Militante palestina afirma resistência e luta pela libertação

Leila Khaled integra a Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP) e ficou conhecida por seu papel na resistência, com a tomada de um avião, em 1969. Ela foi detida e torturada pelas forças israelenses junto com o companheiro nicaraguense Patrick Arguello, quando tentavam repetir a ação em 1970, e Leila viu Arguello ser executado. No início do mês, a militante, hoje parlamentar, deu uma entrevista a Frank Barat, para o coletivo Le Mur a des Oreilles (“O Muro tem Ouvidos”).

Leila Khaled FPLP - Revolutionary Lives

A história de Arguello é contada por Leila Khaled em seu livro “My People Shall Live” (“Meu Povo Deve Viver”), publicado em 1971, com outros episódios da resistência palestina contra a expansiva ocupação israelense.

No início do mês, Leila disse que considera a Palestina “o paraíso”, quando concedeu uma entrevista ao jornalista Frank Barat, que também organizou o livro “Gaza em Crise: Reflexões sobre a Guerra de Israel contra os Palestinos”, com entrevistas e contributos do linguista e crítico do imperialismo, Noam Chomsky, e do historiador israelense Ilan Papé.

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Para a parlamentar palestina, atualmente residente em Amã, capital da Jordânia, sua vida é a luta pela liberdade, pelo direito dos refugiados ao retorno e por um Estado independente, com Jerusalém como capital. Ela é a chefe do Departamento de Refugiados do Direito ao Retorno da FPLP na Jordânia, onde vivem milhares de palestinos nesta condição.

Frank Barat ressalta que Leila é uma entre seis milhões de refugiados palestinos, e pergunta sobre os seus planos de retorno, sobre as difíceis condições dos refugiados no Líbano e a sua distribuição entre os países vizinhos da Palestina. A parlamentar responde que os palestinos no Líbano foram centrais para a resistência armada da década de 1970 e 1980, o que impulsionou os ataques e as invasões israelenses a este e outros países.

“A questão dos refugiados, nas negociações, tem, na última década, se tornado cada vez mais obsoleta, algo que já não é o direito inalienável, mas que pode ser negociado. Isto se aplica à última rodada, as ‘negociações do [secretário de Estado dos EUA, John] Kerry’,” indica Barat. “O que acha que acontecerá após 29 de abril, quando as negociações devem terminar?”, indaga.

Refugiados, prisioneiros, ocupação e resistência

Leila responde que a FPLP tem se colocado contra as negociações desde 1991, quando a liderança “escolheu avançar nos Acordos de Oslo, pensando que este era um passo adiante para conquistar os principais direitos dos palestinos. Algumas pessoas acreditavam nisso, mas descobriram, depois de 20 anos, que era loucura.Isso nos trouxe a catástrofe. Há mais colônias [israelenses em território palestino] do que nunca, duas vezes mais do que antes de Oslo, o número de colonos dobrou, mais terra está sendo confiscada e, claro, o muro [projetado para isolar a Cisjordânia, com uma extensão de 800 quilômetros] foi construído.”

“Israel é um Estado de apartheid,” continua Leila. “Estas negociações, agora, servem para ajudar Israel, e não aos palestinos. Já experimentamos o que Israel quer dizer com [a palavra] negociar. Israel nunca respeita suas promessas, suas obrigações, e simplesmente continua com o seu projeto de tornar as vidas dos palestinos um inferno.”

A parlamentar também falou dos prisioneiros que o governo israelense comprometeu-se a liberar, mas reteve a última fração de uma lista de 104 nomes. “Aliás, estas pessoas que são libertadas são frequentemente presas novamente logo depois, de qualquer forma.” Leila refere-se a casos passados de acordos com Israel para a libertação de grupos específicos, que geralmente são presos novamente em pouco tempo. A própria parlamentar foi libertada em um destes casos, mas deixou os territórios ocupados.

“Acho que devemos, primeiro, considerar a natureza do Estado de Israel. Em segundo lugar, temos de entender mais sobre seus projetos e planos. Depois, sabemos que os israelenses são muito mais poderosos que nós em alguns aspectos. Mas nós também somos. Tudo depende do nosso povo. Temos a vontade para enfrentar os desafios que os israelenses estão colocando diante de nós.”

“Ainda acreditamos que este é o nosso direito e que temos que lutar por ele. Temos lutado, estamos lutando e continuaremos lutando. De uma geração para outra. A liberdade precisa de um povo forte que lute por seus sonhos,” continua Leila. “Não acredito que haverá um acordo neste momento. Os Estados Unidos sempre querem prolongar as negociações, e isso não vai ajudar.”

A parlamentar responde a Barat qual seria a alternativa: “Resistir! É assim que se alcançam direitos, como um povo. A história nos mostrou isso. Nenhum povo alcançou a sua liberdade sem luta. Onde há ocupação, há resistência.”

Com Le Mur a des Oreilles,
Moara Crivelente, da Redação do Vermelho