Descentralizado, 'Estéticas das Periferias’ chega a sua 3ª edição

Serão mais de 150 atrações espalhadas por toda a cidade; encontro irá ocupar 42 espaços culturais em São Paulo, sendo que 39 deles estão nas periferias.

O Encontro Estéticas das Periferias chega a sua terceira edição. Com exposições, shows e rodas de conversas, o evento, que começa nesta terça-feira (27) e vai até o dia 1º de setembro, irá ocupar 43 espaços culturais, 40 deles nas periferias e subúrbios.

Com curadoria coletiva, proposta por diversas organizações culturais, instituições acadêmicas e das áreas de comunicação, o Estéticas das Periferias deste ano vai debater e refletir sobre processos criativos e percursos para a criação artística. Serão mais de 150 atrações espalhadas por toda a cidade. Destaque para os 16 CEUS, 8 Fábricas de Cultura, os roteiros do Ônibus- Biblioteca, CCJ,CFC de Cidade Tiradentes e CC da Penha . Com tantos espaços assim, multiplicamos asatividades.

Além disso, também difundirá essa cultura em saraus, shows, exposições, teatro, música, poesia, hip hop e literatura. Entre as novidades deste ano está a exposição das camisas de times de futebol de várzea, que acontecerá no Museu do Futebol.

O Estéticas das Periferias foi pensado para ser um ciclo de três eventos. Agora, o encontro se propõe a ser um espaço permanente para a difusão da produção artística da periferia paulistana e de outras periferias do Brasil.

Programação e mais informações na página do evento.

Abaixo, o manifesto:

A periferia tão longe e tão perto

A Cidade de São Paulo segrega a periferia socialmente, economicamente, esteticamente

Em São Paulo, a força da grana destrói muito mais do que ergue coisas belas, mano Caetano.

Por mais que o povo não queira, a Cidade muitas vezes dá razão a Criolo: “Não existe amor em SP”.

“A periferia nos une pela cor, pela dor e pelo amor”, conclama o poeta Sergio Vaz no seu Manifesto da Antropofagia Periférica.

Apesar das 34 pontes existentes sobre os rios Tietê e Pinheiros, os lados da cidade não se comunicam, justificando o nome da via que corre paralela a seus leitos: Marginal.

“A vida é diferente da ponte pra cá”, diz os Racionais MC’s.

“Nóis é ponte e atravessa qualquer rio”, desafia o poeta Marco Pezão.

A ponte é ao mesmo tempo metáfora do encontro e da separação. A Mostra Estéticas das Periferias quer a travessia, de lá para cá, de cá para lá, depende de onde se está.

Buscaremos o fluxo, o encontro, o diálogo. Queremos explorar conexões e conflitos, armas tramas urbanas. Artistas do Centro e da Periferia: Uni-vos!

Reiteramos o manifesto oswaldiano:“A alegria é a prova dos nove”.

Oswald pregava em seu manifesto antropofágico: “é preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à ideia de Deus”. Entendemos que é preciso um profundo sentido periférico para se chegar a uma ideia de Centro.

Sem a Periferia não existe o Centro.

Pretendemos deslocar o Centro para a Periferia e a Periferia para o Centro. Inverter a lógica urbana desagregadora. Questionar estereótipos. A periferia tão longe, pode estar perto. Judas perderá as botas nos bairros nobres. Os Jardins terão uma nova trilogia: Jardim Irene, Jardim Miriam, Jardim Ângela. Assim como as três vilas: Mariana, Olímpia e Madalena cederão lugar para Vila Albertina, Vila Brasilândia e Vila Zilda.

Só a arte é capaz dessa subversão. ”No universo da cultura o centro está em toda parte” ensinou o jurista Miguel Reale, frase lapidar que está imortalizada na Praça do Relógio do Campus da USP no Butantã, do outro lado da ponte da Cidade Universitária.

A Mostra Estéticas das Periferias revelará que o circuito das artes da cidade de São Paulo vai muito além do que sugere os guias culturais da grande imprensa, para os quais a cena cultural se restringe a pouco mais de 20 dos 96 distritos da capital.

A arte estará em toda parte, principalmente na periferia, onde o agito cultural é permanente, nas ruas, bares, galpões, praças, sacolões.

Por Antonio Eleilson Leite, coordenador de cultura da ONG Ação Educativa

Fonte: Encontro Estéticas das Periferias