a consolidação de grupos representativos de mulheres, crianças e jovens. Na Cidade do México, seu partido tem seguido a mesma orientação e tem focado as ações na Educação. Como parlamentar, Yuriri promove a cultura e a política e parlamentar entre os jovens, além da democracia participativa para fomentar o pensamento da esquerda.

“No México conquistamos importantes espaços de governos e de representações populares na Câmara e no Congresso Federal. Promovemos na capital federal avanço nas discussões públicas para a conquista de direitos, desde o direito básico de poder eleger seus governantes até o reconhecimento de uma legislação em favor da igualdade entre homens e mulheres, a realização do aborto para que mulheres possam exercer direitos sobre seu próprio corpo. Também conquistamos leis que institui direitos à criança e à juventude. Também avançamos na igualdade, aprovando o casamento entre pessoas do mesmo sexo”, destacou a deputada do PRD, mesmo partido de Lopes Obrador.

Por fim, comentou a situação atual de violência que vive o país, principalmente os jovens e os que vivem em estados no norte do país, que sofrem com o narcotráfico.

Os mexicanos vivem um momento mais difícil por conta do retorno do Partido Revolucionário Institucional (PRI) ao poder. A legenda governou o país durante 71 anos, entre 1929 e 2000, com um regime capitalista autoritário, que conseguia se manter uma vez que o presidente escolhia seu sucessor. Em 2012, o PRI elegeu Enrique Peña Nieto para presidente, substituindo a oposição que governou por 12 anos.

Nas falas seguintes, dos representantes convidados a expor suas opiniões, o jovem Carlos Castilho, também do PRD mexicano, lamentou o “retrocesso”. “Há um grande movimento nacional de jovens contra esse partido e esse governo[do PRI]. E estamos nos mobilizando, em protestos, para denunciar os desmandos dos partidos de direita que ameaçam direitos dos jovens já conquistados, como as bolsas de estudo nas universidades”, comentou.

Ele enfatizou a importãncia deste momento de troca de informação para articular a luta mexicana as demais. “Para nós é importante vir e conhecer as experiências onde a esquerda já governa, como no Brasil, porque no México desafortunadamente regredimos, andamos para trás. Agora, querem privatizar nosso petróleo e, por isso, os jovens devem ir às ruas também contra essas medidas. Há interesses de empresas dos EUA e nós, jovens de esquerda, estamos nos organizando para combater”, completou.

Brasil e a nova conjuntura


UNE leva milhares às ruas em protesto na capital federal / foto: Mídia Ninja

O estudante Thauan Fernandes, diretor de Relações Institucionais da União Nacional dos Estudantes (UNE), cuja diretoria é composta por diversas forças partidárias, fez um breve relato sobre as mudanças promovidas nos últimos 10 anos, a partir do governo Lula, e sobre a nova correlação de forças políticas e sociais brasileira, a partir de junho, quando se iniciou uma série de protestos contra o reajuste das passagens de ônibus, “que depois ganhou proporção maior na luta por educação, saúde e outros serviços públicos”.

“A população sabe que viveu esse processo de mudança, mas sabe que mudanças mais estruturais e mais profundas ainda são necessárias ao país, que atualmente é a sétima economia mundial, mas também é o de número 88 no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o que ainda nos mantém como um país de muitas contradições e desigualdades”, disse Thauan.

Ele lembrou, ainda, as principais bandeiras de luta da UNE, como o aumento do financiamento público para a Educação a partir do investimento de recursos equivalentes a 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Completou falando também do petróleo, que é uma bandeira histórica dos estudantes brasileiros. Atualmente, reivindicam 100% dos royalties do petróleo para a educação pública, além de 50% do Fundo Social do Pré-Sal.

“Cerca de 80% dos jovens ainda estão fora da universidade e os que têm acesso, 75% pagam para estudar. Hoje, o Brasil vive uma situação única no mundo, é cenário da maior etapa da mercantilização e venda ao capital estrangeiro do nosso ensino superior privado”, lamentou, citando como exemplo a recente fusão entre a Kroton e a Anhanguera, concentrando ainda mais a educação na esfera privada.

Ao final, convidou a todos os presentes a participarem da posse da diretoria da UNE, que acontece nesta quinta-feira (1), na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), às 9 horas, com ato público em defesa da reforma política com financiamento público de campanha. Na sexta (2), a nova diretoria realiza sua primeira reunião.

Joana Paroli, secretaria nacional adjunta da Juventude do PT, acrescentou que o 19º Encontro do Foro de São Paulo tem um significado bastante especial por ocorrer neste momento de mudança no panorama politico.

"Não esperávamos essa magnitude dos protestos, essa retomada do povo na luta por direito, inclusive de ir às ruas. Uma luta que conseguiu unificar setores, não somente a juventude. A agenda das ruas pede mais Estado, mais qualidade no serviço publico e a reconfiguração do sistema político. Também denunciou o monopólio da mídia e pede uma democracia participativa com maior participação. Na nossa opinião a agenda das ruas foi, no mínimo, antineoliberal e pela valorização da esfera pública", resumiu a representante da Juventude do PT, concluindo que as juventudes organizadas brasileiras têm pela frente grandes desafios. 

Por uma educação pública de qualidade

No total, 20 jovens expuseram a realidade em seus países e as principais frentes de combate de suas organizações, ligadas a partidos políticos da Argentina, Peru, Equandor, Nicarágua, Cuba, Bolívia, Venezuela, África, entre outros.

Matheus Fiorentini, secretário-executivo da Organização Caribenha e Latino Americana de Estudantes (Oclae), que tem entre suas premissas a luta anti-imperialista, lembrou as diversas situações nos países latino-americanos e sintetizou o sentimento presente nos movimentos em diversos países da região, que recentemente têm como principal reivindicação a educação pública de qualidade.

“Este é um momento de enfrentamento onde travamos uma luta por educação pública de qualidade em todo o continente, onde vivemos uma realidade onde 50% das matrículas do ensino superior estão na iniciativa privada, nas mãos do capital internacional. E por isso estamos engajados nessa luta. No Brasil, a UNE luta pela aprovação da reforma universitária; na Colômbia onde devemos aprovar, em agosto, uma lei de educação superior, fruto do trabalho do movimento estudantil colombiano; no Equador, movimentos também estão lutando; na Argentina da mesma forma, onde há a necessidade de uma nova lei; no Peru, onde os estudantes estão indo às ruas por uma melhor educação superior. É uma luta que está se fortalecendo e está difundida entre os jovens da região e que é resultado do avanço das políticas sociais dos movimentos e governos progressistas que avançam em nosso continente”, salientou Matheus, lembrando que, por conta dessas demandas, a Oclae convoca a campanha “Educação não é mercadoria, é direito humano”.

O objetivo da campanha é construir uma proposta de integração da educação, na Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac) , a criação de um espaço latino-americano e caribenho de educação superior, com um sistema universitário integrado da América Latina para promover uma educação que reforce a identidade latino-americana e preserve a soberania dos povos.