Luciana Santos: “É o povo quem vai dizer se volto à Prefeitura”
Todo político tem seus admiradores e desafetos. E não poderia ser diferente com Luciana Santos, deputada federal, ex-prefeita de Olinda (PE), presidente eleita do PCdoB nacional. Mas é bom também saber: ela é esposa do deputado estadual Waldemar Borges, mãe de Luana, dois anos, dona de uma vida pessoal que exige muita dedicação e atenção.
Publicado 21/03/2014 11:37
Porém, mais do que falar da família e de sua educação, Luciana recebeu a equipe do Jornal de Olinda no diretório estadual do partido, com o mesmo sorriso das fotos, para falar sobre a política, sobre Olinda e sobre os projetos futuros.
Antes de ler esta entrevista, é preciso saber: Luciana é recifense, defensora de Renildo Calheiros, ativista de várias causas, inclusive o feminismo, e sonha em implantar o regime socialista no Brasil. Se interessou? Então vamos pra frente!
A relação da deputada com Olinda começa ainda na infância, quando, por conta da proximidade com as primas, passa a frequentar a cidade com bastante intensidade. Nessa época, a intimidade com a cidade já era tanta que participava de quadrilhas juninas como noiva em Ouro Preto e vivia o Carnaval intensamente.
Lá pelos idos de 1990, quando conquista sua independência financeira, vê em Olinda o seu porto seguro. Malas prontas e a partir de então não deixou mais a cidade. Foram três moradias diferentes entre Jardim Atlântico e Casa Caiada. Nesses 24 anos, o que mais viu de diferente?
“Principalmente a economia mudou muito. Atraímos muitos bancos, mercados, varejo, entre outros.” Mas também há lamentação: “é muito difícil viver e observar Olinda como eu gostaria. Passo muito tempo em Brasília e em São Paulo, por conta do meu cargo e do meu partido, mas é óbvio que Olinda é a minha casa. Quando estou por aqui, vou ao mercado, à farmácia, ando de bike. Tenho uma vida normal.”
Para a deputada, que tem uma agenda super intensa, a parte mais difícil dessa rotina é equilibrar a vida pessoal e a profissional. “Antes de a minha filha nascer era até mais tranquilo, mas depois, sempre que vou viajar sinto o peso de não dar para ela a atenção afetiva que ela merece. Mas vamos nos acostumando”, conta ela, que fez manobras para levar a pequena à Brasília no primeiro ano. Hoje, procura ficar por perto ao máximo.
Política
A política já nasceu com Luciana Santos e estava incorporada no seu íntimo antes mesmo que ela se desse conta. O pai, o ex-preso político Milton Santos, nunca deixou de ser um exemplo. Era na casa dos pais que se aproximava nas rodas de debates políticos e mergulhava de vez na política. “Eu acho que minha opção, inclusive, independe da vida pública. Eu, pessoa, acredito na transformação do mundo para um lugar melhor”, comenta. “Acreditar nisso deu sentido à minha vida. Mudar, transformar o lugar em que vivemos é o meu objetivo político. As outras coisas que faço são consequência dessa visão”, diz.
Ela também vê na política algo como um novo horizonte. Foi por conta dos cargos que ocupou que vê o mundo de uma outra maneira. Ela, que sempre foi ativista em diversos segmentos, chegou a abrir comícios de Lula em 1989, “na guela”; enquanto diretora da UNE, participou do Fora Collor e das Diretas Já; e só percebeu o denso mundo político quando, nas andadas políticas, encarou aquilo tudo como pesquisa.
A sociedade deu a ela o conhecimento real das coisas, no dia a dia, e, ao mesmo tempo, um “sentimento de liberdade ao dominar o que é essa realidade”, disse. “Dá uma dimensão diferenciada do que vivemos. Fui e vou continuar sendo sujeito ativo e parte da história”. É como uma espécie de solidariedade ao coletivo que a comove e a move.
“Senti na pele, com menos de um ano de Prefeitura, o quanto amadureci pessoalmente e profissionalmente. No meu estilo de governar, gosto de ir às ruas, ver e ouvir as pessoas. Então, vivi uma realidade que não conhecia, foi muito forte.”
Renildo
É esse estilo mais ligado no povo que ela coloca que a diferencia de Renildo Calheiros, atual prefeito de Olinda, seu sucessor, e que acumula bastante rejeição perante a opinião pública. “Ele está trabalhando, mas é muito mais reservado. É um projeto de continuidade. Renildo continua todas as obras estruturantes que, num futuro próximo, vão ser muito importantes para a cidade. Então, a leitura de que ele não trabalha é injusta.”
O problema, para ela, parte muito do fato de a renda da cidade é muito dependente dos fatores externos e de apoio do Estado e Federação. “A questão da manutenção urbana, por exemplo, é bancada com dinheiro do próprio município, que é pouco para a nossa cidade.”
Para quebrar esse ciclo, segundo ela, a melhor opção é encontrar arrecadação no segmento de serviços, como o varejo. “Temos a quinta maior densidade demográfica do país e não conseguimos acompanhar o crescimento de Pernambuco. É difícil atrair indústrias pela falta de território, então, é preciso investir na vocação dos serviços. Arrecadamos 10 vezes menos que o Recife, com um quarto da população. Então, os problemas de manutenção vão existir, mas a Prefeitura continua trabalhando. É uma questão de que as prefeituras, outras mais, outras menos, não conseguem ser independentes apenas com as arrecadações”.
E finaliza: “As pessoas confundem o fato dele não estar nas ruas com não trabalhar. Mas ele trabalha e muito.”
A partir do ano que vem, Luciana Santos sai da vice-presidência e assume a presidência do Partido Comunista do Brasil, portanto, na rota Brasília – Pernambuco entra mais um estado: São Paulo, sede do partido. A prioridade agora é tentar a reeleição para Deputada Federal, continuar a transição para a presidência e, num futuro a médio prazo, talvez voltar para a Prefeitura de Olinda.
“Não tem nada certo, tudo vai depender da conjuntura do momento, mas a maior conjuntura é o povo quem vai dizer”, brinca. A curto prazo, deve tocar os projetos na Câmara e atuar nos posicionamentos que norteiam o seu partido.
Fonte: Jornal de Olinda