Disputa política nos EUA põe novas sanções contra o Irã em foco

O Irã e os Estados Unidos – gravemente antagonizados desde a Revolução Islâmica que depôs o xá Mohammad Reza Pahlavi e sua ditadura criminosa respaldada pelos EUA – estão aos poucos entrando numa fase decisiva das negociações sobre o programa nuclear persa. Após décadas de sanções contra o Irã, entretanto, o presidente Barack Obama disse comprometer-se com o congelamento dessas medidas enquanto durarem os diálogos, mas nem mesmo alguns de seus colegas democratas são favoráveis à promessa.

Barack Obama - AP Photo/Jacquelyn Martin

O jornal estadunidense The New York Times publicou um artigo, nesta segunda-feira (13), em que analisa o que parece ser uma “queda de braço” entre Obama e diversos parlamentares, sobretudo para evitar o avanço de mais sanções contra o Irã.

Não que Obama seja o maior defensor da causa persa ou da diplomacia civilizada, mas principalmente devido ao consenso internacional sobre o avanço ao qual o Irã vem se dedicando nos chamados “diálogos nucleares”, ou seja, às negociações sobre o seu programa nuclear.

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Aprovar mais uma rodada das graves sanções que os EUA impõem – assim como a União Europeia e a própria Organização das Nações Unidas (ONU), mais recentemente – contra a República Islâmica do Irã seria como dar um tiro no pé, já que o governo persa tem reiterado diversas vezes que a sua paciência e compromisso com a diplomacia também tem limites.

Não obstante, membros do Partido Democrata no Senado "têm estado tentados" a apoiar uma medida que prevê a imposição de novas e estritas sanções contra o Irã, de acordo com o New York Times. Novamente, o pacote seria direcionado contra as exportações de petróleo – com o objetivo de nulificá-las, mais especificamente – e já tem o apoio de 59 senadores.

Isso coloca a proposta a uma distância mínima da maioria de dois terços necessária para a sua aprovação – e que invalidaria o veto que Obama tem ameaçado impor. Os republicanos, geralmente mais belicosos, apoiam a medida em peso, enquanto 16 democratas, que em termos generalizantes não são, tampouco, os mais pacifistas, já disseram aderir ao movimento, com a expectativa de atrair mais colegas.

Enquanto isso, diversos líderes internacionais, inclusive a própria chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, têm saudado o avanço significativo das negociações com o Irã, cujos primeiros resultados já são evidentes, com o anúncio sobre a diminuição do enriquecimento de urânio e a permissão à visita de inspetores internacionais às instalações nucleares persas, por exemplo.

Trata-se de um momento histórico na diplomacia mundial, de acordo com vários cientistas políticos, já que até o ano passado, a ameaça sobre um possível ataque aéreo – propagada principalmente por Israel, mas também sugerida implicitamente por alguns discursos estadunidenses – era o lugar-comum das notícias sobre o programa de enriquecimento de urânio do Irã, acusado de almejar a produção de armas nucleares.

A imposição de novas sanções em detrimento do avanço diplomático pode pôr tudo a perder. O alívio das já impostas, é preciso recordar, é exatamente a contrapartida prometida pelo Ocidente no âmbito do acordo-interino, que estabeleceu um prazo de seis meses para o avanço de questões importantes, até que um acordo final possa ser alcançado.

"Marcha em direção à guerra"

Os promotores da nova medida avaliada no Senado norte-americano prometem que o pacote será ainda mais duro. As sanções anteriores, renovadas e expandidas quase anualmente, desde 1979, têm como alvo o setor petrolífero, o automobilístico, o financeiro e também indivíduos e empresas ligadas de alguma maneira com o programa nuclear iraniano.

Embora tenha saudado a assinatura do acordo-interino que coloca a maquinaria em marcha, no domingo (12), a Casa Branca ressaltou, de acordo com o New York Times, que a votação de novas sanções seria, de fato, “uma marcha em direção à guerra”, enquanto desafiou os parlamentares que apoiam a medida a declararem publicamente que são favoráveis a uma ação militar contra o Irã.

“É apenas razoável que, se a opção diplomática for encerrada, resta a difícil escolha de esperar para ver se as sanções levarão o Irã a capitular, o que nós não pensamos que será o caso, ou considerar uma ação miliar,” disse Benjamin J. Rhodes, um conselheiro-adjunto de segurança nacional.

Novamente, entretanto, senadores dos dois lados revoltaram-se com as afirmações, e alegaram que foi a ameaça e a pressão do Congresso pela imposição de sanções o que trouxe o Irã à mesa de negociações, como se as medidas tratassem de uma “apólice de seguro diplomática”.

Por trás dessas posições, ressalta o artigo do jornal estadunidense, estão grupos pró-Israel como o Comitê Americano de Relações Públicas de Israel (Aipac, na sigla em inglês), que têm pressionado o Congresso declaradamente, a favor de mais sanções agressivas contra o Irã e que chegam a defender, inclusive, o ataque militar.

Já o governo persa tem advertido os Estados Unidos reiteradamente sobre as consequências extremas da volta às medidas que considera provocativas e violadoras do “espírito diplomático” e multilateral que se tem tentado instaurar. Além disso, a confusão dos senadores sobre a disposição do Irã para a diplomacia com o temor frente à “ameaça” também revela a falta de compreensão sobre o processo pelo qual a questão está passando, com o enquadramento deste processo, uma vez mais, em termos belicosos e agressivos.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho,
Com informações do New York Times