Com discurso vazio, Cartes toma posse no Paraguai

Nesta quinta-feira (15), dia em que o Paraguai comemora seu 476º aniversário, o ex-presidente do Paraguai, Federico Franco, tachado no país como golpista, entregou o bastão presidencial para Horácio Cartes, de 57 anos. Em seu discurso inaugural, de maneira genérica, o novo presidente prometeu um governo "patriota, honrado, capaz, eficiente e inclusivo" e que centrará os esforços na luta contra a pobreza.

Horacio Cartes, após jurar como Presidente/ Foto: Andrés Cristaldo, ABC Color

O controvertido empresário declarou que seu compromisso de governo será reduzir significativamente os níveis de pobreza no país, bem como dar “oportunidade” a todos. “Reitero neste solene ato que nossa obsessão é ganhar cada batalha da guerra que hoje declaramos à pobreza no Paraguai”. Pobreza esta que atinge 40% dos cidadãos do país, enquanto outros 20% se encontram na pobreza extrema. E acrescentou: “resisto a tolerar que se proclame dignidade enquanto tenhamos os índices de pobreza que temos e enquanto tantos paraguaios sigam migrando em busca de melhor futuro em outras terras deixando tantas famílias desintegradas”, afirmou em seu discurso.

Leia também:
Paraguai de Cartes será um entrave à integração, diz Frente Guasu
Pelao Carvallo: A continuidade golpista
Cartes: a volta de um stronismo sem Stroesner?

Sobre a questão da democracia, Cartes declarou que ela não é um fim, mas um meio. "Nós ponderamos nossa democracia, mas acima de tudo devemos dar a ela conteúdo. Podemos nos orgulhar da democracia se ainda é a mesma, ou maior a quantidade de pobres? Podemos gritar que consideramos a democracia, mas somos capazes de oferecer oportunidades de trabalho decente para o nosso povo? Ponderamos a democracia, falamos de liberdade, exigimos justiça para todos, mas fundamentalmente estamos empenhados em fazer com que cada um dos habitantes do Paraguai tenha as mesmas oportunidades de trabalho, educação, saúde e segurança. Que haja pão e trabalho em cada casa paraguaia", discursou.

Relações exteriores

Diante das presidentas do Brasil, Dilma Rousseff e da Argentina, Cristina Kirchner, e do presidente do Uruguai, Pepe Mujica, Cartes evitou se posicionar a respeito da volta do país ao Mercosul. O novo chanceler do país, Eladio Loizaga, declarou que o novo governo analisará sem apuros o retorno ao bloco regional. “Nosso país nunca saiu do Mercosul e neste momento, recupera plenamente todos os direitos que lhe corresponde” e informou que a prioridade serão as negociações bilaterais “não ‘mercosunizaremos’ as relações”.

Apesar de não ter sido convidado para a posse, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, enviou uma nota saudando o novo presidente. Maduro não recebeu convite porque o Paraguai não aceita que o país caribenho tenha ingressado no Mercosul após sua suspensão. Outro fato contestado pelo Paraguai é a entrega da presidência pro-tempore do bloco à Venezuela. Em solidariedade a Maduro, os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e do Equador, Rafael Correa, não compareceram à cerimônia em Assunção.

“Anima-nos a franca disposição de manter as mais cordiais e fecundas relações bilaterais, antes de agravar diferenças conjunturais. (…) Nos âmbitos multilaterais apostamos no fortalecimento dos organismos sub-regionais, regionais e mundiais” e acrescentou que seu governo participará de tais organismos para consolidar a democracia, fomentar a democracia, fomentar a integração, a cooperação e a vigência dos Direitos Humanos.

Resta saber como o novo mandatário irá conduzir a questão do julgamento do massacre de Curuguaty — no qual morreram 17 pessoas e cujo desenlace foi utilizado para o “julgamento político”, ou golpe contra Fernando Lugo — e que encaminhamento dará às questões sociais como a dos professores que mantêm uma greve nacional há duas semanas em metade dos centros educativos por modificações na lei de aposentadoria e o pagamento dos salários atrasados há meses.

Da Redação do Vermelho,
Vanessa Silva