Brasil sediará Encontro de Jovens da Federação Sindical Mundial

Após três dias de intensos debates terminou, no último domingo (10), o 2º Encontro Regional de Jovens da Federação Sindical Mundial do Cone Sul que foi realizado em Montevidéu, no Uruguai.

O encontro, ocorrido entre os dias 8 e 10 de novembro, reuniu cerca de 300 jovens de sete países da América Latina que puderam trocar experiências sobre a situação da juventude trabalhadora na região e debater medidas para fortalecer suas bandeiras de lutas.

No encerramento da atividade foi divulgada a declaração final que, entre outros pontos, aprovou que o terceiro encontro de jovens da FSM seja realizado no Brasil.

Leia abaixo a íntegra do documento:

Declaração final do 2º Encontro de Jovens da FSM do Cone Sul

Situação Internacional

A etapa atual do capitalismo está marcada pela mundialização e transnacionalização do capital, como nunca antes na história da humanidade. As transnacionais constituem-se na unidade econômica central, onde por exemplo podemos dizer que controlam dois terços do comércio mundial; são tempos por sua vez de profunda revolução técnico – cientifica , que podendo gerar capacidade para resolver tosos os problemas da humanidade, por estar a serviço das classes dominantes, uma pequena minoria não faz mais do que aprofundar os dramas e as injustiças sociais.

Preocupa especialmente a mudança climática global, originada em uma forma de produção e de consumo cuja matriz principal é a acumulação de capital e portanto a impossibilidade de planejamento econômico em função da satisfação das necessidades humanas, e que o único mecanismo de ajuste da produção social seja o mercado; todo este panorama demonstra que cada dia é mais urgente a necessidade de trabalhar para chegar a um estágio superior de desenvolvimento da humanidade, superando a etapa funesta do capitalismo até chegar ao socialismo; o capitalismo é polarizante por natureza, tende a distribuição desigual a todo o momento. As capacidades do atual sistema de gerar riquezas são enormes, assim como brutais as desigualdades.

Segundo as Nações Unidas existem 868 milhões de pessoas com fome (das quais 146 milhões são crianças) e 49 milhões destes seres humanos vivem na nossa América. Cerca de 5 mil crianças morrem por dia por falta de água e serviços de saúde básicos.

Segundo a OIT, 472 milhões de trabalhadores recebem como remuneração menos de dois dólares diários e 661 milhões recebem menos de quatro dólares por dia. Existe mais de 200 milhões de desocupados, em sua maioria jovens e mulheres. Cerca de 215 milhões de crianças trabalham, muitos em período integral, não vão para a escola e nem tem tempo para brincar, não recebem atenção sanitária adequada nem cuidados apropriados.

Muitos deles estão expostos ao trabalho escravo, à prostituição, ao trabalho forçado, ao tráfico de drogas ou a sua participação involuntária em conflitos armados. As desocupações dos jovens é três vezes maior do que dos adultos.

O sistema capitalista está em uma profunda crise estrutural, mas sozinho não vai cair, é necessário que os militantes consigamos ampliar e desenvolver a consciência de classe nas grandes massas, em especial entre os trabalhadores e os demais postergados; o capital e o imperialismo estão feridos e são por isso mais perigosos na atualidade é mais evidente que nunca que o capitalismo, longe de solucionar os dramas da humanidade os aprofunde.

Parece fundamental reivindicar para os jovens a batalha permanente contra a cultura de consumo; a atual crise (ecológica, alimentar, energética e financeira) é o plano de fundo das atuais lutas dos povos, lutas que é necessário dirigir e direcionar, para dotar as massas de organização e consciência política, não as deixando livres ao espontaneísmo e aos infantilismos, mas dando uma imprescindível perspectiva revolucionária.

América Latina e os governos populares

É a região considerada desde os anos 1970 como a mais desigual do mundo, onde os 20% mais ricos tem um ingresso 20 vezes superior aos 20% mais pobres, com cerca de 80% da população vivendo em cidades, a quarta parte deles em favelas.

No plano econômico, a região – que tem na produção de matérias primas um dos principais pilares de sua economia – vem experimentando um crescimento sustentável em termos de desenvolvimento de seu produto interno bruto, favorecido em parte pelo notável incremento do preço internacional dos alimentos que se explicam essencialmente pelas taxas de crescimento da China e Índia, acompanhada de grandes correntes migratórias internas destes países, o que gera um aumento considerável na demanda de produtos que nossos países tradicionalmente exportam; no entanto reduziu o peso da produção industrial e portanto os postos de trabalho nas indústrias em nossa região.

No plano político, o momento histórico esteve marcado pelo triunfo eleitoral das forças políticas vinculadas às lutas populares em vários países da nossa América. Estes governos progressistas ou da esquerda, além de suas matizes frearam o neoliberalismo e geraram consições de vida superiores para vastos setores da população. Vemos como absolutamente necessário que os jovens trabalhadores sejamos fortes impulsores e sustentadores destes governos, que para além das possíveis riquezas e contradições de cada um dos processos marcaram uma nova etapa na história do continente. Deve reafirmar-se, por meio das organizações populares, as estabilidades dos governos já que a direita, através de suas expressões políticas, econômicas ou através da luta de seus poderosos meios de comunicação busca destruir os processos democráticos, sem descartar nenhum método, recordemos o que ocorreu com Zelaya em Honduras e com Lugo no Paraguai, assim como a situação da Venezuela, onde buscam de todas as maneiras sabotagens, atentados, mentiras terrorismo, desandar o caminho empreendido a partir dos governos liderados pelo comandante Chávez e hoje continuado pelo presidente Maduro.

O processo de integração profunda em nosso continente nos mais diversos planos (cultural, social, político, econômico, tecnológico) é uma tarefa tão pendente como necessária. É imprescindível que um continente que possui as maiores reservas mundiais de água, petróleo, gás, minerais e que é grande produtor de alimentos, ou seja, que tem profundas bases materiais para aprofundar sua integração não o faça de uma vez, avançando para seu autentico desígnio histórico.Vemos para isso fundamental a atuação dos organizmos institucionais de integração: Mercosul, Unasul, Banco do Sul, Celac. Entedemos imprescindível continuar potencializando e desenvolvendo vários instrumentos como o Encontro Sindical Nossa América (ESNA). É necessário também fortalecer o papel das organizações sindicais nacionais e supranacionais e dentro delas incentivar a participação dos jovens, propondo e militando para a conquista de reivindicações tanto como para elaborar um programa de desenvolvimento produtivo social e democrático da nossa América, que incorpore ao problema agrário, renovando a luta pela profunda e real reforma agrária, assim como os problemas de saúde, educação e moradia, um novo modelo de desenvolvimento social, os problemas de infraestrutura, a matriz energética etc. A reivindicação de reduzir a jornada de trabalho sem redução de salário é impostergável.

É tarefa das organizações sindicais e políticas desenvolver a luta a favor da liberdade sindical, como também a luta pela ratificação, melhora permanente e implementação dos convênios coletivos de trabalho, no referente a salário e condições de trabalho, rechaçando o conceito de ultra-atividade tal qual é proposto pelos setores empresariais na OIT; reafirmamos o compromisso permanente com o trabalho digno, regularizado, formal e expressamos nossa preocupação já que estas condições muitas vezes onde menos se cumprem são nos setores dos jovens trabalhadores.

O sindicalismo deve estar necessariamente voltado para a ação evitando o burocratismo e o estancamento ideológico e político; deve ser um instrumento que encabece a luta pelos direitos humanos em toda a amplitude do conceito, desde a necessidade de somar verdade e justiça dando luz ao ocorrido nas ditaduras dos anos 1960, 1970, como incorporando o que seja dado para chamar a nova agenda de direitos, contra a discriminação étnica, sexual, religiosa.

Devemos trabalhar para a aproximação dos Estados por parte dos trabalhadores, segundo o conceito gramsciano, para que sua influência se traduza na regulação dos direitos laborais, maior orçamento para a educação, saúde, moradia, políticas sociais e culturais: devemos exigir e militar pelo cesse de toda a expressão de violência em nossos povos.

Vemos que será útil a partir deste encontro a formação de uma mesa coordenadora da FSM de mulheres, vinculada a secretaria geral e a potenciação de uma mesa coordenadora de jovens nomeando responsáveis nacionais que trabalhem coordenando com o responsável regional e gerando intercâmbios permanente além de ratificar a importância destes encontros periódicos, especialmente entre os trabalhadores do Cone Sul.

São as lutas política, social e cultural de nossos povos que poderão conquistar um novo continente, orientado para a felicidade de seus habitantes; está em nossos jovens ser a semente desta revolução possível e necessária.

Moções

Exigir o respeito à votação da ONU condenatória pelos 22 anos consecutivos do injusto bloqueio a Cuba e exigir a imediata libertação dos quatro patriotas cubanos presos nos Estados Unidos.

Reivindicar o cesse da violência na Colômbia, manifestar o apoio da FSM ao processo de diálogos de paz e reivindicar o cesse da perseguição aos dirigentes sindicais.

Reivindicar a libertação sem dilatórias do companheiro Huber Ballesteros na Colômbia, como lutador porto-riquenho Oscar Lopez Rivera, o preso político mais antigo do continente.

Repudiar a violência exercida contra os militantes sociais no Paraguai, reafirmando nossos compromisso especial com os sindicalistas dessa sofrida nação.

Exigir o cessar da repressão para os militantes sociais também na Guatemala e Honduras.

Exigir a saída dos Exércitos de ocupação do Haiti e o direito de autodeterminação dos povos.

Expressar nossa preocupação pelos avanços da direita continental em nosso combate ideológico em seu intento de criminalizar a juventude e gerar a redução da maioridade penal. Os jovens na América dizemos não para a redução da maioridade penal e não a criminalização da juventude.

Declarar o primeiro fim de semana de março de cada ano como Jornada Internacional de Ação de Jovens da FSM e nos comprometer a realizar manifestações, marchas, debates, etc. Nestes dias a partir do próximo ano.

Ratificar nosso compromisso de organizar o próximo ano o terceiro encontro de jovens trabalhadores da FSM do Cone Sul e propões sua organização no Brasil

Montevidéu, 10 de novembro de 2013.

Fonte: Portal da CTB