Após acordo, relação entre Irã e EUA pode melhorar, diz analista

O acordo nuclear do fim de semana é capaz de levar naturalmente a uma reaproximação entre Irã e EUA, segundo o especialista em questões iranianas Rouzbeh Parsi, da Universidade Lund (Suécia). Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada nesta terça-feira (26) Parsi disse que a mudança de governo em Teerã foi crucial para o avanço nas negociações.

Folha – Logo após o acordo surgiram divergências sobre sua interpretação, como na questão do suposto direito iraniano ao enriquecimento de urânio. É mau sinal?
Rouzbeh Parsi – Todo acordo consiste em dois elementos: o que foi assinado, e como o texto será interpretado quando todo mundo voltar para casa. É isso que permite a todos declarar vitória e resistir à pressão dos céticos domésticos. Quando essa tendência é contida, não prejudica o acordo em si.

Além disso, o acordo estipula a criação de um comissão conjunta para tratar qualquer queixa que surgir. Todo mundo poderá manifestar ressalvas sem que isso derrube o processo em curso.

Esse acordo não é muito diferente do negociado no governo iraniano anterior. Por que deu certo agora?
A eleição do [presidente Hasan] Rowhani foi crucial porque agora temos uma equipe que entende o problema e sabe em que e quando ceder. E todo mundo espera que as promessas sejam cumpridas, já que o líder supremo [Ali Khamenei] apoia o andamento das coisas.

O pacto provou que as sanções ao Irã funcionam para frear o programa nuclear?
Essa narrativa ignora totalmente a dinâmica doméstica no Irã. Sanções tiveram um papel, mas dizer que são responsáveis por tudo equivale a acreditar que o Ocidente é o único protagonista da história. Não é bem assim. Há questões domésticas que, na eleição de junho, levaram ao poder políticos mais experientes e ponderados.

Qual a chance de este acordo melhorar os laços Irã-EUA?
Por ora, é um acordo nuclear. O que se busca é sair de uma não-relação disfuncional entre Irã e EUA e chegar a uma não-relação funcional rumo a um entendimento acerca do programa atômico. Isso levará à opção de ir mais adiante, pois ambos têm preocupações comuns. Talvez chegue um ponto em que a não-relação funcional se transforme numa relação funcional reconhecida.

Fonte: Folha de S. Paulo