Unasul discutirá passaporte sul-americano e questão Síria

Um país “não latino”, de fala holandesa, recebe, nesta sexta-feira (29), a 7ª Reunião Ordinária do Conselho de Chefes de Estado e de Governo da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). O Suriname, que receberá do Peru a presidência temporária da entidade pela primeira vez, terá pela frente o desafio de dar coesão e protagonismo ao bloco de integração regional durante sua gestão de um ano.

Por Vanessa Silva, para o Portal Vermelho

Unidade e entendimento mútuo serão os lemas do Suriname na presidência da Unasul/ Foto: Efe

A reunião da Unasul deverá tratar de temas caros à integração regional, como a eliminação da necessidade de visto para cidadãos dos países membros do bloco até 2019; a criação de um centro de arbitragem regional — proposto pelo presidente do Equador, Rafael Correa —; a questão envolvendo o retorno do Paraguai ao bloco — o país estava suspenso desde junho de 2012, após o golpe de Estado que destituiu o ex-presidente Fernando Lugo — e será realizada uma homenagem ao ex-presidente da Venezuela e um dos maiores impulsionadores da integração latino-americana, Hugo Chávez.

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Participarão da reunião os presidentes Evo Morales (Bolívia), Dilma Rousseff (Brasil), Rafael Correa (Equador), Bharrat Jagdeo (Guiana), Horacio Cartes (Paraguai), Ollanta Humala (Peru), Desiré Delano Bouterse (Suriname) e Nicolas Maduro (Venezuela). Não participarão do evento os presidentes Juan Manuel Santos (Colômbia), Sebastián Piñera (Chile), Cristina Kirchner (Argentina) e José Mujica (Uruguai).

Temas sensíveis

Os mandatários sul-americanos terão pela frente temas delicados no tocante à diplomacia e relações bilaterais. A mais recente é a que envolve o Brasil e a Bolívia pelo caso da fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina — condenado pela justiça de seu país por corrupção — para o Brasil em carro diplomático. A presidenta brasileira, Dilma Rousseff, deverá conversar com seu homólogo a respeito do que será feito do futuro do senador, que teve asilo concedido pela embaixada brasileira.

A relação Paraguai-Venezuela também gera expectativas, uma vez que o presidente paraguaio, Horácio Cartes, hostilizou o mandatário venezuelano ao não convidá-lo para sua posse no começo do mês. O Paraguai questiona a presidência temporária da Venezuela e a forma como o país caribenho ingressou no Mercosul após sua suspensão do bloco. O congresso do Paraguai — dominado à época do governo Lugo pela direita — se negava a autorizar o ingresso da Venezuela no grupo regional. Assim, com a suspensão do país, os demais integrantes, cujos congressos já haviam autorizado o ingresso do novo membro, autorizaram a entrada da Venezuela ao Mercosul.

O chanceler do Paraguai, Eládio Loizaga, afirmou, durante o encontro de chanceleres, prévio à Cúpula no Suriname, que não haverá nenhum conflito entre Cartes e Maduro em Paramaribo.

Maduro entregou, nesta sexta-feira (29), uma comunicação para que o grupo estude a possibilidade de reformar alguns estatutos da Unasul, que, na visão do país conspira contra a estabilidade do bloco e poderia burocratizá-lo.

Assuntos de interesse internacional também terão espaço na cúpula, como o conflito na Síria, as negociações para a paz na Colômbia e a soberania argentina das Malvinas. De acordo com o Suriname, além dos temas mencionados, o país tratará como prioridade a proteção à população jovem e trabalhará pela unidade e entendimento mútuo dos membros.

Desafios da Unasul

O chanceler da Venezuela, Elias Jaua, evidenciou, nesta sexta (29), a necessidade de criar uma doutrina de defesa comum no âmbito da Unasul: "Estamos obrigados a desenvolver uma doutrina de Segurança e Defesa para proteger nossa paz, a paz desta região".

"A América do Sul tem que enfrentar o desafio de um mundo sob a ameaça permanente de agressão imperialista em busca de recursos naturais", disse Jaua, lembrando que o bloco tem um Conselho de Defesa dinâmico com um número significativo de reuniões e apresentações de propostas.

O ministro de relações exteriores do Equador, Ricardo Patiño, ressaltou a necessidade de fortalecer o bloco regional: "estamos aqui no Suriname para continuar a trabalhar no sentido de fortalecer a Unasul, reforçar o seu papel na América Latina como uma organização inclusiva e continuar impulsionando o crescimento do nosso povo".