Publicado 18/08/2013 10:38 | Editado 04/03/2020 16:27
As revelações do ex-agente secreto americano Edward Snowden não representam uma novidade para os que conhecem a mentirosa diplomacia norte-americana, mas escancara para o mundo a enorme farsa que impregna a mentalidade burguesa contemporânea. Snowden certamente sabia da extensão do seu ato, pois será perseguido e provavelmente morto mesmo que se esconda no inferno! Não importam os motivos que o levaram a tal decisão extrema, a busca da fama, drama de consciência ou como é próprio da cultura do seu país, tornar-se mocinho de um futuro filme de intriga internacional.
A mentalidade que perpassa a coletividade americana divide as criaturas humanas entre os do bem e os dos mal, mocinhos e bandidos, sem que exista mediação possível, pois assim, ou se está com eles ou contra eles. Tal dispositivo reproduz sob o império do sistema jurídico político “democrático” o absolutismo ético que levou o nazismo a transformar a exceção em regra. Os Estados Unidos fazem isso quando invadem militarmente muitos países mundo afora e agora espetacularmente isso se mostra na descarada espionagem praticada internacionalmente.
É bom lembrar que os Estados Unidos nunca aceitaram assinar o tratado para integrar o Tribunal Penal Internacional de Haia e nisso são coerentes com a farsa que laçam ao mundo. A mídia planetária alinhada com esse contraditório e absurdo (des)regramento tenta naturalizar tudo que foi revelado por Assange e Snowden.
A internet que tem servido algumas vezes para desmascarar a mentira da liberdade americana é controlada por empresas estadunidenses e pela Casa Branca. A brutal enormidade disso tudo é o estado de exceção que se nega a cumprir as leis da civilidade que devem imperar entre os homens. Noutra perspectiva, isso aconteceu no nazismo que tornou legal o campo de concentração e deu à voz do führer a dimensão de princípio ético.
Os americanos desde sua constituição como República bradam ao mundo a defesa da liberdade e dos direitos humanos no contexto de uma ética extremamente individualista. Tal dispositivo se confunde com a mentalidade burguesa espalhada pelo planeta, portanto, a liberdade vale para eles, porque o resto do mundo deve submeter-se à sua visão econômica e política ou do contrário, serão espionados, controlados e até invadidos.
O inconsciente coletivo desse país não deve ser confundido com Orlando ou Disney e tampouco com as boas universidades americanas, mas pensado como monstruosa locomotiva do mercantilismo que estimula o narcisismo destruidor das pessoas e dos grupos. Snowden talvez seja uma espécie de santo ou herói desse maravilhoso mundo eletrônico que ameaça transformar progresso em barbárie.
A minha concepção de que a política mundial tem um motor paranoico ganha força nessa violência midiática. Carl Schmitt, genial jurista do nazismo, já havia estabelecido o inimigo como conceito fundante da política e, portanto, corroborando com essa visão que os Estados Unidos confirmam na prática. A diplomacia no complexo sistema sociopolítico mundial e brasileiro certamente tentará minimizar a brutalidade da farsa americana.
*Valton de Miranda Leitão é psicanalista
Fonte: O Povo
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