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João Marcelo Martins: As tarefas difíceis dos comunistas

Na luta para descobrir e legitimar o petróleo no Brasil, quando parte da elite afirmava que não existia em nossas terras, lá estava o comunista Monteiro Lobato na trincheira pelo desenvolvimento do país, defendendo a existência do mesmo em nosso chão.
Por João Marcelo Nogueira Martins*

No movimento “Fora Collor”, quando os jovens petistas ainda estavam tontos pela derrota sofrida nas eleições presidenciais de 1989, lá estavam os jovens comunistas com a mesma bravura dos jovens do Araguaia, nos debates e nas ruas convencendo lideranças e conduzindo milhões para o vitorioso movimento “Caras Pintadas”.

Tarefa para gigante foi no momento seguinte, no governo do Fernando Henrique Cardoso, quando tivemos que debater, principalmente com a juventude, dada as condições objetivas, não era possível iniciarmos um movimento para derrubar FHC, e sim enfraquecê-lo e ao mesmo tempo aglutinar forças para derrotar o neoliberalismo. Pois bem, nós na trincheira defendemos essa tarefa árdua mais correta. Enquanto isso, parte da militância petista e os movimentos trotskistas e anarquistas achavam que derrubariam o governo entre o intervalo do café da manhã e o almoço.

No movimento sindical, recentemente foi dada aos comunistas a difícil tarefa de criar uma central que tem como principio a unidade dos trabalhadores, a CTB.

Aos jovens comunistas brasileiros há mais de uma década é dada a tarefa de construir o movimento estudantil com suas instâncias livres e democráticas em funcionamento, mantendo a unidade e representatividade de todas as forças que atuam no movimento estudantil junto às suas entidades.

Esta tarefa e de ” lascar”, e para quem tem sangue frio, norte político definido e amor à juventude brasileira. Somos “sacaneados” por quase todas as forças políticas que atuam no movimento, mas em nome da unidade do movimento sofremos e vivemos.

No outro lado do mundo ao exército vermelho foi colocada à tarefa de vencer a maior maquina de guerra do mundo. Morreram milhões, mas hoje a maioria dos estudiosos sobre o assunto compartilha da tese que, sem os comunistas, por terra no lado leste da fronte a história da segunda guerra teria sido outra.

Aos comunistas vietnamitas foi dada a tarefa única: Botar os Yankees para correr, e assim eles fizeram.Em Cuba a tarefa dos comunistas é resistir, e eles resistem bravamente às investidas dos norte-americanos.

No Araguaia os comunistas analisaram que não bastavam fazer foco e foram de mala e cuia viver como e com os ribeirinhos. Ali a tarefa foi resistir com a vida, à tirania do regime.

Passaria a noite listando tarefas heroicas dos comunistas, no entanto, preciso falar de algumas destas colocadas aos parlamentares do nosso Partido, pois compreendendo sempre que estamos em uma nação capitalista.

Vou citar como exemplo o caso do código florestal, que depois de um grande trabalho feito pelo camarada Aldo, viajando por este país afora, dialogando com os que produzem e com os que consomem, ouvindo e falando sempre na tentativa de unir o povo brasileiro.

Pois bem, fruto disso ele apresentou seu projeto corajoso, justo, baseado na proteção e no desenvolvimento da nação. Digno de um grande comunista. Recebeu e cumpriu sua tarefa.No entanto, vejam o que aconteceu: Depois da pressão de uma pequena parte da grande pequena burguesia, que come pizza assada em forno a lenha, mais que nunca botou os pés alvos e delicados dentro de uma broca de Jurema.

Da mídia que representa os interesses dos que não querem o desenvolvimento do país e principalmente das ONGs, boa parte delas equivocadas e financiadas com os recursos dos que não querem um Brasil para o povo brasileiro.

Pois bem, depois da grande exposição da mídia sempre negativa para o projeto, e de ataques diretos conta o Partido e ao glorioso deputado Aldo, a base do PT no Congresso afrouxou, e pior, a presidenta Dilma, surfando na aprovação do seu governo vetou parte da proposta. Veto esse que pode até ter sido justo, mas injusto na condução, pois permitiu a mídia enxovalhar a imagem de um grande homem.

No filme ficou assim: Nossa Presidenta recebendo os ecologistas e eles nos taxando de aliados da UDR.

E olhe que o deputado em questão assim como no episodio da presidência da câmara, (sempre momentos ruins) tinha sido escolhido para a tarefa pelo próprio Presidente Lula. Resultado: O Governo ficou como “os bons”, e nós como “os ruins”.
E claro que somos parte do projeto desde 89, no entanto, precisamos fazer algumas correções. Estamos com mais de dez anos de governo do PT, onde tivemos vários avanços importantes na economia e no social, além da questão importantíssima de termos quebrado preconceitos e elegermos um operário para dirigir nossa nação.

Mas fico a imaginar que nós não precisamos ser mais reais do que o rei. Pois sempre afirmamos como positivo o fato de sermos mais fiel ao Governo do que o próprio PT, (já disse isso muitas vezes, não digo mais) que é preciso unificar a base contra a direita, que nos momentos difíceis lá estão os comunistas para defender o Governo etc…

Precisamos ser mais cautelosos: nem tanto a terra, nem tanto ao mar. Pois e tático avançarmos e recuarmos nos percursos das lutas.

Sendo a frente parlamentar a de maior importância no momento para o nosso Partido, é justo que os nossos posicionamentos nas casas legislativas sejam balizadas, levando em conta várias questões, principalmente a dos interesses da classe trabalhadora.

Quando se trata de matérias dos governos, quase sempre estamos na posição de atacante para defendermos a aprovação, mesmo sabendo que os mesmos, uns mais outros menos, são governos que estão dentro da estrutura burguesa de Estado.

Sabemos que nossa posição no parlamento bem ou mal, reflete nas outras frentes em que atuamos e em tempo real, pois a mídia se encarrega de divulgar.

Nosso voto em matérias como previdência, saúde, educação, funcionários públicos, salários, ou em outros temas polêmicos, precisam ser pesados e bem pesados, entre unidade do Governo, consequências nas áreas de atuação do conjunto partidário e base eleitoral.

Nossos parlamentares, principalmente os deputados federais que estão sem duvida entre os melhores quadros comunistas, precisam com sabedoria saírem de situações embaraçosas no parlamento, sem se exporem tanto, sob pena de serem muitas vezes injustamente julgados.

Somos uma bancada pequena, construída com muito trabalho, honestidade e dedicação, são camaradas valiosos que precisam de zelo, assim como a unidade do Governo, assim com o bem do Brasil.

*João Marcelo Nogueira Martins é presidente do Comitê Municipal do PCdoB de Itapiúna- CE.