Órgão da ONU para refugiados palestinos conclui campanha positiva

A Agência das Nações Unidas de Assistência e Trabalhos para os Refugiados da Palestina (UNRWA) e a Câmara de Comércio Árabe Brasileira finalizam nesta quinta-feira (12), em São Paulo, a campanha de arrecadação lançada em setembro. No evento de encerramento, o comissário-geral Filippo Grandi e o doutor Tayseer Sabbagh, vice-diretor da Área de Saúde da agência, deram previsões sobre o destino dos recursos na assistência aos refugiados palestinos.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho

UNRWA - Moara Crivelente / Portal Vermelho

Junto com representantes da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, que esteve encabeçando a campanha de arrecadação de doações no Brasil, os representantes da agência da ONU explicaram a situação dos refugiados palestinos nos territórios em que atua: Síria, Líbano, Jordânia, Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

Assim como no lançamento da campanha, acompanhado pelo Portal Vermelho, em setembro, o comissário Grandi explicou a urgência e as complexidades da assistência prestada pela agência na área da saúde, sobretudo com crises de violência que deslocam os refugiados pela segunda e terceira vez, como é o caso da Síria, ou com a situação da dura ocupação militar mantida por Israel sobre os territórios palestinos.

A complexidade aumenta com o passar dos anos, em que a questão dos refugiados palestinos ainda não é tratada de forma definitiva. Há 65 anos, cerca de 700.000 palestinos foram expulsos da sua terra durante o estabelecimento do Estado de Israel, e hoje a UNRWA tem cinco milhões de refugiados aos quais prestar assistência, com recursos cada vez mais insuficientes, através de cerca de 135 centros de saúde instalados na região.

Na Síria, cerca de 500.000 refugiados palestinos são registrados para receber assistência da UNRWA, que conta com 33 clínicas em todo o país. Entretanto, o conflito armado que já devasta o país há quase três anos colocou novamente em risco extremo uma população já vulnerável e deslocada.

Conforme o Vermelho relatou na matéria sobre o lançamento da campanha, a UNRWA sofre de um défice orçamentário expressivo. Dos cinco milhões de refugiados registrados para receber a sua assistência, três milhões dependem quase completamente dos seus serviços de saúde. A agência precisa de 1,2 bilhões de dólares (R$ 2,81 bilhões) anuais para a manutenção, principalmente, da assistência de saúde e educação.

Campanha de arrecadação no Brasil

A Câmara de Comércio Árabe Brasileira entregou aos representantes da UNRWA um cheque com a soma das doações arrecadadas, de R$ 124.270,00 que serão destinados à melhoria dos serviços prestados por dois centros de saúde ainda a serem definidos. De acordo com a agência, cada centro presta assistência médica a cerca de 36.000 refugiados, ou seja, mais de 70.000 palestinos serão beneficiados pela campanha.

Os objetivos primordiais são a compra de aparelhos de ultrassom e a transformação do sistema de registro dos casos e pacientes tratados em uma plataforma eletrônica, para a melhor gestão e para a criação de dados que apoiem o monitoramento das condições dos refugiados palestinos, assim como do tratamento que recebem. Os dados mais precisos e detalhados podem servir, inclusive, para a formulação de documentos que expõem o impacto do conflito e das condições de refúgio sobre a população.

A assistência materna e o tratamento e prevenção de doenças não transmissíveis, mas igualmente sérias, também estão no foco da campanha de arrecadação. O doutor Sabbagh deu como exemplos prioritários o diagnóstico e o tratamento da diabete e da hipertensão, que está entre as questões acentuadas com a situação de estresse e trauma experimentada pelos refugiados. Além disso, são condições de saúde que exigem tratamento contínuo e melhorado, o que requer equipamentos e serviços especializados.

Sabbagh contou a sua própria experiência para exemplificar a importância de programas como o de vacinação infantil. Ainda, a descoberta da diabete o levou a conseguir tratamento, além de ter sido submetido a uma operação cardíaca através da UNRWA. “Esta é a história de grande parte dos refugiados palestinos”, ressalta.

Os representantes da agência chamaram à atenção o caráter concreto e material resultante da campanha, que terá um impacto direto na vida dos refugiados. Ao mesmo tempo, também falaram de um resultado simbólico, da importância dada pela população atendida à solidariedade internacional, sobretudo a um povo, o palestino, que se sente tão “negligenciado e esquecido” pela comunidade internacional.

“Uma mulher grávida não esquecerá que seu parto foi feito com a ajuda das doações dos nossos amigos no Brasil, através da Câmara; nossas crianças não esquecerão que receberam a vacina contra a pólio com a sua ajuda; o povo não esquecerá que recebeu tratamento nos centros de saúde com a assistência dessas doações,” disse Sabbagh.

Segundo os representantes da Câmara presentes no evento, esta é apenas a primeira de uma série de campanhas futuras com as quais o compromisso é garantido. A arrecadação durou entre 30 de setembro e 9 de dezembro

Solidariedade ao povo palestino

Diversos representantes de entidades árabes e de solidariedade estiveram no evento de encerramento da campanha, inclusive doadores não identificados. A Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo, o Comitê pelo Estado da Palestina Já, o Instituto Jerusalém e outras entidades ligadas à justa causa palestina fizeram-se representar com demonstrações de apoio e empenho na questão.

No momento em que o mundo organiza atividades à volta do Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, 29 de Novembro, definido pela ONU em 1977, se noticia que a organização multinacional definiu também 2014 como o ano de solidariedade internacional ao Povo Palestino.

O comissário Filippo Grandi ressaltou enfaticamente a parceria do Governo Federal e dos governos regionais do Brasil, e informou que viajará a Brasília nesta sexta-feira (13) para uma reunião com o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, para discutir o aprofundamento deste apoio.

São de grande relevância a visibilidade e o simbolismo de campanhas como esta, pelos resultados concretos alcançados, de impacto direto nas vidas dos refugiados, apesar das limitações estruturais, conjunturais e territoriais dos trabalhos da UNRWA através dos diversos campos.

A oferta de escolas, centros de saúde, de capacitação e outras medidas de mitigação das condições extremas em que vivem os refugiados é mantida através das doações internacionais, apesar da manutenção da situação de exílio e deslocamento ao longo das décadas.

A negligência e a negação do direito dos refugiados palestinos ao retorno, reconhecido por diversas resoluções da ONU, perpetuam as situações de grave vulnerabilidade e dependência que levam essas populações a necessitarem de cada vez maior assistência.