Piñera ordena fechamento de prisão de luxo e militar se suicida

A decisão do presidente do Chile, Sebastián Piñera, de fechar a luxuosa prisão Cordilhera, exclusiva para ex-agentes da ditadura militar condenados por violações dos direitos humanos, tem gerado polêmica no país. Dez militares cumpriam pena no local. As críticas ao presidente, que partem de movimentos pró-Pinochet, ganharam força após o militar Odlanier Mena ter se suicidado, no sábado (28), ao saber que seria transferido, como todos, para o Centro Penitenciário Punta Peuco.

Grupo pró-Pinochet protestou contra fechamento da prisão e contra a esquerda e a direita, em favor dos privilégios para militares condenados, durante o funeral de Odlanier Mena/ Foto: La Nación

As instalações da Cordilheira ofereciam acomodações confortáveis, acesso à internet, jardins, atendimento de nutricionista e quadra de tênis. Eles também tinham “contato permanente com suas famílias”, podiam efetuar chamadas telefônicas às terças e quintas-feiras e não havia celas de castigo. A decisão do governo foi tomada após a realização de uma vistoria que, em um documento de 14 páginas, constatou os luxos e benefícios dos militares. Apesar do suicídio de Mena, Piñera reafirmou sua decisão e a transferência iniciou no sábado (28).

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Piñera, primeiro presidente direitista desde o fim do regime de Augusto Pinochet, argumentou que a desativação atende a “três princípios: a igualdade perante a lei, a segurança dos detentos e o funcionamento normal e mais eficiente da polícia”. E acrescentou: “desta forma estamos satisfazendo estes três princípios que deve reger todos os atos e todas as ações do governo”.

"Não é contra as Forças Armadas, que merecem nosso respeito", mas contra “os criminosos que atacaram os direitos humanos, eles têm que cumprir a pena que o Judiciário determinou", disse o presidente, que ressaltou que no Chile “deve haver igualdade perante a lei".

De acordo com agência Reuters, a prisão oferecia acomodações confortáveis, acesso à internet, jardins, atendimento de nutricionista e quadra de tênis

Opiniões

A candidata à presidência do Chile pela coalizão Nova Maioria, Michelle Bachelet apoiou a medida: “a decisão do presidente tem o nosso total apoio”. E acrescentou: “é a decisão correta".

Lorena Pizarro, presidenta da Associação de Familiares de Presos Desaparecidos (AFDD), afirmou à Telam que o fechamento da prisão que se surpreendeu pela decisão, e que "aqueles que devem dar uma resposta são os que criaram a prisão Cordilheira e as prisões especiais, e todos os que não fizeram nada para fechá-la".

Por outro lado, Maite Contreras, filha de Manuel Contreras, ex-chefe da Direção de Inteligência Nacional (DINA), condenado a mais de 300 anos de prisão, protestou veementemente e acusou Piñera "porque ele prometeu, enquanto estava concorrendo à presidência, ajudar a cumprir a lei de anistia e prescrição" das causas. E denunciou que a medida foi tomada para “aumentar a popularidade de Piñera”.

A controvérsia aumentou após a publicização de que alguns ex-militares pretendiam fazer um churrasco na prisão para prestar homenagem ao brigadeiro Miguel Krassnoff, condenado a mais de 100 anos por sequestro, tortura e desaparecimento de opositores durante a ditadura militar (1973-1990).

Da Redação do Vermelho,
Vanessa Silva, com agências