Presidente libanês discursa sobre Exército e critica resistência

“É difícil saber por onde começar a comentar sobre o discurso do presidente do Líbano, Michel Suleiman, por ocasião do Dia das Forças Armadas, em que ele decidiu soltar um ataque verbal contra a resistência”, representada pelo partido libanês Hezbolá, diz Jean Aziz, professor, jornalista e apresentador de um programa no Líbano, em artigo desta sexta-feira (2), no portal Al-Akhbar. “Tudo no discurso de Suleiman (o momento, conteúdo, tom e contexto) foi confuso, para dizer o mínimo”, completa.

Michel Suleiman - EPA / The Telegraph

“No centro do discurso do presidente estava não apenas uma declaração de guerra contra o Hezbolá, mas uma chamada para a colocação de todas as armas sobre o comando pessoal de ninguém menos do que do próprio Suleiman”, afirma.

Aziz diz que as justificativas são as mesmas palavras de tom elevado que têm sido repetidamente desenterradas ao longo dos anos contra a resistência, como segurança, soberania, dignidade, direitos, terrorismo, confiança, perseverança e democracia.

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“Como tudo isso aconteceu? A pessoa que escreveu o discurso provavelmente pensou nesta linha: Primeiro, o Ocidente tomou a decisão de isolar a resistência, o que foi recentemente transformado de retórica para a prática pela União Europeia (UE)”, continua, em referência ao problemático anúncio do bloco europeu de inclusão do chamado "braço militar" do partido na sua lista de "organizações terroristas".

Além disso, “a Síria está ocupada demais com seus problemas para conseguir ajudar. Mesmo que a crise lá diminua, em alguma medida, haverá ainda um longo tempo antes que consiga desempenhar qualquer tipo de papel no Líbano outra vez”.

E Michel Aoun, ex-general do Exército e líder do Movimento Patriótico Livre, da Aliança 8 de Março, “é aliado do Hezbolá, com diferenças crescentes entre eles que podem ser levadas a uma disputa mais profunda, enquanto o comandante do Exército, general Jean Kahwaji, está agora vinculado aos caprichos de um ministro após a extensão do seu mandato” como comandante, anunciada nesta semana pelo primeiro-ministro interino Tammam Salam.

“Assim, as circunstâncias são ideais para assumir o poder: Já nenhuma força será permitida a colocar-se acima do Exército, que por sua vez precisa responder ao presidente para impedir qualquer vácuo no topo”, analisa Aziz.

Entretanto, o professor ressalta que nenhuma menção foi feita “à miríade de problemas sociais dos cidadãos comuns devido à corrupção descuidada em todos os níveis do governo. Esta é a essência do discurso de Suleiman. Ele inflou o Exército a um nível acima de todas as outras instituições do Estado e depois nos lembrou do parágrafo 49º da Constituição, que diz que o presidente da República é o comandante-em-chefe das forças armadas”.

Com relação aos problemas mais profundos do sistema político do país, Aziz afirma, não houve qualquer menção a eles. “O presidente esqueceu, por exemplo, que foi nomeado comandante do Exército por um oficial sírio, e depois se tornou presidente (em violação da Constituição), com o consentimento do capital estrangeiro”, disse.

Com Al-Akhbar,
Da redação do Vermelho