Vanessa destaca simbolismo da sessão do Senado sobre Golpe de 64 

“Esta sessão carrega em si uma importância e um simbolismo muito forte para o País, para o povo brasileiro, para a nossa história, para a democracia brasileira, mas carrega um simbolismo muito forte também, para o meu Partido, o PCdoB”, declarou a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) na sessão especial que o Senado realizou, nesta segunda-feira (31), para lembrar os 50 anos do golpe de 1964. 

Vanessa destaca simbolismo da sessão do Senado sobre Golpe de 64 - Agência Senado

“O povo brasileiro nunca se conformou – tenho certeza e convicção absoluta – com o arbítrio, com a implantação da ditadura, com a cassação dos seus direitos. Fomentado e financiado pelos interesses norte-americanos, o Golpe foi a parte mais difícil e cruel de uma disputa que se arrastava desde a Revolução de 1930, a disputa entre o desenvolvimento e a subordinação ao Império, sobretudo ao imperialismo norte-americano”, avalia a senadora.

Segundo ela, o Golpe de Estado ocorrido entre 31 de março e 1º de abril de 1964, que não foi apenas militar, mas tramado também por setores da sociedade civil, foi o início de 21 anos de perseguições, torturas, das cassações, do silêncio forçado da nossa sociedade, e de achatamento de salários e da monumental concentração de renda.

Ao exemplo dos outros oradores, a senadora destacou em seu discurso que já há alguns meses, o Congresso Nacional tem procurado consertar algumas das tristes passagens da história do País, como a recente anulação da sessão que declarou vaga a Presidência da República e a consequente perda do mandato do Presidente que foi democraticamente eleito pelo povo brasileiro, João Goulart.

A senadora destacou que na época do golpe, ela, como uma geração inteira, era criança, e só percebeu o que se passava no país quando chegou à vida adulta. “Esse reparo histórico tem um simbolismo de também reparar um pouco da história de milhões de brasileiros que tiveram os seus próprios direitos cassados naquela noite”, disse Vanessa, acrescentando que “cassados não foram só os que viviam intensamente a política daquela época, mas aqueles que foram impedidos de viver”.

O pedido para a sessão foi feito pelo senador João Capiberibe (PSB-AP), ele próprio vítima dos anos de chumbo. Segundo o senador, é preciso que os fatos acontecidos a meio século sejam lembrados e repudiados, “para que os jovens nascidos na democracia conheçam a história do seu país e contribuam para o aperfeiçoamento dela”.

Reformas de base

À frente do país, João Goulart, em 13 de março de 1964, em comício no centro do Rio de Janeiro, diante de cerca de 150 mil pessoas, defendeu as reformas de base. Eram mudanças profundas nas legislações bancária, fiscal, urbana, eleitoral, agrária e educacional. Jango defendia ainda o direito de voto para os analfabetos e para os militares de patentes inferiores.

Segundo ele, quem estava contra as mudançasestava contra o povo. Em resposta, os conservadores promoveram no dia 19 de março a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. As estimativas variam, mas calcula-se que aproximadamente 500 mil pessoas tomaram as ruas de São Paulo para gritar contra "a ameaça comunista".

A partir daí a tensão política somente se agravou, até o dia 31 de março, quando o general Olímpio Mourão Filho iniciou a movimentação de tropas de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro. Começava o Golpe.

No dia seguinte, em Brasília, em uma sessão tensa, o Congresso discutiu a deposição do presidente constitucional. A luta entre golpistas e janguistas, entrou pela madrugada e terminou com a chancela do Legislativo à ruptura democrática: o presidente do Congresso, Auro de Moura Andrade, declarou vaga a Presidência da República, com o argumento de que João Goulart havia deixado o Brasil. Jango, no entanto, estava no Rio Grande do Sul.

O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumiu a Presidência, à espera do primeiro general-presidente. Em 9 de abril, uma junta formada pelos chefes militares baixou o primeiro dos atos institucionais — instrumentos que davam aparência legal ao regime ditatorial — suspendendo por dez anos os direitos políticos dos opositores e instituindo eleição indireta para presidente da República. Ainda em abril, o marechal Castello Branco foi empossado presidente. Tinha início o maior período de supressão de liberdades políticas da história moderna do Brasil.

De Brasília
Márcia Xavier
Com Agência Senado