Lula: É preciso vontade política para combater trabalho infantil

No encerramento da 3ª Conferência Global sobre o Trabalho Infantil promovida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), nesta quinta-feira (10), em Brasília, o ex-presidente Lula lembrou a sua infância de trabalhador. “Na infância, fui vendedor de laranja, de amendoim, engraxate e trabalhei em uma tinturaria, antes de adquirir, ainda adolescente, minha primeira qualificação profissional como torneiro mecânico”, lembrou. 

Lula lembra sua história na Conferência sobre Trabalho Infantil - Instituto Lula

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os países onde há mais crianças trabalhando são aqueles onde imperam a fome e a miséria. "O mapa do trabalho infantil coincide rigorosamente com o mapa da fome e da miséria", por isso "a primeira tarefa para combater o trabalho infantil é coordenar ações de distribuição de renda nas regiões mais pobres de nosso planeta".

Ele destacou o conhecimento das experiências desenvolvidas em outros países, pelos governos, organizações sociais e organismos internacionais, que contribuem para que “cada um dos aqui presentes saia desse encontro com mais clareza sobre o que é preciso fazer, imediatamente, para alcançar nossa meta”.

Segundo o ex-presidente brasileiro, para que o problema seja solucionado “é fundamental fortalecermos a democracia, o desenvolvimento e a luta pela redução da desigualdade entre os países e dentro de cada país”.

Lula afirmou que a queda dos números sobre trabalho infantil é "um estímulo", mas exigiu maior "vontade política" para os "pequenos seres humanos que necessitam uma ação urgente".

Referiu-se a eles como a "pequenos seres com a infância roubada" e obrigados a trabalhar muitas vezes em condições "degradantes", ou que são "recrutados à força para participar de guerras ao redor do mundo".

Ao lembrar sua história pessoal, Lula destacou que a “que pobreza e desigualdade são as causas principais da existência de trabalho infantil”. E afirmou que nunca se dedicou tanto tempo e investimento para erradicar o trabalho infantil, como nos últimos anos no Brasil. “O fato de termos reduzido em um terço a quantidade de crianças trabalhadoras até os 14 anos de idade nos últimos 12 anos é um estímulo para enfrentar a grande tarefa que temos pela frente.”

Na Conferência, que recebeu delegações de mais de 150 países, organizada pelos ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do Trabalho e das Relações Exteriores, Lula relembrou seu principal compromisso, quando chegou à Presidência da República: “acabar com a fome no país”, que é um dos principais motivos do trabalho infantil.

Lula insistiu que "o único caminho" para erradicar definitivamente o trabalho infantil passa por acabar primeiro com a fome e a pobreza. "E quando alguém tem que levar comida para casa, põe até sua própria vida em jogo para conseguir, e por isso até vemos tantas meninas se prostituindo no mundo", ressaltou.

Vontade política

"A crise econômica já consumiu trilhões de dólares para ajudar sistemas financeiros irresponsáveis" e outros "trilhões de dólares são gastos em guerras ao redor do mundo", afirmou o ex-presidente, que sustentou que esses dados mostram que para combater o trabalho infantil "não faltam recursos, mas vontade política".

E, ao concluir seu discurso, na Mesa que discutiu "Formas de Acelerar a Erradicação do Trabalho Infantil", ele se mostrou disposto a continuar a luta pela erradicação do trabalho infantil, dizendo que “a troca de conhecimentos que este encontro proporciona fortalece nossa unidade em torno da causa comum”.

O ex-presidente encerrou dizendo que na próxima conferência, o Brasil será um dos países que mais reduziu o trabalho infantil no mundo. O Programa Bolsa Família foi destacado como o maior programa de distribuição de renda do mundo, garantindo renda mínima a 14 milhões de famílias, cerca de 54 milhões de pessoas.

Lula repudiou todo preconceito contra os programas de transferência de renda. “Devemos apoiar todos os programas capazes de levar o desenvolvimento e a geração de empregos às regiões mais pobres do planeta”. E afirmou que o Bolsa Família permitiu que milhares de crianças abandonassem o trabalho para ir para a sala de aula.

Carta de adolescentes

O ex-presidente Lula recebeu, das mãos dos 21 adolescentes que representavam todos os jovens do mundo na 3ª Conferência Global sobre o Trabalho Infantil, uma carta com cinco afirmações sobre a participação dos jovens nas políticas para a erradicação do trabalho infantil.

Dentre as afirmações está a mobilização do poder público e sociedade civil junto às crianças e aos adolescentes; a ampliação de programas sociais de transferência de renda e a garantia de participação das crianças e adolescentes em espaços de decisões políticas.

De Brasília
Márcia Xavier
Com agências e Instituto Lula