Oposição incita protestos violentos contra o governo da Ucrânia

Confrontos entre manifestantes e policiais em Kiev, na Ucrânia, nesta quarta-feira (22), voltaram a colocar os protestos naquele país sob o foco da mídia internacional. Líderes da oposição ao governo foram citados pela emissora Russia Today, nesta quinta (23), ameaçando o governo de que “partirão para ofensiva” caso suas exigências não sejam cumpridas, com ações violentas cujas imagens têm causado alarme.

Yulia Tymoshenko e Arseniy Yatsenyuk da oposição na Ucrânia - Reuters

Os manifestantes continuam mobilizados no centro de Kiev, causando tensões e mantendo ações violentas. “Amanhã, se o presidente não responder (…), vamos partir para a ofensiva”, disse Vitaly Klitscheko, um dos líderes dos protestos, em um discurso para milhares de ucranianos na Praça da Independência.

Ainda em 2013, as manifestações violentas eclodiram quando o presidente da Ucrânia, Victor Yanukovich, decidiu suspender a assinatura de um acordo que levaria à adesão do país à União Europeia.

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A situação econômica e social de diversos países do bloco, devastados pela recessão e pelas medidas de arrocho impostas pelos credores regionais e internacionais, têm preocupado o mundo, mas a oposição ao governo de Yanukovich ficou revoltada com a sua decisão e iniciou uma série de protestos que têm sido avaliados como uma tentativa de golpe.

Ainda assim, depois de uma reunião de três horas entre o presidente e os líderes da oposição, os manifestantes disseram que não tinham recebido qualquer resposta positiva às suas exigências, que foram expandidas para incluir a suspensão das leis antirrebelião, a demissão do governo e a antecipação das eleições.

Yanukovich ofereceu a continuidade das conversações sobre as leis no dia seguinte, ou seja, nesta quinta (23), de acordo com Arseniy Yatsenyuk, liderança no maior partido de oposição na Ucrânia, o Partido da Pátria, da direita conservadora-liberal, que defende a adesão à UE.

A líder do partido é a ex-premiê Yulia Tymoshenko, que tem um histórico de má gestão, corrupção e abuso de poder, pelo que foi julgada e condenada a sete anos de prisão. A UE havia alegado uma motivação política no julgamento da ex-premiê e, por isso, suspendido o processo de assinatura de acordos econômicos e comerciais.

As negociações para o Acordo de Adesão à UE e do Acordo de Livre-Comércio Abrangente e Sustentável tinham sido retomadas, entretanto, mas o governo ucraniano resolveu suspender o processo, sobretudo devido às exigênciais tradicionais de reformas neoliberais impostas como condicionantes.

Em alternativa, a adesão à União Aduaneira entre Rússia, Cazaquistão e Bielorrússia foi avançada, o que levou a Europa e os EUA a alegarem que a pressão russa havia impedido a adesão da Ucrânia ao bloco europeu, o que já foi negado pelos governos envolvidos.

Apesar disso, a oposição ainda está convocando os manifestantes a continuarem na praça e para prepararem-se para uma possível “ofensiva da polícia”. Yatsenyuk disse a um grande grupo: “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedi-los de expulsar-nos”, de acordo com a Russia Today.

Protestos violentos e confrontos midiáticos

De acordo com a emissora russa, diversos manifestantes continuam ocupando as ruas ao redor do Parlamento, queimando pneus, quebrando lojas e outras construções e formando barricadas.

     Foto: RIA Novosti / Andrey Stenin
 

A polícia passou toda a noite mantendo sua posição, tentando apagar incêndios com canhões de água. Depois de quatro dias de protestos, o centro da capital ucraniana continua parecendo uma zona de guerra, com fumaça, barricadas e escombros.

O ex-presidente ucraniano Leonid Kravchuk disse reconhecer e agradecer a paciência dos agentes da polícia enquanto confrontavam os manifestantes em uma das ruas ocupadas, Grushevskogo.
“Eles estão atravessando um desafio enorme: apanhando, sendo alvo de pedras e misturas inflamáveis, mas eles permanecem lá e aguentam. Não são muitos os países que têm tropas que tolerariam tal tratamento em uma situação similar.”

Os confrontos de quarta entre os manifestantes e a polícia foram intensificados durante a tarde depois de as tropas de choque terem expulsado vários rebeldes da rua Grushevskogo.

Filmagens da capital ucraniana mostraram centenas de policiais usando gás lacrimogêneo, balas de borracha e outras bombas de efeito moral que produzem clarões e barulhos altos (chamadas “flashbang”), no que foi considerada a maior ação de dispersão desde o último episódio, com a ênfase sobre a repressão violenta de alguns policiais.

Manifestantes responderam com um ataque intenso com pedras e coquetéis Molotov, impedindo o avanço da polícia por um breve período, inclusive com a vantagem provocada pela fumaça dos pneus queimando.

As informações avançadas pela mídia internacional têm divergido sobre o número de mortos nos confrontos, com estimativas entre dois e quatro manifestantes vitimados nos últimos quatro dias de protestos. Ainda assim, são as primeiras vítimas fatais dos embates, enquanto 200 pessoas ficaram feridas, de acordo com a Russia Today.

Outras imagens também mostraram manifestantes com paus e chamas atacando policiais que formavam um cordão de segurança à volta de edifícios do governo. Além disso, muitos lançavam pedras, entulhos e coquetéis Molotov diretamente contra os policiais.

O Ministério de Assuntos Internos publicou um vídeo mostrando um grupo de policiais sendo atacado repentinamente, desde atrás de uma cerca, na segunda-feira (20). Bombas com gasolina foram lançadas no meio dos cordões, incendiando os uniformes dos policiais, dos quais alguns também foram vistos atirando de volta os coquetéis Molotov lançados pelos manifestantes.

Na quarta-feira, o primeiro-ministro Nikolay Azarov disse que a polícia não recebeu instruções adicionais sobre o uso da força contra os envolvidos nos protestos. Os procedimentos em vigor incluem a garantia de uso mínimo da força, apenas nos casos dos manifestantes mais violentos.

“As instruções dadas aos oficiais foram simples: evitem o uso da força contra manifestantes pacíficos e impeçam a tomada violenta dos prédios e instituições do governo”, disse Azarov em entrevista à emissora britânica BBC.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho,
Com informações das agências