Grupo ligado a Al-Qaeda admite explosão desta terça no Líbano

A Frente al-Nusra, ligada à rede Al-Qaeda, afirmou ser responsável por um ataque suicida que matou ao menos quatro pessoas e feriu outras dúzias nos subúrbios da capital libanesa, Beirute, na manhã desta terça-feira (21). A escalada da violência protagonizada pelos grupos extremistas na região continua sendo a maior preocupação dos países árabes.

Beirute Líbano - Haitham Moussawi / Al-Akhbar

A declaração divulgada pela Frente Al-Nusra, de acordo com o portal libanês de notícias Al-Akhbar, diz que o ataque “foi uma resposta aos massacres do partido do Irã [Hezbolá] contra as crianças da Síria e as crianças de Ersal”, referindo-se ao apoio prestado pela resistência libanesa – que conta com o respaldo iraniano – às tropas oficiais do governo sírio contra os grupos armados que têm atuado no país, inclusive através do terrorismo.

O ministro da Saúde do Líbano anunciou que ao menos quatro pessoas foram mortas e 46 ficaram feridas no ataque, que teve como alvo uma região considerada influenciada pelo partido e movimento de resistência islâmica, Hezbolá.

A explosão aconteceu no final da manhã, a poucos metros do local onde outro atentado suicida ocorreu, a menos de três semanas, no distrito de Haret Hreik. O Exército libanês, citado pelo Al-Akhbar, disse que a explosão foi causada por projéteis de 120 milímetros que detonaram no porta-malas de um carro, dirigido pelo militante que se matou no episódio.

Residentes da região deram declarações revoltadas ao portal, logo após a explosão: “Este é o nosso lar e nunca o deixaremos. Nascemos aqui e, se Deus quiser, morreremos aqui”, disse Houssam Wehbe, de 21 anos de idade.

O primeiro-ministro designado, Tammam Salam – que deve assumir este cargo quando o governo libanês for estabelecido formalmente – condenou este “ato terrorista” em uma declaração. Ele instou os libaneses “a fortificarem a frente doméstica” e a “enfrentar este ato com sabedoria, para fortalecer o Líbano nos níveis securitário e político.”

O parlamentar Sami Gemayel, do partido Falanges, da direita, alegou que o envolvimento do Hezbolá na Síria estava colocando o Líbano em risco. “A única solução, para nós, é nos retiramos do cenário regional. Os libaneses estão pagando um alto preço,” afirmou. Mas esta perspectiva não corresponde à dos residentes de Haret Hreik, de acordo com o Al-Akhbar.

Apoio à resistência contra a fragmentação

“A situação é assustadora. Há algumas semanas, a bomba explodiu aqui, e antes disso, houve outra mais adiante, na estrada. Não há solução para isso,” disse um jovem de 25 anos. “Se o Hezbolá deixar a Síria, [os atacantes] virão para o Líbano. Eles trarão a guerra para cá. O Hezbolá está na Síria para impedir que isso aconteça. Nós estamos com o Hezbolá”, continuou.

Outro homem, o garçom Nabih Salem, interpelou-o: “Se o Hezbolá não estivesse na Síria, a situação seria pior. É preciso ver quem está se beneficiando disso para entender por que isso pode estar acontecendo. Israel costumava pôr carros-bomba nesta área há muito tempo, muito antes de o Hezbolá ir para a Síria, e eles são os principais beneficiados, ainda.”

Salem continuou: “Além está avaliando esses suicidas. Um grande país está por trás disso. Eles estão colocando ideias nas cabeças deles de que se você se explodir, irá para o paraíso.” De acordo com o portal, todos os residentes que deram declarações rejeitaram a noção de que esses ataques os levariam para uma batalha sectária.

“No Líbano, vivemos todos juntos. Xiitas vivem com sunitas. Xiitas vivem com cristãos, cristãos com sunitas. Mas ninguém pode viver com os salafistas,” disse Abdallah Bou Melhem, um estudante universitário, referindo-se a um grupo de sunitas que considera ser o precursor e o exemplo da prática islâmica, e que chega a usar a violência para promovê-la.

A explosão desta terça-feira foi a sexta a atingir a capital do Líbano e seus subúrbios do sul desde 9 de julho de 2013, quando um carro bomba explodiu em um bairro de Dahiyeh, Bir al-Abed. Em 15 de agosto, outra grande explosão em uma estrada pública movimentada entre dois bairros da mesma região matou 27 pessoas e deixou mais de 100 feridas.

No fim do ano, ao menos 23 pessoas morreram quando dois suicidas se explodiram diante da Embaixada do Irã, no sul de Beirute. Em agosto, duas explosões mataram 43 pessoas diante de duas mesquitas em Trípoli, no norte, a segunda maior cidade do país.

Em uma das explosões na capital, o ex-ministro das Finanças Mohammed Shatah esteve entre os oito mortos, tornando-se a primeira figura política a ser assassinada desde outubro de 2012, quando outra explosão matou o general-brigadeiro Wissam al-Hassan, no distrito de Ashrafieh. E no início de janeiro, uma explosão suicida matou cinco pessoas no mesmo bairro do incidente desta terça.

Enquanto isso, o Hezbolá continua instando os diferentes partidos políticos a esforçarem-se por um governo de união nacional e reconciliação, para fazer frente à fragmentação nacional almejada por países vizinhos e agressores recorrentes, especialmente Israel.

Moara Crivelente, da redação do Vermelho,
Com informações do portal Al-Akhbar