Químicos da Síria são transportados à costa da Itália

As armas químicas da Síria são destinadas ao porto italiano de Gioia Tauro, na Calábria, de acordo com o Governo da Itália, em informações divulgadas pela mídia internacional nesta quinta-feira (16). O diretor-geral da Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq) tem ressaltado a complexidade e o atraso da operação devido às questões de segurança, uma vez que o país ainda atravessa um conflito armado disseminado.

Opaq - News Australia / Vídeo

“O Governo considerou que o porto de Gioia Tauro é o mais apropriado”, anunciou o ministro das Infraestrutura da Itália, Maurizio Lupi, citando razões “técnicas e de segurança”.

O plano de transporte dos produtos químicos de uso militar foi aprovado em dezembro pela Opaq e pela Organização das Nações Unidas (ONU), após o avanço da proposta pela Rússia, com o apoio do governo da Síria.

De acordo com o mesmo plano, os compostos mais perigosos do arsenal químico serão destruídos a bordo do navio estadunidense Cape Ray, equipado com um tanque especial de titânio, onde os materiais vão ser neutralizados através da adição de água.

As armas deveriam ter sido retiradas da Síria até ao final de dezembro, mas devido a problemas logísticos e de segurança, o primeiro carregamento só deixou o porto de Latakia na semana passada, a bordo do cargueiro dinamarquês Arc Futura. O navio está ao largo da Síria, escoltado por embarcações da Rússia, China e Reino Unido, e deve seguir para a Itália quando a carga estiver completa, ainda sem previsão.

Referindo-se a eventuais protestos na Itália, contra a operação, a chancelaria informou que os químicos serão transferidos “de barco para barco”, sem tocarem em solo italiano.

No início desta semana, os EUA tinham entrado em contato com Portugal, de acordo com o jornal português Público, para averiguar a possibilidade de o transbordo ser feito na ilha Terceira do arquipélago dos Açores, onde está localizada a base das Lajes da Força Aérea Portuguesa.

Depois disso, um porta-voz da Opaq disse não saber que a opção açoriana estava sobre a mesa, mas o gabinete do governo regional garantiu ter enviado à organização uma “nota verbal” sobre os contatos que Portugal tinha mantido com os norte-americanos a propósito desta operação.

Instabilidade e insegurança

Em Roma para explicar aos deputados italianos os detalhes da operação de transbordo, o diretor da Opaq, Ahmet Uzumcu, admitiu que a retirada dos químicos da Síria está atrasada: das 560 toneladas de químicos listados como prioritários, a partir de um documento enviado pelo governo sírio à organização e à ONU, apenas 16 foram transferidas para o cargueiro dinamarquês.

Uzumcu considera que será difícil cumprir o prazo de 31 de março (data prevista na resolução da ONU para a eliminação daqueles componentes), mas se afirmou “confiante” de que a tarefa estará concluída até ao final de junho, data-limite para a eliminação de todo o arsenal, conforme o acordado com a Síria, através da proposta negociada pela Rússia com os EUA.

O diretor da Opaq diz que o atraso se deve a razões logísticas, mas sobretudo aos desafios que representa efetuar uma operação desta envergadura em plena guerra. “A maior preocupação é claramente o transporte destas armas e substâncias químicas até ao porto de Latakia”, afirmou, acrescentando que o governo sírio comunicou à Opaq ataques contra dois locais de armazenamento de armas químicas.

Os grupos armados que atuam no país seguem indecisos sobre a participação na Conferência Internacional de Paz "Genebra 2", planejada para a próxima quarta-feira (22), apesar do compromisso sírio com a diplomacia.

Membros da chamada Coalizão Nacional Síria (CNS), que alega representar a oposição ao governo, exige a demissão do presidente Bashar Al-Assad como precondição para o envolvimento na conferência, enquanto o apoio logísitico, financeiro, bélico e político que recebem do Ocidente e de vizinhos árabes possibilita a continuidade dos confrontos no país.

Da redação do Vermelho,
Com informações do Público