Ator negro que foi preso por engano é solto no Rio

O ator Vinícius Romão de Souza deixou a Cadeia Pública Patrícia Acioli, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, às 13h43 desta quarta-feira (26). Ele passou 16 dias preso sob a acusação de ter assaltado uma mulher no bairro do Méier, na zona norte carioca. A vítima inicialmente afirmou tê-lo reconhecido como autor do assalto, mas depois voltou atrás.

Fábio Motta/Estadão
Vinícius Romão de Souza deixou a prisão nesta quarta-feira

Mais de dez amigos de Souza foram até a porta do presídio para acompanhar a libertação. Ao sair, o ator preferiu não conversar com a imprensa e disse apenas: "Amanhã eu converso com todos vocês. A Justiça vai ser feita". Ele estava acompanhado pelo advogado Rubens Nogueira de Abreu e familiares.

Souza, que é psicólogo e fez uma participação na novela da TV Globo Lado a Lado, foi preso sob acusação de ter roubado a bolsa de uma enfermeira na noite do dia 10. Nos dois primeiros depoimentos, a vítima reconheceu o rapaz como sendo o autor do crime. Na segunda-feira, 24, amigos e familiares iniciaram uma campanha pelas redes sociais, pedindo a liberação de Souza, argumentando que ele estava preso porque havia sido confundido. A enfermeira prestou novo depoimento e afirmou, desta vez, que havia errado e que não tinha voltado à delegacia por falta de dinheiro para a passagem de ônibus.

Após o novo depoimento, o delegado Niandro Lima, da 25.ª Delegacia de Polícia (Engenho Novo), responsável pela investigação, ajuizou um habeas corpus em favor do ator.

Caso recorrente

A prisão por engano do ator Vinícius Romão de Souza é vista como recorrente por membros do movimento negro e advogado criminalista ouvido pelo Estado. A repercussão do caso, segundo eles, contribuiu para que o ator não ficasse mais tempo preso.

Para a colaboradora do Núcleo de Consciência Negra da Universidade de São Paulo (USP) Maria José Menezes, a prisão de Vinícius não foi por engano. "Negro sempre é vilão até provar que não", afirma, citando trecho de música. Para Maria José, o caso não é fato isolado. "É uma política do Estado. O policial tem visão que negros e/ou periféricos são suspeitos ou culpados por algo. Isso é cotidiano e naturalizado pela sociedade", considera.

Ela lembra que o caso ganhou repercussão pelo fato de Vinícius ser ator. "Houve uma comoção, por causa de sua posição. Isso foi diferencial. Se fosse trabalhador comum, ficaria mais tempo preso por causa de falta de acesso à Justiça", afirma. Já o advogado criminal Fernando Castelo Branco, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), lembra que o reconhecimento pessoal é uma das formas de caracterização e comprovação do crime e defende rigor no procedimento. "É um elemento de prova, mas a lei exige cautela para reconhecimento. Uma delas é ser colocado com outras pessoas semelhantes. Não pode prender uma pessoa dessa maneira."

Fonte: Estadão