Olívia: “Vamos espalhar o PCdoB pela cidade e enraizá-lo no povo”

Na sede do Comitê Municipal, para participar de reunião com o ex-presidente Geraldo Galindo, a nova presidenta do PCdoB – Salvador, Olívia Santana concedeu a primeira entrevista ao Portal Vermelho, após ser eleita. 

 

O seu nome foi aprovado pela militância durante a Conferência Municipal, ocorrida este mês. Olívia é educadora e foi vereadora de Salvador por 10 anos, com votação destacada em todos os pleitos. Só se afastou do mandato para permitir ao Partido Comunista do Brasil concorrer ao Palácio Thomé de Souza pela primeira vez, ao lado de Nelson Pelegrino. Militante do movimento anti-racista, a comunista chega para comandar o conjunto do Partido, fortalecendo todas as frentes que formam a base.


Portal Vermelho
– Depois de tantos anos de militância e do reconhecimento conquistado pelos trabalhos desenvolvidos e excelente atuação na Câmara de Vereadores, você assume a presidência do PCdoB Municipal de Salvador, sendo a segunda pessoa a ocupar o cargo em 12 anos. O que representa esta mudança?

Olívia Santana – Primeiro eu agradeço essa decisão da militância do PCdoB de Salvador e dos dirigentes, que apostaram, acreditaram e fizeram esta eleição por aclamação. Uma honra. Falando sobre a mudança, representa mais possibilidades e é também uma afirmação simbólica. Afinal, agora temos uma mulher negra à frente de um partido que tem a rica história. Para mim, é um sinal muito positivo. Em meio à luta por reforma política, para que seja mais democrática, reformular os partidos, garantir mais oportunidade para as mulheres e negros nas estruturas partidárias também são parte deste anseio pela democratização. Além disso, significa reconhecimento ao trabalho que nós fizemos até aqui. Mas, como o PCdoB é um Partido extremamente diversificado, quero frisar, que eu, militante da luta antirracista, uma vez eleita presidente do Municipal, venho para dirigir o conjunto. Todas as frentes: movimento sindical, luta em defesa dos direitos dos trabalhadores, movimento estudantil, juventude, mulheres, negro, militância de bairro, na universidade. Quer dizer, qualquer pessoa eleita para tal tarefa deve ter um olhar plural, a capacidade e a sensibilidade de condução, buscando valorizar todas essas forças.


PV
– Algum projeto em mente para fortalecer ainda mais o Partido Comunista na capital baiana?

OS – Essa gestão do PCdoB deve ser marcada por um mergulho na cidade. Eu conheço muito bem Salvador. Fui vereadora por 10 anos, sei que nossa militância, nossos dirigentes têm muito a contribuir e faremos um projeto que seja feito a muitas mãos. Eu não vou chegar com nada pronto, de cima para baixo. A ideia é poder escutá-los. Elegemos um grupo muito bom, com 39 pessoas comprometidas com a história do Partido, e que é muito diversificado. Então, vai dar para fazer um plano de atuação partidária, que conduza o PCdoB ao crescimento. Sempre fomos um partido forte em Salvador e queremos ser mais ainda. Queremos nos enraizar em diversos segmentos dos movimentos sociais e em todas as regiões da cidade. Fortalecer o partido no Subúrbio, na região de Itapagipe, em Brotas, onde nós temos um partido forte, com potencial de crescer ainda mais, Itapuã… Temos que espalhar o PCdoB e garantir que esteja cada vez mais presente no seio do povo. Isso faz parte da constituição de um partido democrático, que tenha a capacidade de incorporar as demandas do povo. Precisamos estabelecer também uma agenda de lutas em defesa de uma Salvador melhor, mais viva e mais capaz de se posicionar bem no cenário nacional.


PV –
Nossos quadros na Câmara são objeto dessas mudanças?

