Líder do Hezbolá revela detalhes da Guerra de Julho com Israel

Hassan Nasrallah, secretário-geral do partido e movimento de resistência islâmica do Líbano, Hezbolá, emitiu uma advertência nesta quinta-feira (15) contra Israel, ao afirmar que a Resistência impedirá qualquer invasão da fronteira, da forma que achar necessário. Nasrallah também fez declarações sobre as circunstâncias à volta da invasão israelense desta semana, na região de Labbouna, combatida pelo Hezbolá, e revelou detalhes sobre a Guerra de Julho, de 2006.

Hassan Nasrallah - Al-Akhbar

Nasrallah disse que a explosão em Labbouna, que atingiu uma unidade israelense dentro do território do Líbano, não foi resultado de uma mina terrestre antiga, mas dispositivos explosivos recentemente instalados pela Resistência. O líder disse que o Hezbolá “não tolerará qualquer invasão terrestre da nossa terra”.

A incursão israelense desta semana não foi a primeira, e diversas denúncias têm sido feitas pelo Hezbolá e outros grupos, assim como pelo próprio governo libanês. Nasrallah disse ser risível que “após 65 anos de confrontos com Israel [desde que o Estado israelense foi declarado, em 1948, através da ocupação de territórios árabes], ainda há pessoas no Líbano que pedem à ONU para detê-los”.

Além disso, Nasrallah acusa a elite libanesa de manter-se em silêncio contra a incursão israelense, sem ações práticas. Este aspecto também foi criticado por outros, como o jornalista Ibrahim Al-Amin, que disse que a estratégia de defesa do Líbano é “advertir” o inimigo, em referência às declarações oficiais que pediam à ONU uma condenação.

A organização mantém uma missão, as Forças Interinas da ONU no Líbano (UNFIL), na fronteira com Israel, desde a década de 1970, com o objetivo inicial de monitorar a retirada das forças israelenses do território libanês, após a invasão de 1978.

Nasrallah também fez referência ao pedido do presidente do Líbano, Michel Suleiman, de submeter uma queixa à ONU contra Israel; para o líder da resistência, esta foi um “posicionamento fraco”.
“Aceitamos que a comunidade internacional trate igualmente as vítimas e os executores, e aceitamos que ela condene Israel e também a nós mesmos. Mas é nosso direito não mantermo-nos em silêncio sobre qualquer violação do nosso território”, disse.

Guerra de Julho em detalhes

Em uma entrevista à emissora al-Mayadeen, Nasrallah falou com detalhes sobre a Guerra de Julho: “Estávamos preparados para uma longa batalha, não menos de seis meses”.

“Quando os dois soldados israelenses foram capturados [em 2006], estávamos protos para qualquer confronto, ou seja, guerra; estávamos esperando por isso ainda antes, e acreditamos que a guerra apenas foi postergada para aquele ano”.

O secretário-geral também sublinhou que, ao contrário do que se poderia supor, a resistência protegeu a capital, Beirute, e não a liderança política. “Os israelenses não se importam com qualquer pressão política, e é por isso que pusemos Dahiyeh [subúrbio xiita de Beirute] contra Tel-Aviv [Israel]. Tínhamos a habilidade de bombardeá-la”.

Sobre o bombardeamento de uma fragata israelense durante a guerra, o que foi a primeira grande surpresa do conflito, além dos mísseis Kornet, que destruíram 200 tanques Merkava e veículos blindados de Israel, Nasrallah disse: “Se a guerra tivesse durado mais 33 dias, teríamos destruído mais centenas de tanques”, já que o Hezbolá teria adquirido da Síria os mísseis anti-tanques teleguiados (ATGM), muito antes da guerra.

              AFP
       
           Em 2006, ataques israelenses devastaram a capital libanesa, Beirute.
 
