Brasil pode descobrir empresas que ajudam na espionagem dos EUA 

 A Câmara e o Senado vão ouvir em audiência pública representantes de empresas de telecomunicações e internet que teriam colaborado com o esquema de espionagem montada em Brasília, pelo Governo dos Estados Unidos, para o monitoramento de e-mails e ligações telefônicas de organizações e cidadãos brasileiros. E convidar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, para discutir as denúncias confirmadas pelo jornalista norte-americano Glenn Greenwald em audiência nesta terça-feira (6).

O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES) anunciou que empresas de telecomunicação e as que operam internet no Brasil, como Facebook, Twitter, Google e Microsoft serão convidadas para esclarecer denúncias de colaboração no esquema de espionagem que o governo dos Estados Unidos operava no Brasil.

Em audiência pública no Senado, nesta terça-feira (7), o jornalista Glenn Greenwald confirmou o esquema de espionagem. Segundo o colunista do The Guardian, os Estados Unidos usam como desculpa o terrorismo e a segurança nacional, mas na realidade promovem uma ampla espionagem para dar vantagem aos americanos em negociações com outros países.

O jornalista disse aos parlamentares das comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara e do Senado, que o governo brasileiro pode descobrir quais empresas aqui no País colaboraram com o esquema que permitiu que a Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA) tivesse acesso a cerca de 5 bilhões de comunicações de cidadãos, empresas e do governo brasileiro.

O jornalista é colunista do jornal britânico The Guardian e tornou públicos os documentos sobre o esquema de espionagem norte-americana denunciado pelo ex-colaborador da CIA Edward Snowden.

Atitudes concretas X Protestos

Greenwald explicou que a agência conta com o apoio de uma grande empresa de telecomunicações norte-americana que acessa as comunicações de cerca de 16 países. Essa empresa se valeria dos acordos operacionais com empresas sediadas nesses países para ter acesso às informações e as repassaria ao governo americano.

O jornalista diz que a parceira que atua no País pode até não saber que os dados estão sendo repassados, mas ele acha isso improvável. "A questão para o Brasil é qual empresa brasileira está trabalhando com essa empresa e se está sabendo o que essa empresa americana está fazendo. Eu acho que só o governo brasileiro, o Congresso brasileiro pode obrigar essas empresas a responder."

O jornalista afirmou que os Estados Unidos se negam a discutir a invasão de privacidade em público porque esperam convencer os governos a não tomar atitudes concretas contra sua ação, limitando-se a protestar. Ele acredita que os países só vão reagir de verdade à invasão americana se houver pressão da população.

Para o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), também é importante averiguar se não há pessoas de dentro do governo brasileiro atuando nesse esquema de espionagem: "Nós já tivemos um caso em que foi detectada a ação da Polícia Federal em ações coordenadas no governo Fernando Henrique Cardoso e precisamos saber se isso não está voltando a ocorrer agora em que a ação americana é muito mais ampla e muito mais forte".

Novas revelações

O jornalista disse que ainda não publicou nem a metade das informações contidas nos mais de 20 mil documentos que recebeu de Edward Snowden sobre a espionagem. Ele informou que tem trabalhado com especialistas para desvendar todos os documentos e que deve fazer novas revelações em cerca de dez dias.

A desculpa oficial do governo é de que a vigilância se destina a coibir o terrorismo, mas ele afirmou que há muitas informações comerciais e industriais e de governos, o que leva à conclusão de que essa espionagem visa obter vantagens e econômicas e aumento do poderio político.

Glenn Greenwald afirmou que o mais grave de toda essa ação é que mais de 70 mil pessoas, mais da metade deles funcionários terceirizados, trabalham nesse esquema e têm acesso às informações coletadas sem qualquer tipo de limite.

Para o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Nelson Pellegrino (PT-BA), esse descontrole sobre o acesso às informações é ainda mais preocupante. "É um universo de milhares de pessoas, que estão monitorando informações da individualidade das pessoas, segredos individuais e empresariais e segredos de Estado”, destaca o deputado.

“E isso é muito preocupante, não só pela ilegalidade, mas pela possibilidade do vazamento dessas informações e dessa utilização no plano comercial e no plano das relações diplomáticas", acrescenta Pellegrino.

Da Redação em Brasília
Com Agência Câmara