Exército Zapatista reafirma luta e avanço da autonomia no México

O Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN) celebrou o levante das armas, de 1994, manifestando seu propósito de fortalecer a autonomia das suas regiões, com um novo chamado à rebeldia. Passados 20 anos do levante armado, o EZLN acusou o Governo Federal mexicano de manter uma estratégia de guerra contra o grupo e de querer tomar dele as terras que recuperaram desde então.

EZLN - AFP / Elizabeth Ruiz

Diante de vários milhares de convidados e centenas de integrantes de comunidades de base, em nome da direção zapatista, a comandanta Hortência leu um comunicado em que insistiu na luta pela manutenção da autonomia e do autogoverno:

“Estamos aprendendo a nos governar de acordo com as nossas formas de pensar e viver. Estamos avançando, melhorando e nos fortalecendo, entre todos, homens, mulheres, jovens, crianças e idosos. Como há 20 anos, dizemos que já basta. Existimos e aqui estamos. Há 20 anos, não tínhamos nada, nenhum serviço de saúde ou educação que fosse do nosso povo. Não existia qualquer nível de autoridade que fosse do povo. Agora, temos nossos próprios governos autônomos. Feitos por bem ou mal, mas é a vontade do povo.”

Às dez da noite de 31 de dezembro, logo após as honras à bandeira nacional e à zapatista, a comandanta Hortência, em nome do EZLN, assegurou que não haverá retrocesso na autonomia.
“Esta construção da autonomia e prática da democracia segue a sua marcha e ninguém poderá detê-la. Estamos compartilhando a nossa experiência com as novas gerações de crianças e jovens. Estamos preparando nossos povoados a resistirem e a governar. Em nossas vilas e zonas zapatistas já não mandam os maus governantes, nem os partidos mandam ou manipulam.”

“Estamos melhorando nossos sistemas de saúde, educação e governo. Estamos cientes de que falta muito por fazer, mas sabemos que a nossa luta avançará."

A comandanta disse que os zapatistas aprenderam a resistir nestes anos de encarceramento e assassinato, através de grupos de choque respaldados pelos três níveis de governo. “É uma verdadeira guerra de extermínio. Há dezenas de milhares de soldados que estão ocupando as terras que nos pertencem. Apesar de tantas maldades, aprendemos a sobreviver e resistir de maneira organizada.”

Hortência, uma mulher tsotsil que, nas últimas celebrações, ficou à frente para falar em nome do EZLN, disse que os zapatistas têm que seguir se organizando para fortalecer a rebeldia, o autogoverno e a resistência diante da estratégia governamental para debilitá-los.

“Nós, zapatistas, temos que trabalhar e nos organizar mais. Já não se trata apenas de resistir, mas de organizar a resistência em todos os níveis. [As autoridades] pensam que, com a sua estratégia, vão calar a estratégia, mas se equivocam. Aqui estamos, e continuaremos.” Para a comandanta, as armas do EZLN são, agora, a resistência, a rebeldia, a verdade, a justiça e a razão, que estão ao seu lado. “É tempo de fortalecer e globalizar a resistência e a rebeldia. Nossa luta tem a sua causa justa,” insistiu Hortência.

À celebração, que foi realizada no caracol de Oventic e que durou todo o dia, em meio à névoa e à brisa constante, assistiram milhares de jovens de quase todos os estados do país e de outros países, participando dos dois cursos da escola zapatista.

A eles, a comandanta Hortência pediu que tivessem em atenção a experiência em autonomia e autogoverno do EZLN, e para reconhecerem que ela pode ser aplicada em outros lugares.
A cerimônia política terminou pouco antes da meia noite, em meio às aclamações ao EZLN, aos subcomandantes Marcos, Moisés e Pedro – este, que morreu em 1994 – com os hinos nacional e zapatista.

Fonte: Proceso, portal e revista mexicana
Tradução de Moara Crivelente, da redação do Vermelho