Segundo Nasrallah o presidente sírio Bashar al-Assad “viu que a agressão contra a Resistência foi regional e internacional, com apoio interno, e que se a Resistência fosse derrotada, a batalha continuaria até atingir a Síria, com as forças israelenses avançando até Damasco. "Durante a Guerra de Julho e desde o início, o Exército sírio estava aberto à Resistência”.

Respondendo à oferta da Síria de participar da guerra para evitar este cenário, Nasrallah disse que tranquilizou o vizinho sobre uma vitória breve e contra o seu envolvimento nos confrontos, “porque não queríamos uma guerra regional, e éramos capazes de ganhar a batalha”.

Em sentido contrário, a Aliança 14 de Março, que estava no poder, com o governo do primeiro-ministro Fouad Siniora, tinha como único objetivo desarmar a Resistência, afirmou Nasrallah. “Fomos contatados durante a guerra por esta facção, que nos ofereceu termos: a deposição de armas pela Resistência, o deslocamento de uma força multinacional para o sul e para a fronteira com a Palestina e a Síria, além da entrega dos dois reféns, mas nós recusamos”.

“Durante a guerra, não sentimos que havia um primeiro-ministro ou uma facção política que simpatizasse conosco, mesmo em termos humanitários. Foi Siniora quem retrasou a solução, no final da guerra. O governo deveria ter transmitido a nossa resposta em acordo com a resolução 1701 da ONU, mas dois ou três dias se passaram sem que as Nações Unidas fossem notificadas.

A resolução, aprovada pelo Conselho de Segurança em 11 de agosto de 2006, foi aceita pelo gabinete no governo libanês, inclusive com o voto favorável de dois membros do Hezbolá e com a declaração favorável do próprio Nasrallah, por um cessar-fogo.

O general Michel Aoun, do Movimento Patriótico Livre (um católico maronita anteriormente contrário ao Hezbolá, mas que assinou um memorando de entendimento com o movimento em 2005), esteve do lado da resistência no evento, como líder do bloco Mudança e Reforma, o que Nasrallah disse não ter sido uma surpresa.

“Quando se trata da posição que estávamos discutindo antes da guerra e a sua visão para a Resistência e a defesa do Líbano, ele tinha se convencido firmemente”, disse o líder do Hezbolá, que classificou a posição de Aoun durante a guerra de “histórica”.

Formação do governo
de unidade nacional

Sobre a formação de um novo governo, Nasrallah lembrou que as conversações sobre um governo neutral é uma farsa, e disse que as circunstâncias atuais no Líbano exigem um governo de verdadeira unidade nacional. Entretanto, sublinhou: “Ainda estamos com Tammam Salam, e o apoiamos como primeiro-ministro”.

Nasrallah disse que a proposta de Saad Hariri para que tanto o seu Movimento do Futuro quanto o Hezbolá ficassem fora do novo governo é essencialmente uma exigência dos Estados Unidos.

O Hezbolá foi acusado de estar por trás dos foguetes disparados em Yarzeh, devido à posição do presidente Suleiman na possibilidade de endossar um governo estabelecido, o que Nasrallah criticou como “ridículo”, ao anunciar que há pistas promissoras nas investigações.

Durante a guerra, Nasrallah disse ter confiado ao porta-voz parlamentar Nabih Berri as negociações, e não ao presidente Emile Lahoud, não porque Berri é xiita (a mesma vertente do Islã de que é o Hezbolá), mas porque Lahoud foi boicotado pelas potências estrangeiras, depois da extensão do seu governo.

“Não teria confiado em Fouad Siniora porque ele não era confiável nesta questão. A batalha das negociações foi essencialmente com Siniora e sua equipe política, e não com os norte-americanos ou os europeus, e se tivéssemos dado a eles nossas cabeças, eles as teriam cortado”, disse.

O líder continuou para afirmar que confiou nos ex-primeiros-ministros Salim Hoss (sunita) e Omar Karimi (que liderou um governo declaradamente favorável à influência da Síria) “as nossas vidas e a nossa causa, então, a questão não é sectária, mas política”.

Com informações do portal Al-Akhbar,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho