Concessões do Irã não impedem uso pacífico da energia nuclear

As concessões relativas ao programa nuclear com que o Irã concordou nas negociações com o sexteto de negociadores internacionais em Genebra não irão impedir a utilização pacífica da energia atômica, consideram os peritos.

Israel, contudo, classificou o acordo de “um erro histórico”, considerando que ele deixa à República Islâmica a possibilidade de desenvolvimento de armas nucleares.

O Irã concordou com a limitação, durante meio ano, da sua atividade nuclear e com o aumento do controle do seu programa nuclear por parte dos peritos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Por sua vez, o sexteto de negociadores internacionais (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha) concordou em aliviar as sanções relativamente ao Irã e em aceitar o direito desse país à utilização pacífica da energia nuclear.

Contudo, não foi com facilidade que se chegou a essa decisão, comenta o diretor do Centro de Energia e Segurança Anton Khlopkov: “A crise em torno do programa nuclear iraniano conta já com mais de uma década de história. Contudo, o programa nuclear do Irã não é o cerne desta crise. Na sua base se encontra a desconfiança existente, em primeiro lugar, entre Teerã e Washington. Recordo que esses países não mantêm relações diplomáticas há mais de trinta anos”.

A crise entre o Irã e os EUA se intensificou depois do atentado de 11 de setembro de 2001, considera o politólogo alemão da Universidade de Colônia Siebo Janssen: “Depois do 11 de setembro George W. Bush incluiu o Irã no 'Eixo do Mal'. Nessa altura o presidente do Irã era Khatami que frequentemente defendeu a realização de reformas. Bush, porém, destruiu toda a linha política na região com a sua tática pouco inteligente. Depois surgiu Ahmadinejad, que agudizou ainda mais a situação com as suas reações duras”.

Por isso os peritos unanimemente consideram o acordo atingido em Genebra como um verdadeiro reinício.

Durante muito tempo o Irã se recusou não só a reduzir o seu programa, como mesmo iniciar quaisquer negociações, considera Anton Khlopkov: “No desenvolvimento das tecnologias nucleares o Irã investiu muitos recursos políticos, humanos e financeiros. Tendo isso em consideração, um acordo sobre quaisquer limitações só pode ser alcançado graças a esforços extraordinários. Basta dizer que há vários anos, para a popularização das tecnologias nucleares no Irã, o símbolo da energia atômica surgiu nas cédulas de 50 mil riais iranianos. Por isso, qualquer limitação tem de ser não só aceitável para a direção do país, mas também ser convincente para a população que defendes aos interesses nacionais da República Islâmica do Irã”.

Israel reagiu de uma forma extremamente negativa ao acordo entre o Irã e o sexteto. O governo desse país pode ter motivos próprios para isso, considera Siebo Janssen: “Para Israel o Irã era o cenário perfeito para desviar as atenções do problema realmente importante e central dessa região que é o conflito israelo-palestin o. Isso, em primeiro lugar. Em segundo lugar, Israel tinha, até um certo ponto, fundadas preocupações perante Ahmadinejad (o presidente anterior) que era a antítese completa de Rohani (o atual presidente)”.

Depois da assinatura do acordo de Genebra, o presidente dos EUA Barack Obama avisou que: “Se o Irã não cumprir totalmente as suas obrigações em seis meses, nós iremos fazer retroceder o alívio das sanções e aumentaremos a pressão.”

A desconfiança pode impedir a realização dos acordos alcançados, são os temores expressos pela orientalista Elena Suponina: “Eu me encontrei com muitos dirigentes do Irã, incluindo Mahmoud Ahmadinejad, e todos eles sem excepção me diziam que o programa nuclear iraniano tinha um caráter pacífico. Além disso, segundo os dogmas que estão na base da existência do Estado do Irã, qualquer arma de destruição em massa é um pecado. Outra questão é nem todos acreditarem nessas afirmações dos dirigentes iranianos, suspeitando que o Irã pode atingir bastante em breve o limite para a criação de armas nucleares para garantir a sua própria segurança”.

No próximo meio ano o Irã ficará sob um controle restrito por parte das organizações internacionais e estará sempre no centro das atenções, diz o diretor do Centro de Energia e Segurança Anton Khlopkov: “As medidas de controle das instalações nucleares iranianas que foram objeto de acordo em Genebra tornam impossível, na minha opinião, a utilização para fins militares das tecnologias nucleares declaradas”.

Dificilmente a República Islâmica do Irã, nas suas atuais condições econômicas debilitadas, irá arriscar perder completamente a confiança da comunidade internacional. Além do mais isso contraria as convicções políticas do atual presidente Hassan Rohani.

Fonte: Voz da Rússia