OS – Com certeza. Os mandatos da vereadora Aladilce e do vereador Everaldo Augusto são de grande valor para o PCdoB. Aladilce é uma mulher da área de saúde, destacada, muito experiente, uma liderança. Everaldo, do movimento sindical bancário, é também um homem das letras, da poesia, que tem uma forte veia para a educação e para a cultura. Então, são mandatos muito qualificados, que se destacam no universo de 43 vereadores. Portanto, vão contribuir muito com essa plataforma de ação política arrojada do PCdoB.


PV –
Não poderíamos deixar de lembrar a situação degradante pela qual passa a cidade, resultado de heranças governistas, sem contar com o choque de ver o carlismo reassumir o poder. Enfim, nessa situação desconfortável que Salvador enfrenta, o que precisa ser vencido?

OS – Primeiro de tudo, o que deve ser vencido é o carlismo. Pra sempre. Em essência, o carlismo não modifica. Pode até ter se repaginado na figura do Neto, mas não muda. É um absurdo uma família transformar a Bahia e a cidade de Salvador em um feudo. Nós precisamos fortalecer as lideranças políticas e lançar projetos que possam prevalecer sobre esta ideia de que o poder econômico é tudo na política. Há um desafio enorme a vencer, que é exatamente a conscientização do nosso povo e a disputa pelo poder em Salvador, como uma perspectiva de democratização dos espaços, conduzir a cidade para resolver os principais gargalos, como os altos índices de desemprego, pobreza e precarização, em decorrência da falta de uma política de desenvolvimento econômico e social mais planejada. Nós temos uma contribuição a dar e precisamos ter isso como objeto central em nossa de atuação. Estabelecer uma política de enfrentamento ao carlismo, que seja qualificada, elevada e que consiga garantir um respeito ao PCdoB aos olhos do povo soteropolitano.


PV –
Muita gente se diz comunista, compartilha princípios do PCdoB, mas não se filia. Há um plano para trazer essas pessoas e ampliar a base? 

OS – O nosso desafio, após a Conferência Estadual, rumo ao nosso 13º Congresso, é a deflagração de uma grande campanha de filiação. Acho que a gente pode fazer debates em vários pontos da cidade e mostrar ao povo o que é o Partido, abrir, desmistificar. Por que há um distanciamento da população dos partidos políticos. É preciso aproximar, ir onde o povo está, pregar a concepção do Partido, dizer o que é o PCdoB e oferecer a ficha de filiação como porta de entrada. A gente pode fazer uma campanha bacana, bonita. Utilizar os instrumentos de comunicação, as redes sociais para garantir uma maior presença da população no interior do partido, principalmente a jovem, que tem uma dinâmica própria, um anseio de mudanças e transformação. Portanto, a gente deve se lançar a esse desafio de fazer crescer e ampliar as bandeiras do PCdoB.


PV –
Para finalizar, gostaria que você destacasse algo do legado Galindo, que ficou à frente por 12 anos e conseguiu promover a emancipação financeira do Comitê Municipal de Salvador.

OS – Galindo é uma figura difícil de substituir e eu não tenho essa pretensão. Ele é uma pessoa de paciência elástica. É da natureza dele ter essa capacidade de agregar, trazer as pessoas, ouvir, ser firme, dizer não sem que isso implique em uma negativa por parte de quem ouve. E essas são características importantes em um dirigente. Ele teve a fidelidade e a firmeza em conduzir as posições do partido sempre afinadas com as direções estadual e nacional, garantindo a tradução da política nacional do PCdoB em Salvador. Conseguiu conjugar o projeto local com o nacional. Salvador não pode caminhar pra um lado diferente da orientação dada pelo Comitê Central. Galindo fez muito bem isso durante todo o seu período na condição de presidente, reeleito por vontade do coletivo. Uma coisa que nunca era contestada. Embora tenhamos muitos outros nomes capazes de assumir a direção do PCdoB, ele sempre foi uma unanimidade entre nós. Sei que vai continuar dando a sua contribuição e eu vou beber muito dessa fonte, por que é a minha primeira experiência.

De Salvador,
Maiana Brito