Há 31 anos metroviários paravam São Paulo

A homenagem prestada a sindicalistas perseguidos pela ditadura fascista implantada em 1964, em São Bernardo (SP), neste sábado (1), atiçou a memória dos dirigentes do Sindicato dos Metroviários de São Paulo sobre os fatos da Greve Geral de 1983 e criação do Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores da Comissão Nacional da Verdade.

Marcos Aurélio Ruy, no Portal CTB

Greve geral em São Pualo 1983

“Eram tempos difíceis e boa parte de nós, muito jovens, queríamos enfrentar os brutamontes da Polícia Federal (PF), quando fomos presos um ano anos ao protestarmos contra a proposta de privatização do Metro na inauguração da Rodoviária Tietê, pelo então governador nomeado do estado, Paulo Maluf”, relata Onofre Gonçalves de Jesus, presidente da CTB-SP e diretor dos Metroviários-SP naquele ano. Ele complementa explicando que os sindicalistas mais experientes continham os mais afoitos para não entrarem em provocação.

A Greve Geral de 21 de julho de 1983 marcou a história do movimento sindical brasileiro por ter sido a primeira de muitos anos de abstinência e também porque unia diferentes correntes do sindicalismo com objetivo de conquistar a democracia. “A participação dos metroviários foi essencial para o sucesso da greve na capital paulista”, informa Paulo Roberto Soler, secretário-geral do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, naquele tempo.

A decisão de somar aos companheiros e aderir à greve foi decidida em assembleia da categoria no dia 19 de julho e “preparada intensamente nas áreas a partir de então. Parte da direção do Sindicato que dormiu em locais diferentes nas duas noites anteriores à deflagração da greve por causa das ameaças de prisão feitas pela PF”, conta Soler. Os cinco sindicatos mais atuantes nessa greve geral sofreram intervenção comandada pelo ministro do Trabalho Murilo Macedo.

O sindicato criado em 1981 foi um dos que teve interventor nomeado pelos ditadores de plantão, os demais sindicatos foram o dos Petroleiros em Paulínia (SP) e Camaçari (BA), dos Metalúrgicos do ABC (em 1983 era de São Bernardo e Diadema), dos Bancários de São Paulo e dos Metroviários-SP. “Mas como a oposição elegeu diversos governadores progressistas em 1982, caso de São Paulo com Franco Montoro e Almino Afonso, a diretoria cassada continuou representando os metroviários em várias negociações”, ressalva Soler.

Na véspera da greve, dia 20, “da noite para a madrugada, os diretores Wagner Gomes e Luiz Rosa, pararam os operadores de trem e ajudaram outros a pararem as estações. No setor de manutenção, Onofre, Bosco, Soler, Roberval, Valadão, Mineiro entre outros ajudaram a parar todo o Pátio de Manutenção do Jabaquara”, garante Soler. E assim a capital paulista amanheceu paralisada.

Onofre lembra que ocorria uma reunião da diretoria dos metroviários para organizar a greve quando “recebemos a notícia de que a PF rumava ao nosso encontro par anos prender“. Já o dirigente Maurício de Souza Pereira rememora que muitos sindicalistas “escaparam em porta-malas de carros de deputados estaduais e assim entraram na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp)”. Onofre destaca os nomes de Eduardo Jorge (PT) e Benedito Cintra (PCdoB) como “fundamentais no acolhimento aos sindicalistas”, impedindo a prisão, pois “a PF não podia invadir a Alesp”.

Para Pereira a fuga dos sindicalistas foi fundamental para a continuidade do movimento. “Da Assembleia nós organizamos e dirigimos a greve em São Paulo”. A Greve Geral de 1983 foi fundamental para o massivo movimento das Diretas Já em 1984 culminando com o fim da ditadura no ano seguinte via colégio eleitoral com eleição da chapa Tancredo Neves/José Sarney. Mais de 3 milhões de trabalhadores e trabalhadoras saíram às ruas enfrentando o regime militar de cara limpa.

O atual secretário-geral da CTB Wagner Gomes, outro dirigente dos Metroviários-SP naquele tempo, disse que foi preso no protesto na Rodoviária Tietê em 1982 com o uniforme do Metro, porque “estava em horário de serviço”. Ele conta que foi separado dos seus companheiros também preso justamente porque “com o uniforme poderia circular em qualquer área e chegar próximo ao então governador do estado. Assim raciocinaram os repressores”, sinaliza Gomes. Ele relata que separado do grupo apanhou mais. “Tomava tapas nas orelhas e socos na barriga, depois deter meu crachá rasgado”.

O delegado da PF Romeu Tuma apareceu para conversar , conta Gomes, “ele queria saber por que eu estava de uniforme e o que pretendia fazer. Contei que protestávamos contra a privatização”, mas foi “a presença de deputados que facilitou a nossa liberação”, ressalva. Depois de presos a atuação dos deputados federais Eduardo Suplicy (PT) e Antonio Rezk (PMDB, na época) “foi fundamental para a nossa liberação’, lembra Onofre.

Quando o Sindicato dos Metroviários de São Paulo realmente encampou o movimento na capital, o presidente Paulo Otávio de Azevedo Júnior estava no exterior em viagem de intercâmbio com a luta de trabalhadores de outros países. Mas chegou a tempo de participar do movimento, asseguram os dirigentes dos metroviários. “O sindicato ficou cerca de um ano sob intervenção e só com o fim da ditadura pudemos retomar o nosso sindicato”, ressalta Gomes.

“Muitos companheiros foram fundamentais para o sucesso dessa greve que resultou na união da classe trabalhadora para por fim ao ciclo ditatorial no país”, sintetiza Soler. Para ele, “31 anos, fica a importância de se contar a história porque nenhum movimento brota do nada da noite para o dia”, afirma.

Nem o site do Sindicato dos Metroviários de São Paulo conta essa dignificantes história não apenas dos sindicato, mas da classe trabalhadora brasileira. Imaginem a situação do Metrô paulista se os trabalhadores e as trabalhadoras não tivessem resistido às inúmeras investidas do capital contra o trabalho no intuito de privatizar a empresa. Relembrar o fato é importante para mostrar que o movimento sindical tem uma bonita história.