Relatório questiona comércio de gás natural entre Egito e Israel
Um relatório especial publicado nesta quinta-feira (28) pelo portal Middle East Monitor (MEM) ressalta as negociações do governo interino do Egito, apoiado pelo Exército, para comprar gás de Israel através do Chipre. Segundo o portal, o relatório levantou uma série de questões sobre as motivações das forças políticas e militares que impulsionaram a destituição do ex-presidente Mohammed Mursi, no início de julho, e sobre os bastidores das relações com Israel.
Publicado 28/11/2013 12:08
Embora Hosni Mubarak, o ditador egípcio deposto em 2011, tenha feito acordos com Israel para o comércio de gás através de um gasoduto que correria por El-Arish e Ashkelon (na costa mediterrânica, próxima à Faixa de Gaza), este acordo foi finalizado em 2012, após a queda do regime, e analistas citados pelo portal MEM consideram que Mursi não o retomaria.
O relatório divulgado revela que o Chipre (uma ilha no Mediterrâneo, ao sul da Turquia) está tentando assegurar o uso de gás israelense para justificar a construção de uma planta de liquefação em seu território. O plano é a colaboração com as reservas israelenses já existentes, na tentativa de alcançar o lucrativo mercado asiático. Em troca, Israel se tornaria independente em recursos energéticos.
Embora o governo interino, instalado após a destituição liderada pelo general Abdel Fatteh Al-Sisi, tenha afirmado que não importará gás de Israel, oficiais egípcios citados pelo MEM confirmaram que discutiriam a compra de gás natural do Chipre, que na realidade, é comprado de Israel.
Enquanto o ex-presidente Mursi estava no governo, não havia previsões de que os cargueiros da empresa israelense de gás natural liquefeito teria a passagem permitida através do Canal de Suez para alcançar o leste asiático e a Europa, ou que o Egito trabalharia com Israel. Mas o atual governo interino já prevê a cooperação.
Segundo o MEM, o relatório sobre as negociações do Egito e de Israel para o comércio de gás através do Chipre ressalta a inversão de papeis no fornecimento do recurso energético. Sob o regime de Mubarak, o Egito exportava a Israel, segundo um acordo assinado, 45% do gás que o vizinho consumia.
No processo, ainda de acordo com o portal, empresas estadunidenses como a Noble Energy estão declaradamente envolvidas, principalmente na exploração de gás na costa israelense.
As reservas, entretanto, adentram o espaço marítimo palestino, o que muitos analistas consideram ser um motivo primordial no bloqueio militar israelense imposto à Faixa de Gaza e para o patrulhamento intensivo pela Guarda Costeira de Israel, que proíbe o acesso a pescadores palestinos.
Em violação dos Acordos de Oslo da década de 1990, os pescadores acedem a distâncias que variam de três a seis milhas náuticas, dependentes da situação, enquanto os acordos previam um alcance de 20 milhas para a pescaria.
“Agora, embora al-Sisi seja retratado como o herdeiro de Gamal Abdel Nasser, conhecido por nacionalizar o Canal de Suez, o general do Exército que liderou o golpe contra Mursi está finalmente fazendo o oposto do que fazia Nasser. Ao avançar na compra de gás de Israel, ele não está colocando o interesse do Egito à frente. Nasser era visto como um inimigo de Israel, não da Palestina”, afirma o MEM.
Segundo o relatório, “acertar um acordo para importar gás de Israel – embora expedito financeiramente – prejudicaria a sua imagem”.
Com Middle East Monitor,
Da redação do Vermelho