Helicóptero da família Perrella é apreendido com 445kg de cocaína

Um helicóptero pertencente a uma empresa da família do senador mineiro Zezé Perrella (PDT) foi apreendido com mais de 440 kg de pasta base de cocaína, na zona rural de Afonso Cláudio, na região Serrana do Espírito Santo (ES), na tarde do último domingo (24).

Helicóptero que pertence à empresa do deputado mineiro Gustavo Perrella foi apreendido com mais de 400 quilos de cocaína no Espírito Santo. Foto: Polícia Militar do ES / Divulgação

A Polícia Militar da cidade investigava o local, que apresentava movimentação suspeita há 15 dias, e flagrou a aterrissagem. Além disso, também foram encontrados R$ 16 mil em dinheiro na aeronave. Piloto, copiloto e dois homens que receberiam a droga foram presos.

 

De acordo com o comandante da 2ª Cia Independente da Polícia Militar do Espírito Santo, major Flávio Santiago, há cerca de 15 dias, um empresário esteve na região metropolitana de Vitória e comprou uma propriedade no distrito de Ibicaba, pertencente a Afonso Cláudio, por cerca de R$ 150 mil, e teria quitado rapidamente, o que causou estranheza à PM.

“Policiais saíram para fazer uma investigação a respeito e se depararam com um fluxo de pessoas e veículos que não eram da região. Então, começaram a montar um cerco. Esperávamos apreender drogas e armas, mas não no nível apreendido. Buscando informações, ficamos sabendo da vinda do helicóptero”, explicou.

Ainda segundo o major, as aeronaves que costumam ir à cidade conduzem autoridades políticas ou são da Polícia Militar. Nesse domingo (24), militares fizeram campana na zona rural e avistaram o helicóptero modelo Robson 66 logo que o dia amanheceu.

“Na parte da tarde, o helicóptero foi localizado em um descampado, um local ermo de difícil acesso e até de ser visualizado. Estava com o motor funcionando. Os policias aguardaram desligar as turbinas e fizeram a abordagem”, contou Santiago.

O total de 445 kg de pasta base de cocaína, que equivale a até R$ 10 milhões, segundo cálculo da Polícia Federal (PF), possui entre 92% e 96% de pureza. A droga estava em formato de tabletes, dentro de caixas, que encheram quatro picapes Hilux da polícia. A droga era esperada por dois homens, que a transportariam em um Polo branco.

O piloto Rogério Almeida Antunes, de 36 anos, natural de Campinas (SP), o copiloto Alexandre José de Oliveira Junior, de 26 anos, natural de São Paulo (SP) e os homens que receberiam a droga, o comerciante Robson Ferreira Dias, de 56 anos, natural do Rio de Janeiro (RJ), e o jardineiro Everaldo Lopes Souza, de 37 anos, natural de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, estão presos na carceragem da sede da PF em Cariacica (ES).

O piloto informou à polícia que carregou a aeronave em São Paulo (SP). “Devido ao alto valor da mercadoria, o mais provável é que fosse exportada para a Europa”, analisou o major. Além da droga, R$ 16 mil foram localizados em uma bolsa dentro do helicóptero. “O piloto falou que ele estava autorizado pela empresa a agendar os fretes e fazia diversas viagens. O dono do terreno ainda é procurado pela PM. A polícia apenas sabe que a compra foi feita em nome da família Tapagiba, que é antiga na região.

Piloto preso é funcionário da Assembleia de MG

O piloto Rogério Almeida Antunes é lotado na 3ª Secretaria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) no cargo de agente de serviço de gabinete, com salário de R$ 829,67.

Antunes era quem, segundo a polícia, pilotava um helicóptero no qual foram apreendidos 450 quilos de cocaína. O aparelho é da Limeira Agropecuária, empresa do deputado estadual Gustavo Perrella (Solidariedade), filho do senador Zezé Perrella (PDT-MG). Além do piloto, que é funcionário da agropecuária, mais três pessoas foram presas durante a operação da Polícia Federal.

Nesta segunda-feira (25), em entrevista coletiva concedida em Belo Horizonte, o deputado Gustavo Perrella disse ter tido ciência da apreensão do helicóptero pela imprensa e que não tinha autorizado o uso do helicóptero para o funcionário. Ele afirmou desconhecer se o empregado teria sido coagido para transportar a droga. O parlamentar revelou ainda que um boletim de ocorrência foi feito pela família dele retratando o roubo da aeronave.

Já nesta terça-feira (26), a assessoria do parlamentar disse que ele estava em Brasília-DF e somente poderia falar sobre o caso do piloto lotado na assembleia quando retornasse a Belo Horizonte.

A 3ª Secretaria tem como titular o deputado Alencar da Silveira Júnior (PDT). De acordo com a assessoria do político, as nomeações para os cargos da estrutura da secretaria são de responsabilidade dos presidentes de comissões da Assembleia. No caso, Gustavo Perrella é presidente da Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo. Ainda conforme o setor, não há influência do secretário titular nas nomeações.

Advogado de piloto afirma que deputado sabia de voo

Segundo Nicacio Tiradentes, ao receber o pedido da encomenda na última sexta-feira (22), a primeira coisa que seu cliente fez foi informar ao deputado sobre a viagem. 

“O Rogério recebeu o comunicado de um transporte e a primeira coisa ele faz, na véspera (da viagem), era ligar para o deputado perguntando se ele poderia fazer o transporte e ele concordou”, disse o advogado, questionando uma declaração de Gustavo Perrella, que teria dito que o helicóptero foi roubado pelo seu funcionário.

“O Gustavo foi infeliz em falar que o meu cliente roubou o avião. Isso é o que me indignou (…). Ele (Gustavo) foi inexperiente, dizendo que o avião estava para manutenção”, falou Nicacio. A defesa do piloto afirmou que é possível comprovar a ligação efetuada por Rogério e, caso seja necessário, uma quebra de sigilo telefônico comprovaria a versão apresentada.

Segundo a assessoria de imprensa de Gustavo Perrella informou no dia da apreensão, a aeronave é mesmo do jovem político mineiro, porém, ele estava em Brasília no momento do crime.

Além do piloto , foram presos o co-piloto Alexandre José de Oliveira Júnior e os responsáveis pela descarga da mercadoria, Robson Ferreira Dias e Everaldo Lopes de Souza. De acordo com a defesa de Rogério, um pedido de liberdade provisória já foi encaminhado para a Justiça, que analisa o documento.

Com agências