Palestinos reagem à fala de Obama sobre "concessões" a Israel

Nesta quarta-feira (5), a Autoridade Palestina (AP) reagiu às declarações do presidente dos EUA, Barack Obama, por ocasião da visita do premiê israelense Benjamin Netanyahu. Obama disse que pressionará o presidente da AP, Mahmoud Abbas, para “tomar decisões difíceis”. Enquanto o chamado “processo de paz” completa 20 anos, a total falta de avanço diplomático define o panorama da ocupação israelense e da negligência dos EUA.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Vale do Jordão - The Electronic Intifada

Através de uma declaração divulgada na quarta, a Autoridade Palestina afirmou: “É importante que saiba, senhor presidente [Obama], que já não resta qualquer [tema] onde possamos fazer concessões. Não se alie a Netanyahu para colocar-nos contra a parede, porque as escolhas que temos são limitadas e claras. É isso o que quer?”

A declaração, citada pelo jornal israelense Ha’aretz, também rechaça as duras posições de Netanyahu após o seu encontro com Obama, o que mostra que o comprometimento das autoridades israelenses com as negociações não existe. Além disso, o texto alerta para as graves implicações do fracasso nas negociações, já estagnadas há meses, enquanto aproximam-se do prazo final, em abril.

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“Depois de 20 anos negociando, você não se convenceu de que Israel não está interessado na verdadeira paz e o sonho pela paz está desvanecendo lentamente, substituído pelo pessimismo enquanto a solução de dois Estados está evaporando,” afirma a declaração da AP, referindo-se ao projeto que conta com o consenso internacional para a resolução do impasse de mais de seis décadas, ou seja, a garantia do estabelecimento do Estado palestino, ao lado do israelense.

Desde o início da década de 1990, um processo de paz com diversos períodos de negociações tem estabelecido acordos interinos e planos de solução variados que, até hoje, só resultaram na institucionalização da ocupação israelense –  através da divisão dos territórios palestinos em zonas de controle, em que a maior parte da Cisjordânia é administrada militarmente por Israel – e em episódios trágicos de violência, pelos quais as autoridades israelenses continuam impunes.

Extensão das negociações e plano de acordo

Obama declarou que a proposta dos EUA é a extensão das negociações entre israelenses e palestinos, que devem aceitar um plano com tópicos centrais a serem discutidos, com vista a alcançar um acordo definitivo. Ele disse que este tema será debatido com Abbas quando os dois presidentes reunirem-se, em 17 de março, em Washington.

Entretanto, outros pontos específicos contemplados na proposta estadunidense – como a exigência de um Estado palestino desmilitarizado e ocupado por tropas israelenses feitas pelo governo de Netanyahu – são exemplos das "concessões" e as "decisões difíceis" esperadas dos palestinos.

Desde o início do novo período de conversações, os diplomatas e o povo palestino, em manifestações nas ruas, rechaçavam a ideia de perpetuar a discussão sobre a sua situação, enquanto a ocupação se expande, e a assinatura de outro acordo provisório, como os da década de 1990, que deveriam ter sido resolvidos ainda antes de 2000.

O chefe da equipe palestina nas negociações, Saeb Erekat, disse que ainda não recebeu o quadro de acordo que os EUA dizem propor. Erekat está em Washington, em reunião com diplomatas estadunidenses envolvidos no processo.

Netanyahu também visitou o país e deu declarações em que culpa os palestinos pela falta de avanço, por exemplo, com a recusa de reconhecimento de Israel como “Estado judeu”, um novo obstáculo e uma premissa racista imposta ao processo por seu governo.

Israel quer transferir a culpa pelo fracasso

Nabil Shaath, ex-negociador e membro Comitê Central do Fatah, partido à frente do governo palestino, disse que a exigência de Netanyahu, respaldado por grupos de extrema-direita e ortodoxos no governo, é o anúncio “de um anúncio oficial de encerramento unilateral das negociações.”

No mesmo sentido, a parlamentar palestina Hanan Ahsrawi disse que o premiê de Israel foi a Washington para “preparar-se para culpar alguém, de qualquer maneira, sem mostrar qualquer sinal de vontade de fazer a coisa certa – encerrar a construção de colônias [nos territórios palestinos], aceitar as fronteiras de 1967, reconhecer os acordos assinados, acabar com as ações ilegais e avançar. Ao invés disse, ele está reiterando sua condição ideológica de reconhecimento de um Estado judeu.”

Ao invés de reconhecer esta jogada política instrumental para a falência da diplomacia, Obama planeja estender as negociações até o fim do ano, quando apresentaria um acordo decisivo através de um documento com princípios centrais para a solução do impasse, já anunciado repetidamente.

Além disso, enquanto promete a Israel a sua aliança incondicional, inclusive durante as negociações – em uma tentativa de manter o governo israelense, profundamente dividido e também em crise constante, ao menos retoricamente dedicado às conversações – o governo estadunidense continua contemplando exigências inaceitáveis feitas pela direita racista em Israel e as posições destrutivas que determinam o ceticismo dos palestinos com relação à diplomacia.