Ditadura militar não pode ser esquecida pela sociedade

Neste 1º de abril, familiares de vítimas, ex-presos políticos e integrantes de movimentos sociais estiveram reunidos no Forte do Barbalho, em Salvador, no ato político Viva a liberdade – Bahia, tortura nunca mais. Um dos objetivos do evento foi o de fazer com que a sociedade não se esqueça dos assassinatos, torturas e crimes diversos que aconteceram durante o período da ditadura militar no país.

Para Diva Santana, que é vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais e conselheira da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Lei 9140/95, o evento foi realizado para que as pessoas tenham consciência do que aconteceu durante o regime militar. “O Forte do Barbalho é um dos marcos das prisões e torturas da ditadura, onde ficavam os presos políticos na Bahia. A repressão da ditadura foi algo muito forte e que deixou marcas visíveis até hoje em muitas famílias.”

Diva é representante de uma das várias famílias que foram marcadas pelo regime militar. “Minha irmã Dinaelza Santana Coqueiro e meu cunhado Vandick Coqueiro são desaparecidos políticos. Eram estudantes e militantes do movimento estudantil. Com o golpe, eles fugiram e viveram em um local que não sabíamos para preservar suas vidas e dos familiares. De lá, eles continuaram lutando. A casa de minha mãe era vigiada. Recebemos uma carta dela em 1971 e só em 1979, com o advento da Lei da Anistia, começamos a ter notícias de que eles estavam no Araguaia.”

Para a militante dos direitos humanos, a ditadura militar foi derrotada. “Apesar dos mortos e desaparecidos, apesar da repressão que se abateu sobre a população com quase 50 mil pessoas perseguidas, o regime sucumbiu. E nós vencemos os militares através do voto. Mas, infelizmente, ainda resta muito entulho da ditadura em nossa sociedade e precisamos cada vez mais buscar a democracia”.

Já para Ana Guedes, conselheira da Comissão Nacional de Anistia do Ministério da Justiça e diretora do Grupo Tortura Nunca Mais, o ato é envolto em um significado especial, já que lembra os 50 anos do golpe militar e é um momento de reflexão. “A memória não pode ser esquecida porque não é uma coisa do passado somente, a memória se projeta para o futuro. Ao relembrar, nós não permitiremos que nunca mais aconteçam coisas como as realizadas com o golpe de 1964.”

Segundo Ana, o intuito dos movimentos sociais organizados e das diversas iniciativas que acontecem em todo o país neste período é o de implantar uma soberania popular forte no Brasil e avançar no processo democrático, que ainda é bastante frágil no país.

De Salvador,
Ana Emília Ribeiro