Edson França: o PCdoB contribui na luta pela igualdade racial

Na Plenária do 13º Congresso Nacional do PCdoB, realizada entre os dias 14 a 16 de novembro de 2013, Edson França*, recém-eleito membro da direção do Comitê Central, em sua intervenção reflete sobre a contribuição teórica e política do PCdoB ao processo de igualdade racial em curso.

Leia a intervenção abaixo:

Camaradas,
São várias lições que podemos tirar da experiência dos 10 anos das forças progressistas na Presidência da República, debatemos no processo de construção do nosso 13º Congresso e estamos coroando com êxito a discussão, convictos que não esgotamos todas as variáveis políticas que dão significados no campo econômico, político, social, cultural e os impactos na subjetividade popular dessa experiência ainda em curso. Precisaremos de um tempo histórico para que possamos estudar e compreender com maior profundidade o significado de Lula, Dilma e a frente de esquerda – na qual o PCdoB é força fundamental – na condução dos rumos da nação.

Na questão racial há claros avanços, apesar da dura resistência racista e conservadora sintetizada na voz da oligarquia midiática representada pela Revista Veja, Folha de São Paulo, Estadão, Organizações Globo que unidas militaram contra todos os avanços das políticas de igualdade racial e social implantadas nos últimos anos.

São férteis os exemplos da virtuosidade em matéria de políticas de igualdade racial que o país está verificando:

• Esgotamos as dúvidas e os questionamentos sobre a legalidade e legitimidade das ações afirmativas com o pronunciamento do STF na ADPF movida pelo DEM (partido símbolo da oligarquia e coronelismo que o povo quer enterrar) contra as cotas raciais nas universidades públicas. Para o STF as cotas são constitucionais e legítimas, podemos através delas incluir negros e pobres nas melhores universidades públicas brasileiras, bem como podemos lançar mãos de várias iniciativas com vista a mitigar as desigualdades decorrentes dos agravos do racismo.

• Instituímos a mais densa rede institucional de igualdade racial do planeta – essa rede compreende a soma dos conselhos, assessorias, coordenadorias, secretarias de igualdade racial nos âmbitos municipais, estaduais e federal – consolidando a dimensão antirracismo no pacto federativo. Embora as estruturas de igualdade racial em prefeituras e governos não seja fato novo e careçam de recursos orçamentários e fortalecimento institucional, inegavelmente houve acentuado crescimento em tamanho e importância nos últimos 10 anos.

• Aperfeiçoamos o ordenamento jurídico brasileiro em matéria antidiscriminatória. A aprovação da Lei 10.639/03 que institui a obrigatoriedade do ensino da África e da Cultura Afrobrasileira nas escolas, do Estatuto da Igualdade Racial e da Lei que institui cotas nas universidades públicas federais somadas aos preceitos constitucionais, leis e decretos presidenciais existentes ou recém-promulgados coloca o Brasil na dianteira em relação a legislação de proteção e promoção social de população racialmente discriminada e marginalizada socioeconomicamente.

• O investimento em políticas sociais foi capaz de promover a ascensão de mais de 36 milhões de brasileiros da condição de miséria, dentre eles, 78% são negros. Isso prova o imenso fosso, a brutal desigualdade entre negros e brancos encontrado em 2003.

A soma dessas iniciativas logrou inúmeras resultantes dentre elas destaco um vertiginoso incremento da classe média negra. Um governo que tenha beneficiado de maneira particular a população negra é um fato inédito na história brasileira. Está aberto um novo cenário no campo da igualdade racial com essa nova classe média, trata-se de uma parcela de brasileiros com grande potencial de influenciar seu entorno; otimistas com o futuro, com o país e com seus governantes (segundo pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Data Popular); tem novas demandas; está distanciada da influência dos pensamentos progressistas e dos partidos e em busca de referenciais negros que simbolizem competência e sucesso – lugar que o PCdoB navega com segurança.

No entanto, as assimetrias sociais, políticas e econômicas resultantes de 500 anos de opressão não se debelam em 10 anos, por mais esforços e energias investidos. O racismo ainda resiste, seus nefastos efeitos como a desigualdade salarial entre negros e brancos (36% segundo DIEESE); sub-representação de negros em espaços de decisão e poder (a população equivalem 50,6% dos brasileiros e 8,3% dos congressistas, segundo pesquisa da UNEGRO de 2011) e o espantoso índice de homicídio que tem vitimizado a juventude negra (o índice de mortes violentas de jovens negros foi de 72, para cada 100 mil habitantes; enquanto entre os jovens brancos foi de 28,3 por 100 mil habitantes, segundo Mapa da Violência) sintetizam a força do racismo no Brasil, há muito que se fazer para superá-lo.

O PCdoB, desde o primeiro momento, tem dado contribuição teórica e política ao processo de igualdade racial em curso, por isso sua responsabilidade aprofundar a luta contra o racismo nunca se esgota, precisamos estreitar relação com essa nova classe média negra ascendente e manter a luta para ascensão social da grande massa vitimada pelo racismo e pela opressão de classe. Para isso, é fundamental a realização da 1ª Conferência Nacional de Combate ao Racismo do PCdoB e instituição de uma Secretaria Nacional de Combate ao Racismo com vista a atualizar nossa reflexão sobre o tema e organizar o coletivo partidário aos novos desafios impostos na luta contra o racismo. 

*Edson França é presidente nacional da União de Negros pela Igualdade (Unegro).