Mídia engana sobre eventos na Venezuela, diz atleta brasileiro

Desde o início dos protestos da oposição venezuelana contra o governo do presidente Nicolás Maduro as informações divulgadas pela grande imprensa conservadora mostram um cenário divergente da realidade das ruas de Caracas, capital do país. Em entrevista ao Vermelho, o triatleta brasileiro Bruno Bianor, que viajou à Venezuela para uma competição (que foi cancelada), no dia 13 de fevereiro, contou o que viu ao participar das marchas.

Por Mariana Viel e Théa Rodrigues, da redação do Vermelho

O triatleta e maratonista, Bruno Bianor, foi à Venezuela com a intenção de competir na "Maraton de la Caf" (prova de corrida de rua), mas foi surpreendido pelo comunicado de última hora emitido pelo comitê organizador, informando o adiamento da prova "devidoaos acontecimentos recentes, que não permitem garantir a viabilidade logística e o êxito do evento".

Bianor falou com exclusividade ao Portal Vermelho sobre a realidade que vivenciou em Caracas. Ele participou de duas marchas “pela paz e contra o fascismo” convocadas pelo governo e descreveu a crise no país como um exemplo clássico da luta de classes. Segundo ele, de um lado está o que o governo classifica como "direita fascista" venezuelana, que é composta por opositores e que alcança uma parcela da população com maior poder aquisitivo. Do outro lado está a esquerda, que é formada por apoiadores da Revolução Bolivariana e também pela população mais pobre do país.

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“Vi algo totalmente diferente do que a mídia mostra aqui. No dia 15 de fevereiro participei da marcha convocada pelo presidente Maduro. Eram mais de 200 mil pessoas, vestidas com roupas e boinas vermelhas e fazendo um apelo pela paz e pelo fim da violência durante os protestos. É uma guerra de ricos contra pobres”, afirma o triatleta.

Segundo ele, à noite são realizados nos principais pontos da capital como, por exemplo, na Assembleia Nacional Bolivariana, eventos pacíficos com a participação e de artistas e jogadores de futebol e beisebol. Ele também integrou a marcha convocada para as mulheres no último sábado (22) e reafirmou o clima pacífico da manifestação.

Bruno contou que as cenas de violência são protagonizadas por grupos de estudantes encapuzados durante os protestos da direita venezuelana. Entre os principais alvos estão o Metrobus – sistema venezuelano de ônibus que faz parte do Metro de Caracas. Esse sistema liga as estações do Metrô da capital aos bairros mais afastados da cidade.

“As manifestações são muito parecidas com as que aconteceram no aqui no Brasil durante a Copa das Confederações. São grupos isolados de vândalos que se escondem atrás de máscaras para roubar, agredir policiais e, principalmente, atacar os Metrobus que são do governo. Durante os últimos protestos eles quebraram mais de 30 ônibus. Em resposta o governo venezuelano comprou mais de 100 novos ônibus da China”.

Bianor também foi conferir duas manifestações da oposição e diz que o clima dos protestos muda à noite. “Durante o dia as manifestações da direita também são tranquilas. À noite as pessoas mais velhas se retiram e são os estudantes que provocam a baderna. A mídia mostra que parte da polícia age com violência, mas eu não vi isso lá. Não vi conflito. Quando percebi em Altamira, um bairro mais afastado do centro de Caracas e com pessoas de poder aquisitivo maior, os estudantes encapuzados chegando fui embora. A direita fascista se concentra no Leste da capital”.

A mídia marrom venezuelana tem exercido um papel importante no processo de golpe, no entanto os meios de comunicação internacionais também são responsáveis pela desinformação à respeito da conjuntura venezuelana. Bianor denuncia que a rede de televisão norte-americana, CNN, atribui constantemente imagens de conflitos de outros países à polícia e ao governo. “Várias imagens precisam ser desmentidas nas redes sociais e na tevê estatal venezuelana”.

Recentemente, Maduro deu um ultimato à CNN para que cesse a transmissão do que chamou de "propaganda de guerra". Ele destacou que "meios internacionais como o canal CNN em espanhol se dedicam a difundir o ódio".

O triatleta diz que voltou da Venezuela com um sentimento chavista muito maior. Ele pondera que o país ainda enfrenta problemas sociais, mas diz que o processo de distribuição de riqueza iniciada pelo governo do ex-presidente Hugo Chávez é perceptível na vida da população mais pobre do país. “A distribuição de renda é diferente daquela que passa na televisão. O povo mais humilde tem acesso a muita coisa. Com o mesmo valor de um copo de água comprado no supermercado você enche o tanque de gasolina seis vezes. O petróleo da Venezuela é tratado como um patrimônio do povo e eles têm o direito de usufruir dele. A tentativa de golpe de estado é nítida e muito bem orquestrada e inteligente, mas a esquerda está preparada para defender a Venezuela”.