Israel e Palestina: EUA querem prorrogar prazo para negociações

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, visita os Estados Unidos desde a segunda-feira (3), quando conversou com o presidente Barack Obama e com o secretário de Estado John Kerry sobre as emperradas negociações com a Autoridade Palestina. Netanyahu também participou de uma conferência com membros do lobby pró-israelense nos EUA, nesta terça-feira (4), enquanto Obama e Kerry preparam uma proposta para a extensão das conversações.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Obama e Netanyahu - Reuters

Praticamente desde o início do novo processo de negociações entre Israel e a Autoridade Palestina (AP), retomado no final de julho de 2013 e previsto para terminar em abril deste ano – embora Kerry e Obama tenham indicado a pretensão, inaceitável para os palestinos, de prorrogar o prazo final – a denúncia central é a expansão das atividades de ocupação israelense sobre a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, territórios palestinos.

De acordo com a organização de promoção da diplomacia em Israel, Peace Now, a construção de colônias, ou de novas residências nos “blocos” ou cidades ilegais já existentes, aumentou 123% em 2013, uma cifra confirmada pelo Departamento Central Israelense de Estatísticas, que especificou: 2.534 novas unidades habitacionais começaram a ser construídas naquele ano, mais do que o dobro de 2012.

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O governo de Netanyahu é citado repetidamente como o recordista de construções nos territórios palestinos. A organização declarou, quando emitiu seu relatório, na segunda-feira (3), que ficou claro o único compromisso do premiê: “construir colônias. [Os números] mostram a falta de comprometimento com as negociações e outras questões como a falta de residências dentro de Israel. O Estado tem focado seus recursos nas construções além da fronteira.”

Além disso, também é frequentemente enfatizado o aumento da violência e da demolição de casas palestinas pelas autoridades israelenses, o que torna a “diplomacia” uma noção distante e um discurso retórico para a maior parte dos palestinos.

Enquanto isso, relatos citados pelo pesquisador estadunidense Natan Sachs, em artigo desta quarta para o jornal The Huffington Post, sugerem que a equipe diplomática dos EUA, liderada pelo enviado especial Martin Indyk, está preparando mais uma proposta com detalhes sobre as questões conclusivas, como base para “a continuação das negociações para além do prazo” inicial, abril.

Questões centrais e entraves

Após a visita de Netanyahu, o presidente da Autoridade Palestina também deve chegar à Casa Branca em 17 de março, onde ouvirá a mesma demanda pela continuidade das negociações, embora os palestinos demonstrem profundo ceticismo, principalmente com o comprometimento dos Estados Unidos na mediação, dada a negligência fundamental para a continuidade da ocupação israelense.

Apesar de algumas “advertências”, as autoridades promotoras da colonização ainda não sofrem consequências relativas à política que mina repetidamente qualquer esforço diplomático. Aliás, a manutenção de grandes colônias em territórios palestinos é contemplada na proposta de acordo empurrada pelos EUA.

Algumas das questões sobre a mesa são as fronteiras, reivindicadas pelos palestinos como as que o consenso internacional já apoia, ou seja, as anteriores à Guerra dos Seis Dias, de 1967, quando Israel passou a ocupar e anexar mais territórios árabes.

Além disso, fica proposta também a troca de territórios, para acomodar a reivindicação israelense sobre as suas maiores colônias e também sobre as regiões com grande número de habitantes palestinos, já que a “preocupação demográfica” é posta por algumas autoridades racistas em Israel como “séria ameaça securitária” e também à exigência do reconhecimento do país como “Estado judeu”.

Pesquisas de opinião recentes citadas por Sachs indicam que Netanyahu conseguiu convencer grande parte da população, com a sua retórica racista e fanática sobre a identidade judaica, acerca da importância do reconhecimento de Israel como a pátria nacional do povo judeu, o que seria, segundo ele, “um sinal importante de que os palestinos estão mesmo comprometidos com a paz.”

Extensão das negociações

Frente à estagnação destrutiva das negociações, enquanto a Autoridade Palestina já retoma os planos para recorrer ao direito internacional na proteção dos palestinos e na responsabilização das autoridades israelenses pela ocupação e pela violência, o presidente Obama deve envolver-se diretamente na questão.

Entretanto, para grande parte dos palestinos que têm se manifestado contra as conversações, a ação direta do presidente significa quase nada, uma vez que os Estados Unidos apresentam-se claramente como aliados de Israel. A negligência diante da ocupação e os próprios discursos de Obama e outras autoridades estadunidenses neste sentido corroboram a pouca esperança em uma solução justa que resulte da mediação da Casa Branca.

Além disso, discussões públicas recentes entre autoridades israelenses e o secretário de Estado norte-americano colocaram um ponto de tensão sobre as relações bilaterais, uma vez que a extrema-direita racista e promotora da colonização sobre a Palestina ainda vê as propostas de Kerry como insuficientes frente às suas demandas. Por isso, o envolvimento maior de Obama também é visto, segundo Sachs, como uma forma de diminuir a personificação do processo com a imagem e a presença frequente de Kerry em Israel.

Manter o eterno processo de paz só tem levado à institucionalização da ocupação e à eliminação da possibilidade de estabelecimento do Estado da Palestina conforme o acordado em 1948, quando da criação do Estado de Israel, e nos processos subsequentes.

Já não há “posições a serem esclarecidas” ou acertadas, como alegam os mediadores estadunidenses para reivindicar a extensão de mais este período de conversações infrutíferas. As décadas de conversações, os encontros frequentes e as denúncias públicas, além dos próprios relatórios de organizações como a ONU e as suas resoluções, que condenam a violação dos direitos dos palestinos e da sua autodeterminação, em geral, já bastam para o esclarecimento da situação.

Assim, em abril, se a AP decidir corresponder à pressão popular contra a extensão do prazo, um novo caminho de construção da causa palestina será mais promissor no âmbito internacional, através da ONU, dos países amigos, da responsabilização das autoridades israelenses pela ocupação e na consolidação do reconhecimento do Estado da Palestina, garantido em 2012 por mais de 130 países.