Israel movimenta tropas apesar das forças da ONU no Golã sírio

Um número incomum de soldados israelenses moveu-se em direção aos territórios sírios ocupados, nas colinas de Golã, de acordo com fontes locais, em informações publicadas nesta quinta-feira (29), pelo portal Middle East Monitor (Memo). Entretanto, durante a intensificação do discurso agressor e intervencionista contra a Síria, o papel da Força das Nações Unidas para a Observação do Desengajamento, no Golã desde 1974, ainda não foi avaliado.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

Avigdor Lieberman - Memo

Na continuação da incitação feita pelo governo israelense à intervenção ocidental contra a Síria, o chefe do Comitê de Segurança e Relações Exteriores do Parlamento (Knesset), Avigdor Lieberman disse que Israel “pode não ter alternativa” ao envolvimento na ofensiva.

Em meio às crescentes declarações de iminência de uma intervenção militar contra a Síria, e além do número incomum de soldados dirigindo-se às colinas de Golã, um exercício militar foi feito nesta quarta (28), em Al-Ja’ouna, uma antiga vila palestina na Galileia (território israelense desde a expulsão dos seus residentes, em 1948), na fronteira com o território sírio.

De acordo com as fontes locais citadas pelo Memo, a área tem sido arrebatada nos últimos dias por níveis extraordinários de movimentação militar pesada, com explosões intensas, motivo pelo qual os residentes da área ao sul teriam sido evacuados ou instruídos para a proteção das suas casas.

Além disso, as forças israelenses continuam a construir cercas de metal altas na área de Buq’ata, segundo as fontes, e o portal de notícias de Israel, Ynet, teria afirmado que tropas de segurança e emergência nos territórios sírios ocupados (Golã) haviam começado um exercício militar de dois dias.

O porta-voz das Forças Armadas israelenses disse que os exercícios não estão conectados com a iminência de uma intervenção militar à Síria, mas sim ao programa de treinamento previsto para o ano de 2013.

Entretanto, além das recentes declarações de autoridades israelenses, inclusive do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, sobre a “urgência” de uma intervenção contra a Síria, Lieberman (que é o chanceler israelense, mas cujo cargo é ocupado interinamente por Netanyahu, já que está em julgamento por corrupção) disse esperar que a situação não chegue ao envolvimento israelense na ofensiva, mas que o país pode não ter alternativa.

O parlamentar orientou os cidadãos de Israel, enquanto isso, a comprar máscaras de oxigênio, medida que já tem sido registrada em pico pela mídia nacional, no afã que busca legitimar entre a população um eventual envolvimento israelense em qualquer ofensiva internacional a ser lançada contra a Síria.

Forças da ONU na região

Por outro lado, o Memo e as fontes citadas não mencionaram o papel e a possível reação da Força das Nações Unidas para a Observação do Desengajamento (UNDOF, na sigla em inglês), que está no Golã sírio desde 1974, logo após a chamada Guerra Árabe-Israelense de 1973, principalmente entre Egito, Síria e Israel, além da participação de outros países árabes.

Os “observadores” (estatuto dos soldados da missão de observação do cessar-fogo, ou seja, de “manutenção da paz”, sem autorização para envolver-se em combates) foram enviados para monitorar “uma área de separação” entre as potências rivais, e o mandato da missão foi ampliado e estendido pelo Conselho de Segurança em junho, para que fique na região por mais seis meses.

A missão teve sua estrutura abalada com a crescente violência na região fronteiriça, que levou a Áustria a anunciar a retirada de seus 377 efetivos, em 6 de junho. No mesmo mês, a República das Fiji enviou 501 soldados para a substituição dos austríacos e para o aumento do contingente.

Entretanto, o comandante dos "peacekeepers" (soldados de manutenção da paz, em inglês) no terreno, o tenente general indiano I. S. Singha escreveu um artigo para a página oficial da missão, há uma semana, em que diz que a UNDOF "continua a enfrentar os impactos do conflito sírio em sua área de responsabilidade. Com os reforços que a missão recebeu, estou confiante, entretanto, de que a UNDOF está bem equipada e preparada para os desafios que a situação apresenta".

Tratando-se de uma “operação de manutenção da paz” sem autorização para o uso da força, os episódios de violência, como a atuação dos grupos armados na Síria, que ultrapassaram a “Área de Separação” e tomaram o controle de uma estação síria, foram vistos como um risco à missão internacional. O evento ocorreu após confrontos entre os paramilitares e o Exército sírio, na região de Quneitra, retomada pelas forças nacionais.

A crescente preparação para uma intervenção militar no país, entretanto, mesmo sem o consentimento do Conselho de Segurança (o que já foi declarado como possibilidade pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos), colocará em questão, mais uma vez, o papel da ONU na região, onde tem diversas missões com status de “observador”.