Caso Amarildo: família é alvo de piada e 3 acusados se apresentam

Um dia após o Ministério Público divulgar com detalhes como o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza foi torturado e morto por policiais da UPP da Rocinha, parentes da vítima contaram que vêm sendo hostilizados por PMs na favela. O sargentos da Polícia Militar do Rio Reinaldo Gonçalves e Lourival Moreira e o soldado Wagner Soares se apresentaram na tarde desta quarta-feira (23) no Quartel General da PM, no Centro do Rio.

Antes disso, eles realizaram exames no Hospital da Polícia Militar e foram conduzidos à Unidade Especial Prisional, em Benfica, na Zona Norte. Após denúncia do Ministério Público (MP), a Justiça decretou na terça-feira (22) a prisão dos três militares por envolvimento no caso da tortura e morte do ajudante de pedreiro Amarildo, desaparecido no dia 14 de julho.

Vinte e cinco PMs foram denunciados no total, todos da UPP Rolcinha. Além dos três presos nesta quarta, 10 já estavam detidos desde o dia 4 de outubro, e outros 12, incluindo três mulheres, vão responder em liberdade. O G1 tentou contato com os advogados que representam os policiais, mas não obteve retorno até as 21h30.

Na quarta-feira, na casa onde mora a família da vítima, Michelle Lacerda, sobrinha de Amarildo, afirmou que policiais debocham e fazem piadas quando veem a viúva e a filha de 13 anos:
— Passamos por tanto sufoco, e agora a família ainda tem que ouvir piadinhas de policiais quando nos encontram nas ruas. Sempre perguntam: “Cadê o Amarildo?” É difícil.

Habeas corpus negado

O major Edson Santos, ex-comandante da UPP Rocinha, e o tenente Luiz Felipe de Medeiros, subcomandante da unidade, presos desde o início do mês, são os únicos que foram transferidos da Unidade Especial Prisional para a penitenciária Bangu 8, no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste. A medida, segundo a Justiça, teve como objetivo preservar as investigações do caso. Nesta quarta, eles tiveram o pedido de habeas corpus negado pela 8ª Câmara Criminal.

Novas escutas

Uma escuta feita pela polícia, com autorização da Justiça, e revelada com exclusividade pelo Jornal Nacional nesta terça, foi a prova decisiva para a conclusão do caso para o MP.

Um homem que se identifica como o traficante Catatau faz ameaças a um policial infiltrado no tráfico — e dá a entender que matou Amarildo, conhecido como Boi. A perícia comprovou que esse homem era o soldado Marlon Campos Reis fazendo uma encenação.

Quatro PMs torturaram Amarildo

Após depoimentos, foram identificados quatro policiais militares que participaram ativamente da sessão de tortura a que Amarildo foi submetido ao lado do contêiner da UPP da Rocinha. Segundo informou o Ministério Público nesta terça, testemunhas contaram à policia sobre a participação desses PMs no crime.

De acordo com a promotora Carmem Elisa Bastos, do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), o tenente Luiz Medeiros, o sargento Reinaldo Gonçalves e os soldados Anderson Maia e Douglas Roberto Vital torturaram Amarildo depois que ele foi levado para uma "averiguação" na base da UPP. Ainda segundo eles, outros PMs são suspeitos de participar ativamente da ação.

Enquanto o ajudante de pedreiro era torturado por quatro policiais, outros 12 ficaram do lado de fora, de vigia. Oito PMs que estavam dentro dos contêineres que servem de base à UPP foram considerados omissos porque não fizeram nada para impedir a violência. Outros cinco policiais que decidiram colaborar com as investigações disseram que o major Edson, então comandante da UPP, estava num dos contêineres, que não têm isolamento acústico, e podia ouvir tudo.

Quatro PMs que estavam no contêiner durante a execução de Amarildo não foram denunciados, já que a promotoria entendeu que eles foram coagidos a aceitar a situacão. "Eles foram debochados pelos outros policiais e, por se sentiram ameaçados, decidiram não interromper o crime", disse a promotora.

Formação de quadrilha

Ainda segundo ela, dentre os denunciados, 13 policiais foram indiciados por formacão de quadrilha. Um deles era o major Edson Santos, que encontrava-se no contêiner de cima, mas que estaria de acordo com toda a situação; um tenente, três sargentos e oito soldados que vigiavam o local do crime.

Do total de denunciados, 17 devem responder também por ocultação de cadáver e quatro por fraude processual, já que houve a tentativa de esconder as provas do assassinato.

Os quatro policiais acusados de tentar ocultar as provas são: major Edson Santos, tenente Luiz Medeiros, soldado Marlon Campos Reis e o soldado Douglas Roberto Vital Machado. O major Edson Santos foi denunciado por todos os crimes, sendo dois deles por fraude processual.

Veja os nomes dos PMs denunciados:

Edson Raimundo Dos Santos
Luiz Felipe De Medeiros
Douglas Roberto Vital Machado
Marlon Campos Reis
Jorge Luiz Gonçalves Coelho
Victor Vinicius Pereira Da Silva
Jairo Da Conceição Ribas
Anderson Cesar Soares Maia
Wellington Tavares Da Silva
Fábio Brasil Da Rocha Da Graça
Reinaldo Gonçalves Dos Santos
Lourival Moreira Da Silva
Wagner Soares Do Nascimento
Rachel de Souza Peixoto
Thaís Rodrigues Gusmão
Felipe Maia Queiroz Moura
Dejan Marcos De Andrade Ricardo
Jonatan de Oliveria Moreira
Márcio Fernandes De Lemos
Bruno dos Santos Rosa
Sidney Fernando De Oliveira Macário
Vanessa Coimbra Cavalcanti
João Magno De Souza
Rafael Bayma Mandarino
Rodrigo Molina Pereira

Com G1 e O Globo