Perpétua Almeida: Voto secreto, vergonha nacional 

Sentada na minha cadeira, na bancada do PCdoB, assisti constrangida a um deputado presidiário subir à tribuna da Câmara dos Deputados para se dirigir ao Brasil. Eu tive ali um mau pressentimento, tive a sensação de que o olhar dele procurava os seus comparsas. Talvez, os tenha encontrado.

Por Perpétua Almeida*

Bastou alguma horas depois para que o plenário da Câmara dos Deputados, naquela sessão de quarta-feira (28), envergonhasse o Brasil. Resultado que deixou todos os 233 deputados que votaram pela cassação do mandato do deputado federal Natan Donadon estarrecidos e extremamente constrangidos. E eu fui além e postei nas redes sociais a minha vergonha com aquele resultado.

Inadmissível manter um condenado como deputado, afinal à luz do direito ao ser condenado, preso por roubo e não ter mais direito a recurso judicial, o parlamentar perde os seus direitos políticos!

Na minha avaliação, crimes como o de Donadon, desvio de dinheiro público, precisam entrar na lista de crimes hediondos. A corrupção aumenta a miséria, o crime, a marginalidade. O Brasil tem que ser intolerante e radical contra a corrupção.

Eu sonho ainda com um parlamento digno e o dinheiro público sendo aplicado no bem do povo por todos aqueles que assumem as instâncias de poder. Sem essas bases, a política vai se transformando num bate-boca, na disputa de quem rouba menos.

Para nosso alento, quase a metade dos deputados mostrou estar do outro lado. Do lado correto! Estou falando dos 233 parlamentares que votaram pela cassação. Estes são a minha esperança de sair da retaguarda para a vanguarda. Aos outros, os que se aproveitando do segredo do voto, rejeitaram a cassação e mantiveram o mandato do homem condenado pelo Supremo Tribunal Federal e preso há 40 dias na Papudinha, em Brasília, por peculato e formação de quadrilha, a minha rejeição. É exatamente esse tipo de parlamentar o responsável pela desconfiança e revolta do povo em relação ao Legislativo.

Acredito que as manifestações de junho no Brasil não foram em vão. Sei que a máscara dos maus políticos está caindo. Sinto que a vida política será curta para os que contrariando o próprio tempo insistem no jogo perigoso da política suja.

Que bom que a pressão pelo fim do voto secreto já começou e tende a se intensificar. Desde que cheguei à Câmara dos Deputados faço coro com os que que defendem a transparência, o voto aberto e claro. Agora, a pressão popular vai nos ajudar.

Estou convicta de que o voto secreto, na cassação de deputados, é uma vergonha para um parlamento em tempos de democracia.

*É deputada federal pelo PCdoB do Acre