Fitas amarelas decoram Cuba pela libertação de "heróis" nos EUA

As autoridades cubanas informaram nesta quarta-feira (4), que no próximo dia 12 de setembro haverá uma jornada de “fitas amarelas” para pedir a liberdade dos quatro agentes antiterroristas que seguem presos há 15 anos nos Estados Unidos. 

Fitas amarelas decoram Cuba pela libertação de "heróis" nos EUA - Ladyrene Pérez/Cubadebate

René González, o único dos cinco detidos em 1998 que já está em liberdade, por meio de um discurso público transmitido pela TV nacional, pediu que os cubanos protagonizem uma “jornada especial” para a ocasião do décimo quinto aniversário da detenção de seus companheiros.

O símbolo eleito para a manifestação popular contrária à prisão arbitrária dos "heróis" de Cuba, Gerardo Hernández, Ramón Labañino, Antonio Guerrero e Fernando González, é a fita amarela. Nos EUA, o adereço marca a espera por alguém que está longe e foi imortalizado na canção popular "Tie a Yellow Ribbon Around the Old Oak Tree" (amarre uma fita amarela ao redor da velha árvore de carvalho).

Leia também:

Prisioneiro cubano nos EUA sofre com falta de atenção médica
Esquerda internacional em Nova York apoia os Cinco Cubanos

Gonzáles, que saiu da prisão em 2011 em liberdade condicional, dirigiu um videoclipe com os músicos cubanos Silvio Rodríguez e Amaury Pérez, interpretando a música dos anos 1970. A canção também deve ser reproduzida durante a jornada.

Assista o vídeo abaixo:

Segundo ele, trata-se de “uma mensagem do povo cubano ao povo norte-americano, através de um símbolo de carinho que eles consigam compreender em seu idioma”.

Conhecidos como “Os 5 de Cuba”, os rapazes espionavam "grupos terroristas de exiliados" que conspiravam contra o governo cubano.

Para a próxima quinta-feira (12), ativistas também pretendem realizar uma vigília em Washington, em frente à Casa Branca, para pedir ao presidente Barack Obama a libertação dos agentes.

Leia abaixo o discurso de René Gonzáles na íntegra:

Queridos compatriotas,

Antes de tudo peço desculpas por irromper este momento. Sei o que significa este espaço para a família cubana e prometo que serei breve, mas é necessário que esta alocução chegue a maior audiência possível.

Como se sabe, no próximo dia 12 de setembro, se cumprirão 15 anos de nossa prisão. Todos os anos se faz uma jornada tanto nacional, como internacional, para demandar que seja perpetrada a justiça. No entanto, queremos que a jornada deste ano, realizada entre os dias 5/9 e 6/10, seja única, que seja especial, e que seja protagonizada por vocês.

Quinze anos na vida de um ser humano é muito tempo. Os filhos crescem, se convertem em homens, em adolescentes; familiares falecem e não estão mais conosco; inclusive, parte da população cubana nasceu nestes 15 anos.

Eu cumpri minha sentença integralmente, mas temos que impedir que isso aconteça com meus outros quatro irmãos, por tudo o que isso implica. Ainda que seja difícil dizer, temos que recordar que para Gerardo, se os designíos do governo norte-americano se cumprirem, ele morrerá na cadeia.

Durante esses anos tivemos como protagonista do carinho do povo cubano. Esse carinho se manifestou de todas as formas possíveis nas cartas, nas mensagens, nos desenhos das crianças e é esse carinho que queremos que seja o protagonista da jornada nesta ocasião.

Eu tive chance de senti-lo, vive-lo e experimenta-lo nas ruas de Cuba, de todas as formas possíveis e em qualquer ponto geográfico da Ilha. Esse é o carinho que estamos pedindo que se manifeste e que vocês façam da forma que quiserem, com toda a diversidade que nos caracteriza como cubanos e, da maneira que cada um considere melhor desde as salas de aula, no trabalho, no bairro ou em seu projeto comunitário.

Para a jornada estamos preparando inciativas que ainda serão anunciadas, mas acreditamos que o mais importantes é que cada um de vocês seja uma dessas iniciativas, da forma que considerar que possa fazê-lo.

Eu só tenho para o povo uma exortação pessoal, requerida de uma história. Quero que no dia 12 de setembro se produza um terremoto no país: um terremoto bonito, um terremoto de amor, uma mensagem do povo cubano ao povo norte-americano, através de um símbolo de carinho que eles consigam compreender em seu idioma: uma fita amarela.

Quero que nesta data o país se encha de tiras amarelas e que o visitante ou o correspondente estrangeiro não consiga ignorá-las nas árvores, nas varandas, nas pessoas e nos animais de estimação. Da maneira como vocês decidirem, encham o país com as fitas amarelas para reportar ao mundo que o povo cubano está esperando por quatro de seus filhos que estão presos nos EUA.

A fita amarela é um símbolo que entrou na cultura norte-americana, que se iniciou durante a Guerra Civil inglesa quando as esposas utilizavam o adereço para indicar que esperavam o retorno dos combatentes.

Logo a simbologia foi passada para a Guerra Civil dos Estados Unidos e, através do tempo, com seus altos e baixos, foi mudando de significado até que nos anos 1970, uma canção voltou a lembrar da tradição.

A música é uma bela história de um preso que está para sair da cadeia e que a única coisa que pede à sua prometida é que coloque uma fita amarela na árvore, se ainda o amar. A letra da canção desenvolve a ansiedade do homem que vai sair do cárcere e a sua espera por saber se irá encontrar o tal símbolo. Quando chega, o homem se depara com cem fitas amarradas em um carvalho.

Assim, a fita amarela se converteu em um símbolo para o norte-americano que espera alguém que está em uma missão no exterior, que espera um soldado, que espera um ser querido e essa é a mensagem que queremos que vocês façam chegar ao povo dos EUA: que saibam que o povo cubano está esperando o retorno de quatro filhos. Que não é somente a família, nem que os conhece pessoalmente, mas que há um país, um povo que espera a volta de seus filhos presos injustamente.

Contamos com vocês para isso, confiamos em vocês. Queremos que seja uma jornada distinta e também queremos que seja a última. Acredito que este é o momento de trazê-los para casa e contamos com o seu apoio.

 

Théa Rodrigues, da redação do Vermelho,
Com informações do Granma e das agência de notícias